Elas têm capacidade de identificar uma pessoa a 400m de distância. Instaladas em pontos estratégicos, as câmeras de segurança de Sobradinho, Ceilândia e do Plano Piloto deveriam ajudar a combater e a prevenir crimes. Poderiam ser aliadas dos policiais na ação de flagrantes e na prisão de bandidos. Mas, apesar do gasto inicial de R$ 450 mil na implantação do sistema em cada uma das três cidades, todos os 35 avançados equipamentos tecnológicos estão desativados, há dois anos.
Os olhos eletrônicos eram promessa de governo dos últimos seis anos. Após a instalação das primeiras 13 câmeras de monitoramento no centro comercial e nas principais saídas de Sobradinho, em dezembro de 2005, a Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan) ; à época comandada por Durval Barbosa, delator do esquema de corrupção que deu origem à Caixa de Pandora ; resolveu estender o projeto para dezenas de regiões administrativas. A ideia era manter a segurança dos moradores 24h por dia.
O ;sucesso; conquistado com a redução da criminalidade na cidade serrana era o indicativo para a extensão do projeto. Pelas planilhas da Secretaria de Segurança Pública, os índices de furtos e roubos teriam despencado após o monitoramento eletrônico constante da Polícia Militar do Distrito Federal nas ruas. A partir daí, o sistema chegou em Ceilândia. A cidade também ganhou 13 equipamentos que acabaram instalados na região central. ;Tínhamos uma sensação de segurança. Não se via bandidos nas ruas porque eles ficavam intimidados com as filmagens;, recorda-se o comerciante do Setor Leste Marcos Aurélio Gomes Batista, 37 anos.
Na área central de Brasília, duas câmeras foram colocadas nos dois principais prédios ao redor da Rodoviária (Conic e Conjunto Nacional) e monitoravam diariamente a área da Torre de Televisão até a Esplanada dos Ministérios. Não havia criminoso que passasse despercebido pelo avançado sistema Domus (que girava 360 graus). Outros sete equipamentos faziam a vigilância na Rodoviária do Plano Piloto e mandavam as informações em tempo real para policiais capacitados que monitoravam os computadores e o telão dispostos no próprio terminal e na Central Integrada de Atendimento e Despacho (Ciade) da Polícia Militar. Bastava identificar uma infração pelas imagens que outros militares eram rapidamente convocados para impedir o crime.
Expansão
No combate à violência, nascia o Big Brother Brasília. As próximas áreas beneficiadas seriam Sudoeste, Octogonal e Cruzeiro, com 35 câmeras em 25 pontos da região. Os aparelhos ficariam em locais estratégicos, como entradas e saídas das três cidades, e o monitoramento seria concentrado em pontos de grande fluxo de pessoas, como os centros comerciais. A previsão era para março de 2006 e na fila de espera estavam Taguatinga, Park Way, Candangolândia e Núcleo Bandeirante. Essas nunca saíram do papel.
Em 2008, uma última e audaciosa promessa fora lançada à população. À época, foi anunciada a instalação de 900 câmeras de vigilância nas áreas mais populosas do DF, até 2010. Dessas, 300 seriam espalhadas pelas ruas do DF e postos comunitários ainda naquele ano. E, na última etapa do projeto, haveria a colocação de computadores de bordo e GPS em 300 carros policiais. Desde então, a Ciade passou a controlar também as imagens geradas por 13 equipamentos em Ceilândia e 13 em Sobradinho.
A unidade recebia chamadas de emergência e as direcionava às polícias e equipes de socorro, num sistema unificado. A primeira etapa de melhorias na Ciade ; que incluiu as novas instalações, o programa unificado de computador e o maquinário ; custou R$ 4 milhões. Mas o governo calculava gastar mais de R$ 20 milhões. De todo o investimento, o que restaram foram as câmeras da Rodoviária do Plano Piloto, desativadas desde 2009.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Eficazes, mas em ações conjuntas
;A câmera sozinha não resolve se não houver a ação de policiais nas ruas. O sistema funciona quando as pessoas que monitoram têm uma comunicação rápida com o policial que está em campo. Nesses casos, os equipamentos de segurança são uma experiência de sucesso. Mas, para isso, as câmeras precisam ser acompanhadas de uma infraestrutura em que a pessoa que pensar em infringir a lei vai ter a expectativa de que a polícia pode chegar naquele momento. Isso implica que se tenha uma central capacitada formada com um corpo técnico qualificado e quando há essa comunicação com o campo, há a redução de crimes, de delitos nas ruas.;
Marcelle Figueira, consultora e coordenadora do curso de segurança da Universidade Católica de Brasília