O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou na noite desta quarta-feira (16/3) que o Ministério Público (MP) só teve acesso a vídeos gravados pelo ex-secretário de Relações Institucionais do DF, Durval Barbosa, o delator do mensalão do DEM, "nos momentos que antecederam a deflagração da Operação Caixa de Pandora", que ocorreu em novembro de 2009. As fitas mostram autoridades, como o ex-governador José Roberto Arruda e ex-deputados distritais, recebendo dinheiro de Durval, em 2006.
Questionado sobre o risco de Durval perder a delação premiada, o procurador-geral foi incisivo ao dizer que as gravações não podem ser entregues a "conta-gotas", como ocorreu no caso do vídeo divulgado no último dia 4 em que a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) e o marido, Manoel Neto, recebem R$ 50 mil. "Na verdade, ele tem a obrigação de entregar o todo o material que ele tenha de uma só vez. A partir do momento em que ele estabelece uma entrega, digamos em conta-gotas, ele está sim rompendo os termos do acordo", alerta Gurgel. "O Ministério Público não será instrumento de um tipo de conduta que não parece conveniente à Justiça, mas sim a outros interesses e a interesses certamente escusos", completou.
[SAIBAMAIS]Gurgel negou que o MP tenha tido acesso a alguns vídeos em 2006, como sugeriu Durval, em gravação divulgada hoje pelo site do jornal "O Estado de S. Paulo". Na conversa com empresária Cristina Bonner, dona da empresa de informática TBA, investigada na operação Caixa de Pandora, o delator do mensalão do DEM diz que cópias dos vídeos estavam em poder de um sobrinho dele no Ministério Público e de desembargadores "meus amigos".
"Eu tenho certeza que, pela atuação que tem havido extremamente firme seja do MPDFT seja do MPF, que isso não se verificou. Se tivesse se verificado, seria uma falta funcional não há dúvida", afirmou Roberto Gurgel.
Responsável pelas investigações da Operação Caixa de Pandora, a subprocuradora-geral da República, Raquel Dodge, destacou hoje que a denúncia está perto de ser apresentada, embora não tenha fixado prazo. "Nós estamos trabalhando neste momento nessa denúncia. Examinando minuciosamente toda prova existente, para que a gente consiga formular a denúncia possível perante o STJ. Não existe prazo. Eu estou exatamente nesse momento examinando esse assunto", disse.
Segundo Raquel Dodge, a maior dificuldade é "examinar com cuidado" o amplo conjunto de provas contra diversas pessoas. "Temos que apresentar essa denúncia à Justiça com todo o cuidado possível que permita a punição dos culpados", afirmou.
Em relação ao vídeo divulgado hoje, a subprocuradora afirmou não ter notícia de que alguma gravação tenha sido entregue em 2006. "Não li a notícia. Mas tudo o que foi entregue ao Ministério Público está nos autos do processo e é o que vai ser examinado. Não tenho notícia de entrega em 2006,"
Questionada se haveria punição a algum eventual membro do MP que tenha recebido alguma gravação, Raquel Dodge respondeu que não falará sobre hipóteses. "Falo sobre aquilo que tenho que examinar no processo. Prefiro não me manifestar sobre especulação", disse. Quanto a possível existência de outros vídeos, ela preferiu não comentar. "Essa questão do acervo existente de vídeos está sendo examinada exatamente nesse momento e prefiro não adiantar nenhuma conclusão a respeito disso", observou.