A deputada federal Jaqueline Roriz (PMN) enfrentará dificuldades para permanecer no cargo. Depois do carnaval, o PSol ingressará no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados com denúncia de quebra de decoro contra ela. Além de requerer a abertura do processo de cassação, a legenda pedirá o afastamento imediato da parlamentar da comissão da reforma política. O partido da deputada também se reunirá na próxima semana a fim de definir as medidas cabíveis para o caso.
O presidente regional do PSol, Antônio Carlos de Andrade, o Toninho, considera as imagens gravíssimas e suficientes para a cassação. Para ter validade legal, o processo será assinado pelo deputado Chico Alencar (PSol). No entanto, ele terá de esperar pela formação do Conselho de Ética. Nem todos os partidos indicaram os membros, o que impossibilita o início dos trabalhos. O atual presidente do Conselho, deputado José Carlos Araújo (PDT-BA), acredita que isso pode acontecer na semana seguinte à do carnaval. ;Queremos reformular o Conselho para que tenhamos novas regras;, afirma.
Um dos debates sobre a possibilidade de cassação se deve à data da gravação. Jaqueline recebeu o dinheiro de Durval Barbosa na campanha de 2006, quando concorria a uma vaga de deputada distrital, ou seja, quatro anos antes de se lançar à Câmara dos Deputados. ;Ninguém pode dizer que pode ou não (abrir o processo) antes de analisarmos os fatos e verificarmos como isso se encaixa no regimento interno;, pondera Araújo. Nesse sentido, o presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS), disse que vai pedir as informações sobre as denúncias ao Ministério Público.
Para Toninho do PSol, Jaqueline iniciava a vida política na época do ocorrido e, por isso, deve responder por quebra de decoro. ;Não sou jurista, mas do ponto de vista político não existe temporalidade para questões éticas. Pouco interessa se foi há seis meses ou há 10 anos, o que não pode é existir uma parlamentar nessa situação;, diz o ex-candidato ao Governo do DF. A opinião é reforçada pela deputada Erika Kokay (PT-DF). Para a petista, a conquista do mandato na Câmara dos Deputados teve como variável a atuação de Jaqueline como distrital. ;Existe sustentação para apontar a condição fraudulenta. Agora, cabe a nós analisar os instrumentos para fazer essa investigação;, afirma.
Por sua vez, o deputado federal Augusto Carvalho (PPS) acredita que o caso merece uma avaliação mais detalhada. ;Como o fato é pregresso, não sei se ele pode repercutir no atual mandato;, questiona. Segundo ele, a novidade se deve ao fato de ser a primeira vez que aparece vídeo de alguém ligado ao ex-governador Joaquim Roriz (PSC).
Na avaliação de Erika, a demora na exibição das imagens beneficiou a deputada, uma vez que os outros distritais denunciados tiveram de deixar a carreira política devido às denúncias, por meio de renúncia de mandato ou por cassação. ;Ela iria sofrer o mesmo que os outros, porque estava na mesma condição. Agora, de forma injustificada, foi poupada de um processo por algum motivo que ainda não foi dito;, critica Erika Kokay.
Partido
Segundo o vice-presidente regional do PMN, Cléber Pires, a legenda não irá compactuar ou encobrir os atos da filiada. O partido ainda não se reuniu para definir o caminho que será dado ao caso de Jaqueline, mas ele acredita que isso deverá acontecer até quinta-feira. ;A informação é grave e vamos tomar as providências cabíveis para dar uma resposta à sociedade;, afirma. Ele lembra, ainda, que na campanha de 2006 a filha de Roriz representava a legenda tucana. ;Todos esses fatos são lamentáveis, mas esperamos que a deputada venha a público para apresentar a explicação;, comenta Márcio Machado, presidente do PSDB-DF.
Machado afirma que o partido nunca teve conhecimento do repasse de dinheiro e que a saída de Jaqueline do PSDB não teve relação com nenhum caso de irregularidade. Segundo o tucano, a deputada deixou a legenda no início de 2009 a fim de ampliar a base política do pai. Já a distrital Liliane Roriz (PRTB), irmã mais nova de Jaqueline, responsabiliza o cunhado, Manoel Neto, pela negociação com Durval. ;Tem de perguntar tudo para ele, que levou ela (Jaqueline) lá, pegou o dinheiro e guardou na mochila;, diz.
Outros representantes do DF no Congresso Nacional lamentam o surgimento do novo vídeo e pedem pelo aprofundamento das investigações. ;Pensei que essa novela estava no capítulo final. Isso é muito ruim para Brasília;, diz o deputado Izalci Lucas (PR). ;Fica claro que ainda não veio tudo à tona. É importante que o Ministério Público e a Polícia Federal finalizem logo toda a apuração;, afirma o senador Rodrigo Rollemberg (PSB). Para o senador Cristovam Buarque (PDT), até que o processo seja encerrado, os políticos que tiveram algum tipo de contato com Durval viverão sob pressão. ;Enquanto não se obrigar Durval a mostrar tudo o que tem, muita gente não conseguirá dormir tranquila.;
Outras ações
O PSol é autor de importantes representações contra a família Roriz. Em 2007, o partido entrou com processo por quebra de decoro contra o então senador Joaquim Roriz, que se envolveu no escândalo conhecido como ;Bezerra de Ouro;. Na eleição do ano passado, Toninho pediu a impugnação da candidatura do ex-governador para o Palácio do Buriti com base na Lei da Ficha Limpa. Roriz mais uma vez fugiu da disputa e trocou de lugar com a mulher, Weslian Roriz (PSC), derrotada no pleito.