Os problemas do Shopping Popular de Brasília estão com os dias contados. Ontem, um cronograma de ações foi aprovado por deputados distritais, donos de bancas e autoridades do Executivo para organizar a execução de medidas saneadoras no local. O Governo do Distrito Federal (GDF) terá um mês para apresentar alternativas concretas de melhoria da gestão e do funcionamento da feira, marcada por protagonizar um esquema de corrupção e venda ilegal de boxes. Em dois meses, os técnicos do governo terão que concluir levantamento sobre a situação dos permissionários e também de quem ocupa irregularmente o espaço. A partir de junho, está programada a instalação de unidades de serviço público, como postos de atendimento do Detran e do Na Hora. A ideia é estimular a circulação de pessoas e, assim, aumentar o movimento no comércio.
Os prazos foram definidos na manhã de ontem durante audiência pública realizada na Câmara Legislativa com o objetivo de debater a situação do Shopping Popular, localizado ao lado da antiga Rodoferroviária do Plano Piloto. Reportagens publicadas pelo Correio em novembro de 2010 revelaram a atuação de uma quadrilha responsável por comercializar irregularmente as bancas ; cujos valores variavam entre R$ 6 mil e R$ 80 mil ; e cobrar propina para fazer a intermediação do negócio (Leia Memória). Caio Donato, ex-presidente da Associação dos Feirantes do Shopping Popular, é apontado como o chefe do grupo. No último dia 22, ele prestou esclarecimentos à polícia por, supostamente, ter ameaçado feirantes que ainda não quitaram dívidas da compra ilegal dos boxes. Desde a divulgação das denúncias, a administração da feira está sob intervenção do GDF.
A Coordenadoria das Cidades ; órgão vinculado à Secretaria de Governo ;, a Secretaria de Segurança e Ordem Pública, a Administração de Brasília e o Banco de Brasília (BRB) prometeram estudar medidas para os problemas listados pelos feirantes presentes na sessão. A inutilização de alguns boxes, o reduzido número de compradores, o refinanciamento de dívidas tributárias, assim como as condições precárias de higiene e de manutenção predial foram alguns dos assuntos tratados.
Propostas
Em 30 dias, cada representante público terá que elaborar propostas, que serão apresentadas em uma próxima reunião, marcada para ocorrer no próprio Shopping Popular. O cronograma sugerido pelo deputado Chico Leite (PT), autor da convocação da audiência pública, foi acatado por unanimidade. ;O prazo é para que as autoridades tragam soluções. Não adianta o BRB liberar crédito para o feirante se ele não tiver para quem vender e honrar o compromisso com o banco;, afirmou o distrital.
O superintendente do Banco de Brasília, Humberto Augusto Coelho, disse que há planos de ampliação da atual agência da instituição na feira. Ele garantiu ainda que uma nova linha de crédito para os comerciantes, com juros subsidiados e mais baixos do que os aplicados atualmente, será aberta. ;Temos interesse de colocar um BRB Conveniência no local e queremos abrir diálogo para renegociar as dívidas e facilitar a captação do crédito.;
O responsável pela Coordenadoria das Cidades, Francisco Chagas Machado, salientou que o governo pretende oferecer melhores condições de trabalho aos feirantes A instalação de órgãos do GDF no local é uma das ações em andamento. A intenção é atrair a clientela e dinamizar o comércio, tido como pífio na área. ;Uma feirante me contou que, desde 24 de dezembro do ano passado, não faz nenhuma venda;, relatou o distrital Chico Vigilante (PT).
Machado adiantou que a unidade do Detran do Setor de Indústrias Gráficas (SIG) deverá ser transferida para o estacionamento do Shopping Popular. ;O órgão já mandou solicitar o terreno;, disse ao Correio. Com isso, serviços como vistoria de veículos e emissão de documentos serão oferecidos no local. O governo estuda ainda a instalação da Junta Militar e de um posto do Na Hora no espaço.
Possíveis remanejamentos da localização dos boxes e a seleção de novos permissionários poderão ser realizados após a conclusão do levantamento que reunirá as informações sobre os ocupantes das lojas. O interventor e administrador da feira, tenente Jorge Oliveira Braga, disse que o trabalho começou a ser feito há 10 dias. Ele informou que, até o momento, a maior dificuldade é o acesso a documentos oficiais capazes de comprovar a concessão do benefício dada pelo governo, como o recibo do sorteio das bancas. ;Alguns possuem 10 boxes e não têm como comprovar a concessão;, contou. Ele terá mais 60 dias para finalizar o levantamento.
Baixa ocupação
Estudo feito pelo governo, em outubro do ano passado, no Shopping Popular, constatou que apenas 50 boxes estavam em funcionamento. Dois meses depois, 1.225 bancas passaram a ser ocupadas, número que se mantém até o momento. Durante o levantamento, foram encontradas 121 lojas lacradas. Os espaços devem ser repassados a outros comerciantes interessados em ocupar vaga no local.