Durante o ensino médio, a grande aspiração da maioria dos estudantes é entrar em uma universidade. Esse sonho foi realizado por alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal. O Centro de Ensino Médio Setor Oeste (Cemso) aprovou 47 alunos na Universidade de Brasília (UnB), além de seis em outras federais importantes do país, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), e quatro alunos especiais em faculdades particulares. A escola é vista como referência para a rede pública. O resultado é o recorde de aprovação em números absolutos entre as unidades públicas de ensino.
O diretor do Cemso, Augusto de Sousa Neto, lembra que, para alcançar esse índice de aprovação, foi feito um longo trabalho de resgate e do projeto político pedagógico da escola. ;O Setor Oeste foi fundado em 1986 com o objetivo de dar igualdade aos alunos da rede pública na hora da concorrência com os da rede privada. Tivemos altos e baixos, mas agora conseguimos entrar nos trilhos;, afirma. Segundo o professor, a preparação é feita com simulados desde o primeiro ano do ensino médio.
Estrutura
Mesmo com esse sucesso, a escola ainda enfrenta problemas estruturais, como a falta de um ginásio de esportes ou de um auditório. A caixa d;água é do ano da fundação e também não há laboratório. ;Poderia ser melhor, ainda falta investimento. Mas, mesmo assim, a gente está em êxtase;, comemora o diretor. Ele conta que o trabalho tem sido reconhecido na comunidade e que recebeu quase 100 pais por dia no período de matrículas procurando vagas para seus filhos na escola.
Bárbara Alcântara Villapouca, 17 anos, conseguiu uma vaga em ciências biológicas na UnB. Ela cursou o ensino médio no Cemso, mas, antes disso, estudou até o 8; ano do ensino fundamental em uma escola particular. A mãe é professora e o pai está desempregado. A família optou por transferi-la para uma escola pública por dificuldades financeiras, mas Bárbara não se queixa. ;Eu até prefiro ter mudado. Aqui é outro universo, a gente sente mais de perto a realidade e essa escola é a melhor pública do DF;, compara.
Nem todos os alunos tinham a segurança de Bárbara. Brenda Borges, 17 anos, chegou a pagar três meses adiantado em uma faculdade particular por não acreditar que conseguiria uma vaga na UnB. ;O ensino é excelente, mas não tem estrutura, mesmo a escola tendo um nome e tanto;, diz a caloura de geofísica, referindo-se à faculdade privada. Douglas Gabriel Magalhães, 18, só ;desconfiava que ia passar.; Foi aprovado para o curso de terapia ocupacional, tanto pelo PAS quanto pelo vestibular. Mesmo tendo mais três irmãos mais velhos, ele é o primeiro da família a conquistar uma vaga em uma universidade federal. ;Minha mãe ficou mais feliz que eu, com um sorriso no rosto por uma semana.;
Superação
Orgulho também sentiram o o diretor, os professores e os alunos do Centro de Ensino 3 de Brazlândia. A escola atende a população mais carente da cidade e ainda assim conquistou o seu espaço na UnB: sete alunos foram aprovados somando PAS e vestibular. Para o orientador pedagógico Josué Sene Capuchino, esse número renova a esperança e a autoestima de toda a comunidade. ;Tanto os alunos quanto a escola passaram a acreditar mais que nós também somos capazes;, destaca.
A falta de esperança era tamanha que Aurélia Santos Carvalho, 17 anos, nem se preocupou em procurar seu nome na lista dos aprovados publicada no dia 4 último. Só ficou sabendo que havia conquistado uma vaga no curso de letras /espanhol na UnB porque a reportagem do Correio entrou em contato com a escola para reunir todos os aprovados. ;Quase que eu perco a minha vaga;, conta. Filha de uma servente e de um pedreiro, Aurélia diz que sua maior dificuldade foi o pouco acesso a publicações especializadas.