Pacientes hemofílicos farão hoje uma manifestação em frente ao Hospital de Apoio de Brasília, para exigir que a entrega de medicamentos seja feita de forma mais fácil e rápida. De acordo com os doentes, a Secretaria de Saúde estaria promovendo um racionamento da distribuição dos remédios de coagulação, necessários para o tratamento da hemofilia e para evitar sangramentos. Os pacientes reclamam que a Fundação Hemocentro tem liberado quantidade insuficiente do concentrado.
O professor de educação física Tiago Félix Marques, 23 anos, diz que a entrega é realizada de forma fracionada, o que obriga as pessoas a irem várias vezes ao local de distribuição. ;Eu não consegui levar a dose para usar o mês inteiro, como sempre fiz. Me entregaram medicamento para uma semana e depois liberaram para a semana seguinte. Para quem trabalha ou estuda, é muito complicado ir toda semana ao hospital porque é preciso faltar ou pedir folga no trabalho;, reclamou Tiago Félix.
O jovem descobriu a doença ainda criança e, desde então, depende do medicamento para ter um cotidiano normal. ;É um tratamento preventivo que garante qualidade de vida. Hoje, eu consigo trabalhar, mas posso ter sequelas sem o remédio. Se isso acontecer, com certeza haverá um custo bem maior para o governo por causa da internação;, acrescentou o paciente. A hemofilia é causada pela falta de uma ou mais proteínas do sangue responsáveis por estancar sangramentos, impedindo assim a devida coagulação. Portanto, qualquer corte ou acidente pode provocar hemorragia em diferentes partes do corpo. A doença é hereditária e não tem cura.
O pai de Tiago, o servidor público federal Rômulo Marques, desconfia de uma mudança no atendimento, atualmente baseado na prevenção. ;Da forma com que a entrega vem sendo realizada nos últimos meses, a gente acredita que o governo esteja querendo implantar um modelo de tratamento por demanda, depois que o paciente tiver sangramento, o que seria péssimo;, opinou.
Em nota, o Hemocentro de Brasília informou que os produtos continuam sendo distribuídos pela fundação e também pelo Hospital de Apoio de Brasília, sem interrupções. Existem em estoque 403 mil unidades do concentrado de fator 8 e mais de um milhão do fator 9. A racionalização, entretanto, tem ocorrido para evitar o desabastecimento. ;O medicamento está sendo distribuído de acordo com a necessidade de cada paciente até que o Hemocentro consiga manter um estoque estratégico;, diz a nota divulgada pela Secretaria de Saúde.
O Hemocentro também informou que fará, a partir de hoje, a atualização do cadastro dos portadores de coagulopatias hereditárias, com a finalidade de avaliar a condição clínica, laboratorial e psicossocial de cada um. A consulta deverá ser marcada pelos telefones 3327-4413 e 3327-4436. O agendamento vai até 4 de março, de segunda a sábado, das 8h às 18h. O paciente que não tiver condições de deslocamento por motivo de saúde deve informar a situação na hora da marcação, para que seja feita um visita domiciliar.
Confusos
Segundo a coordenadora do Centro de Tratamento de Coagulopatias do Hospital de Apoio, Jussara Almeida, existem aproximadamente 500 pacientes hemofílicos no DF. Ela destaca que muitos estão confusos quanto ao futuro do programa de acompanhamento dos doentes da capital do país, que é referência nacional. ;Para uns estão racionalizando e para outros, não. A gente está meio perdido. A justificativa para o racionamento é que estaríamos usando mais do que o necessário, mas pode acontecer de um hemofílico severo demandar quantidade muito maior do que um hemofílico com profilaxia primária;, explicou a médica.
Em uma tentativa de resolver os problemas de distribuição dos medicamentos e buscar melhorias no atendimento aos hemofílicos, está prevista para amanhã uma reunião com o secretário de Saúde, Rafael Barbosa, o líder de governo na Câmara Legislativa, Wasny de Roure (PT), e os diretores do Hemocentro e do Hospital de Apoio. A expectativa é de que sejam traçadas metas para a melhoria no atendimento dos pacientes.
De acordo com a vice-presidente da Associação dos Hemofílicos do DF, Kelly Tostes Messias Pereira, outra reivindicação é a descentralização do controle e da distribuição dos medicamentos pelo Hemocentro. ;O estoque está cheio, mas estão racionalizando a entrega. Esse cadastramento já aconteceu e a gente não sabe onde colocaram os dados. Por conta disso, só estão liberando a quantidade que julgam necessária. Se o médico prescreve 10 mil unidades de fator para um mês, eles distribuem apenas duas mil. A falta de medicação representa um risco de vida. É expor o hemofílico à morte;, comparou. O protesto será às 15h e o Hospital de Apoio fica na Quadra 4 do Setor de Áreas Isoladas Norte (Sain).