Jornal Correio Braziliense

Cidades

Regularização de condomínios segue parada nos cartórios

Oito em cada 10 parcelamentos erguidos de forma ilegal no DF estão em áreas particulares. Os moradores dessas localidades reclamam da burocracia e da demora para conseguirem a escritura definitiva dos imóveis

Para regularizar um condomínio, os moradores têm que elaborar projetos urbanísticos, estudos ambientais, enfrentar idas e vindas nos cartórios de registro de imóveis e vencer a burocracia dos órgãos públicos. O caminho até a legalização dos lotes e a conquista das escrituras é longo e cheio de obstáculos. Nos últimos quatro anos, 94 parcelamentos irregulares foram parcialmente legalizados no Distrito Federal ; média de 24 projetos aprovados por ano. Como 159 loteamentos estão com processo em análise no governo, seria necessário aguardar pelo menos seis anos para zerar a atual fila de espera pela regularização. Além disso, outros 260 loteamentos nem sequer têm projetos prontos, o que mostra a complexidade do problema.

Pelo menos 550 mil brasilienses vivem em condomínios construídos a partir da grilagem de terras particulares, de propriedade do GDF ou da União. Para cada um desses casos, os procedimentos e métodos são diferentes, o que muitas vezes confunde os moradores e líderes comunitários que trabalham em prol da legalização.

Os condomínios construídos em terras particulares representam 80% dos 513 parcelamentos existentes no Distrito Federal. Nesses casos, a alienação dos lotes é mais fácil, já que a negociação é feita diretamente entre o dono das terras e os ocupantes, sem a necessidade de avaliação pelo preço de mercado, como ocorre com as áreas públicas. Mas os empecilhos para o registro em cartório também são diversos, como a falta de identificação do verdadeiro dono da área.

Quantitativo
Dos 94 condomínios regularizados desde 2007, 85% estão em terras privadas. Apesar de os números demonstrarem uma participação expressiva no total de áreas legalizadas, os parcelamentos particulares são menos populosos e representam um percentual menor no montante de lotes regularizados e de pessoas beneficiadas. Em uma pequena parte do Itapoã regularizada recentemente, por exemplo, mais de 6 mil terrenos tiveram os projetos aprovados. Lá, os imóveis são públicos e abrigam mais de 26 mil pessoas.

A burocracia e as regras rígidas para registro de imóveis em regularização são algumas das principais reclamações dos síndicos. A intrincada situação fundiária do Distrito Federal complica ainda mais. Na época da criação da nova capital, centenas de hectares foram desapropriados, mas muitas indenizações não foram pagas, o que gerou discordância sobre os reais proprietários de vários imóveis. Além disso, os grileiros que atuaram livremente na cidade falsificaram documentos, muitas vezes recorrendo a cartórios de cidades do Entorno.

Com isso, fica difícil encontrar os antigos donos de algumas áreas. O cartório só pode liberar o registro quando encontra os proprietários ou seus herdeiros. Quando o espólio inclui várias pessoas, é preciso da assinatura de todas elas. Além disso, se houver divergências no projeto urbanístico aprovado, o cartório também bloqueia a emissão de escrituras.

À espera
Dos 159 condomínios que têm projetos prontos à espera de aprovação, 116 estão em terras particulares; 28 em áreas da Terracap; três são da União e 12 são desapropriadas em comum, ou seja, têm um percentual de área pública e outro de área privada.

Falta de documentação complica
Sobradinho reúne grande parte dos condomínios irregulares construídos em terras particulares. O tabelião do 7; Ofício de Registro de Imóveis e responsável pela região, Ricardo Rodrigues Alves dos Santos, conta que encontra problemas na maioria dos processos, como falta de identificação da matrícula do parcelamento ou desconhecimento sobre o real proprietário. ;Em alguns casos, a matrícula está irregular e precisa ser retificada. Esses casos são menos complicados, depende apenas do trabalho técnico, como elaboração do memorial descritivo;, explica o tabelião. ;Mas quando os ocupantes não sabem quem é o dono da terra ou desconhecem em qual matrícula está o imóvel, aí a situação é bem mais complicada porque os cartórios não podem registrar;, acrescenta.

O administrador de empresas Marcos Ribeiro, 56 anos, e a mulher, Maria Olímpia Azevedo, moram no Condomínio Quintas do Sol, na região do São Bartolomeu. Lá, os terrenos são particulares e não será necessário pagar novamente pelo lote. Marcos torce pela regularização rápida para ter a escritura do seu lote, onde vive há seis anos. ;Esse status de irregular incomoda muito.;

O Condomínio Entre Lagos, em Sobradinho, está em terras particulares e foi regularizado em maio de 2008. À época, o GDF publicou um decreto com a aprovação dos projetos urbanísticos e ambientais do parcelamento ; pré-requisitos para o registro em cartório. Mas, quase 20 meses depois, as escrituras ainda não saíram. O cartório exigiu a anuência de todos os vizinhos do parcelamento. ;Tivemos dificuldade porque havia muitas chácaras vazias e não encontrávamos os donos; reclama o síndico Adilson Barreto. Para ele, os procedimentos do cartório têm que ser simplificados.

No Condomínio Serra Azul, em Sobradinho, a situação é muito mais complexa. Ninguém sabe a quem pertencem os 50 hectares de terras ocupadas irregularmente. Morador da área e ex-síndico do parcelamento, José Guerra afirma que a orientação jurídica é para que a comunidade entre na Justiça com uma ação de usucapião. ;Só assim o cartório vai poder liberar as escrituras;, conta Guerra.

O secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Geraldo Magela, explica que estão sendo traçadas as diretrizes para acelerar o processo de regularização. Ele adianta que o Grupo de Regularização de Parcelamentos (Grupar), responsável pela análise dos pedidos de legalização, passará por mudanças. (HM)