O primeiro mês do ano veio acompanhado de forte alta nos preços da cesta básica. O valor atual atingiu R$ 255, o maior da história no Distrito Federal, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Houve um crescimento médio de 9,41% sobre os 13 produtos considerados básicos na mesa dos brasilienses. A variação é a maior desde outubro de 1994, quando foi registrado 14% de aumento. O valor também superou em R$ 21,98 o preço registrado em dezembro passado. Dentre os produtos que sofreram maior alta estão tomate, batata e a banana, com aumentos de 71,6%, 53,2% e 12%, respectivamente.
A média de preço da cesta básica ao longo de todo o ano passado, incluindo o brusco aumento no preço da carne, não superou R$ 226 ; 11,3% a menos que o registrado no último mês. Segundo o economista do Dieese Sérgio Lisboa Santos, a escalada dos preços está relacionada ao clima. ;É comum que chova mais nesta época do ano, atrapalhando as plantações e até mesmo o transporte desses alimentos. Por isso, o aumento da cesta básica nos meses de janeiro e fevereiro é sempre esperado;, explica.
O especialista acredita que pode haver uma estagnação destes valores a partir de março, quando o efeito climático terá menos influência sobre a produção. O ambulante Francisco Erenilson Carlos Nunes, de 43 anos, duvida. Para ele, a remarcação dos produtos nas prateleiras é sempre crescente e nunca favorece o consumidor. ;É assim, o salário mínimo sobe e tudo mais acompanha. Eu tenho cinco filhos, somos sete em casa. O meu mercado é feito toda semana para controlar melhor os gastos. Só em sete dias gastamos R$ 300 de alimentação. O que precisamos fazer é economizar no resto, mas ainda assim tem mês que é apertado.;
Segundo levantamento do Dieese, o aumento de renda do brasileiro possibilitou, pela primeira vez desde 1985, que o salário mínimo pudesse comprar duas cestas básicas no mês. Para a empregada doméstica Ivanilde Pinto dos Santos, de 39 anos, o dado não convence. ;Os preços no mercado subiram absurdamente. Tudo está mais caro. A solução que eu encontrei foi deixar algumas coisas para trás. A carne subiu tanto que eu só compro o que dá;, diz ela. O preço médio da carne subiu de R$ 15 passou para R$ 15,90 em apenas um mês.
Tendência
O óleo também encareceu e foi de R$ 2,61 para R$ 2,74. De toda a lista, apenas dois itens tiveram queda: o leite e o feijão, com variações negativas de aproximadamente 5%. Na opinião do professor de economia da UnB Carlos Alberto Ramos, a expectativa de queda nos preços não deve se confirmar. ;Pode haver reversão dos fatores transitórios, como a chuva. Mas mais importante que isso é a tendência de alta no mercado internacional. O clima também tem afetado a produção no mundo e a demanda está muito forte, pressionada pela Ásia. Ao lado disso, o mercado interno também aumentou o consumo, como reflexo do aumento dos salários, do emprego e do gasto público;, afirma.
O especialista acredita que a promessa de redução nos gastos da máquina pública e a elevação dos juros, pelo Banco Central, podem frear a onda crescente dos preços. Ainda assim, segundo ele, o prazo para uma mudança de comportamento, suficiente para atingir os altos valores da cesta básica, deve ser de no mínimo seis meses.
Pelas contas do Dieese, quem recebe um salário mínimo precisou dedicar 110 horas e 17 minutos da jornada mensal para conseguir uma cesta básica neste início de ano. No ranking das cidades que gastaram mais para comprar os produtos, Brasília ficou em terceiro lugar. Ao lado da capital com os maiores índices de reajuste estão Fortaleza, com 9,41%, Rio de Janeiro, com 3,94%, e Aracaju, com 3,91%. Enquanto isso, houve queda em Curitiba (-2,79%), São Paulo (-1,47%) e Recife (-0,32%).
Eu acho...
;As empresas também não estão sabendo administrar. Todo mundo sabe que chove no começo do ano, como imaginar que não vai prejudicar a plantação? Se não pensarem em alternativas, vai ser sempre assim. Também tem a inflação nisso tudo e a gente está sentindo ela chegar. Quem é humilde, de baixa renda, sempre sai prejudicado. Eu tenho um salário de R$ 750. Tire daí R$ 320 da alimentação e R$ 320 do aluguel. Ou seja, não me sobra quase nada no fim do mês;.
Fábio Santos Lemes, de 22 anos, cobrador de ônibus
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