A peregrinação em longas filas para validar a recarga do cartão Fácil Brasília Transporte Integrado ; direito garantido por lei ; continua hoje para mais de160 mil estudantes. A desorganização no atendimento e o desencontro de informações transformaram um procedimento simples em horas de tormento. Pais e alunos permaneceram toda a manhã e no início da tarde nas filas, sob chuva eventual e sol forte. Ontem, a Fácil efetuou 3,1 mil recargas, creditando cerca de R$120 mil.
No posto do Setor Comercial Sul (SCS), o atendimento ao público começou com meia hora de atraso. Um problema técnico com o sistema de internet impossibilitou a abertura das portas ao meio-dia, como estava previsto nos cinco postos: Samambaia, Gama, Sobradinho, Taguatinga e SCS. Nesse último, senhas foram distribuídas para os estudantes que aguardaram na fila. Até as 12h, pelo menos 400 pessoas esperavam sem saber se conseguiriam ser atendidas.
A estudante de direito Anne Thalita Alves Nunes, 19 anos, não resistiu ao sol quente. ;Senti um grande mal- estar. Precisei deixar a fila, sentar-me à sombra e tomar remédio para melhorar. Meia hora depois, consegui voltar à fila;, disse, frustrada com o descaso da empresa. À espera desde as 7h, a cabeleireira Adriana Braz, 34 anos, voltou para casa, em São Sebastião, sem cadastrar a filha Mariane Magalhães, 16, no sistema de bilhetagem gratuita. ;Saí de casa às 5h para garantir a inscrição dela no sistema, mas não adiantou. Eles não vão fazer novos cadastros, só recarregar;, lamentou.
Atendimento
A mudança no procedimento da Fácil começou este ano com a aprovação da Lei n; 4.494. A partir de agora, a inscrição de novos alunos no sistema deve ser feita por um órgão público. Para atender a nova demanda, o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) prometeu abrir, na próxima segunda-feira, 23 postos improvisados em regionais de ensino e administrações. ;Os estudantes não vão ficar desamparados;, garantiu Marco Antônio Campanella, diretor do DFTrans.
A corrida aos postos da Fácil começou ontem, após o governo liberar R$ 3 milhões emergenciais para garantir o acesso gratuito aos transportes . ;Com as alterações no sistema de cobrança da tarifa, os R$ 3 milhões equivalem a R$ 9 milhões;, explicou Júlio César Antunes, coordenador do serviço de atendimento ao cliente da Fácil Brasília Transporte Integrado. O artigo 2; da nova lei determina que a gratuidade concedida será custeada pelo Distrito Federal em apenas um terço. Os outros dois terços serão bancados pelo Sistema de Transporte Público Coletivo do Distrito Federal ou pelo Metrô ; ou seja, pelas empresas ;, sem aumento de tarifa.
O consultor técnico José de Maria Sousa Silva, 40anos, teme que sua filha sofra algum tipo de constrangimento ao usar o benefício na roleta do coletivo. ;O cartão dela foi abastecido apenas com R$ 54. Deveria conter R$ 162. Eles vão cobrar R$ 3 ou R$ 1 quando ela passar na catraca?;, questiona. ;Os sistemas de cobrança já estão adequados a cobrar dos estudantes nas linhas cadastradas apenas um terço da passagem, ou seja, R$1;, esclareceu Antunes.
Caso a passagem seja cobrada integralmente, o estudante deve procurar os postos de atendimento para reverter a situação. A expectativa de atendimento para hoje é de pelo menos 7 mil usuários. O número é superior ao primeiro dia porque a recepção ocorrerá das 8h às 17h. Excepcionalmente amanhã e domingo, os cinco postos abrirão às portas das 9h às 18h para fazer recargas.
O povo fala
O que você acha do atendimento da Fácil?
Izabella Deusdará,
15 anos, estudante, moradora de São Sebastião
;O sistema é demorado e sempre tem filas. Todos os anos a cena se repete. Falta agilidade. Deveriam disponibilizar mais postos para descentralizar o atendimento e não termos que nos sujeitar a este constrangimento.;
José Lucas da Costa,
48 anos, cobrador, morador de São Sebastião
;Prometeram que fariam a recarga pela internet, mas até agora não começaram. O sistema deveria ser informatizado. Não dá mais para enfrentar filas e mais filas debaixo de chuva e sol quente.;
Isaura Pereira Alves,
39 anos, diarista, moradora de São Sebastião
;A desinformação pelos próprios funcionários da empresa impressiona. A cada hora dizem uma coisa, passam uma informação diferente. Deveriam tomar as precauções antes de começar o ano letivo para não prejudicar os alunos.;
Paula de Souza,
17 anos, estudante, moradora da Asa Sul
;A metodologia da empresa ainda é muito brucrocrática. Essa sistemática faz com que as pessoas vivam esse descaso de ter que enfrentar sol e chuva. O passe livre é um direito garantido em lei, por isso deveria ser mais organizado.;