Jornal Correio Braziliense

Cidades

Acesso de carros ao estacionamento do Parque, de 22h a 6h30, será impedido

A proibição virá para tentar coibir as festas regadas a álcool, drogas e sexo que ocorrem durante a noite. Hoje, todas as correntes serão instaladas

A partir de hoje, todos os 13 estacionamentos do Parque da Cidade Sarah Kubitschek estarão equipados para ficar fechados durante a noite. A medida foi adotada pela Administração do local para coibir festas regadas a bebida, drogas e sexo que ocorrem de forma recorrente nessas áreas. Na maioria dos espaços, as correntes para impedir a entrada de veículos estavam fora de uso desde o governo passado. ;Os próprios usuários do parque quebraram;, conta o administrador do Parque da Cidade, Paulo Debois. Os eventos têm sido motivos constantes de reclamações por parte dos frequentadores e moradores da Asa Sul e Sudoeste que vivem em quadras próximas ao espaço de lazer.

De acordo com Debois, a recuperação das correntes é o primeiro passo para diminuir esse tipo de festa nos estacionamentos. ;Iremos nos reunir com a Polícia Militar e as equipes de segurança daqui para que, até o fim de semana, estejamos com o estudo contendo os estacionamentos mais problemáticos. Por enquanto, sabemos que três deles são;, adianta o administrador do parque. A previsão é de que, após o levantamento, a maioria dos estacionamentos sejam fechados das 22h às 6h30. Os que ficam próximo ao pavilhão ExpoBrasília e ao Quiosque do Atleta são duas das exceções.

Em julho do ano passado, após um movimento liderado por moradores das quadras 101, 102 e 103 do Sudoeste, o fluxo de carros dos estacionamentos 3 e 4 do parque foi proibido da meia-noite às 5h. Uma placa informando os horários foi colocada na entrada de cada uma das áreas. Debois pretende instalar sinalizações nos outros estacionamentos. ;Mas teremos que abrir uma licitação e não temos previsão para quando isso irá ocorrer;, afirma ele. ;Em novembro de 2009, entregamos um abaixo-assinado com cerca de 150 assinaturas. Lembro que, na época, uma moradora do meu prédio decidiu se mudar por conta do barulho;, afirma o proprietário de um apartamento na SQSW 102, que preferiu não ser identificado.

Na Asa Sul, a situação não é diferente. A síndica do Bloco I da SGAS 910 já perdeu as contas de quantas festas no parque ela já presenciou. Segundo Ângela Tabosa Ribeiro, 26 anos, todas as sextas-feiras pessoas ligam o som do carro em volume alto e fazem badernas. ;Teve uma vez que eu tive de chamar a Polícia Militar. Geralmente, são os próprios estudantes de universidades da região que frequentam essas festas. Um dia desses, chegamos a encontrar até camisinha e fezes humanas perto do bloco depois de uma dessas festinhas;, relata ela.

Mesmo com as reclamações feitas ao serviço 190, Raul afirmou à reportagem que os policiais não tomam medidas. ;Já liguei lá. Eles falam que nada podem fazer e que temos que registrar uma ocorrência na delegacia, mas eu não quero ir à delegacia para me expôr;, conta o bancário. De acordo com o delegado-adjunto da 1; DP (Asa Sul), Cleidiomar Mendes, não há registros de boletins de ocorrência dessa natureza na unidade policial. ;Não que eu tenha conhecimento. Mas as pessoas devem nos avisar quando encontrarem uma dessas festas para que tomemos uma providência;, frisa Mendes.

Nos últimos meses, o delegado tem tido notícias de poucos eventos nos estacionamentos do parque. ;Isso tem acabado porque estamos fazendo um trabalho itensificado com a Polícia Militar. Temos muitos registros de furtos no interior de veículos;, finaliza ele. Segundo o major do 1; batalhão de Polícia Militar Natail da Conceição, quando a equipe é acionada para esse tipo de situação, os soldados se deslocam até o local e fazem a abordagem.

Menores
No último domingo, o estacionamento que fica próximo ao Carrera Kart foi usado por cerca de 500 pessoas, entre as quais adolescentes, conforme afirmou o vendedor Leandro Rodrigues, 29 anos. ;Lotou de gente e teve muita bagunça. Vi muitos adolescentes entre 12 anos e 15 anos;, conta ele, que trabalha em um bar próximo ao local. Leandro disse ainda que os menores chegaram a tentar comprar bebida alcoólica no comércio. ;Como eu vi que eles eram menores de idade, neguei a venda. Eles até xingaram, mas foram embora. Muitos deles também vieram aqui para usar o banheiro, só que eu neguei também;.

O administrador do parque foi informado sobre o evento no mesmo dia. ;Aconteceu no final da tarde. A PM esteve lá e pôs fim aos abusos ; som alto, bebida e drogas;, informou Paulo Debois. No entanto, ele afirmou que no estacionamento havia apenas 100 pessoas. ;Eu não posso impedir que festas aconteçam aqui, só não podem ultrapassar seus direitos;, falou Debois.

O povo fala

Você é a favor das festas que ocorrem nos estacionamentos do Parque da Cidade?

Carlos Garcez, 32 anos, internacionalista
"Eu não sou contra as festas no parque, mas acho que devem destinar um local para esse tipo de prática. Até porque esses eventos ocorrem o dia todo, principalmente à noite. No estacionamento próximo ao pavilhão, nem mesmo de dia dá para crianças passarem porque, senão, elas presenciam cada cena.;

Daniel Vaz Dantas, 25 anos, estudante
;Eu sou a favor que haja o fechamento desses estacionamentos à noite. Mesmo com o policiamento no parque, essas festas não param de acontecer. E elas bombam de gente. Eu estudo para concurso e sempre deixo meu carro aqui, mas fico com receio.;

Rafael Araújo, 24 anos, advogado
;Estacionamentos não são locais para festas. Eu sou contra. O pessoal faz muito barulho e sempre tem som alto. Já encontrei camisinha. Mas eu não acho que devem fechar os estacionamentos, a não ser que isso aconteça em um horário que não atrapalhe quem realmente usa para estacionar.;

O que diz a lei

A Lei Distrital n; 4.092/08 considera poluição sonora qualquer emissão de ruído que possa ser nocivo à saúde, ao bem-estar e à coletividade. Além disso, a regulamentação limita os níveis de intensidade do som para cada área da cidade e define que estabelecimentos com nível de pressão sonora acima de 80 decibéis avisem a clientes sobre danos à saúde. Dentre outras coisas, a lei proíbe carros de som em áreas residenciais ou escolares e exige o isolamento acústico para casas noturnas. A multa para quem desrespeita a norma varia de R$ 3 mil a R$ 20 mil. A pessoa notificada ainda pode ser presa por crime de desobediência caso insista em manter o som acima de um nível aceitado para sua região.