Imagine sair de viagem e levar a casa na bagagem. Sim, a casa inteira. Cama, fogão, televisão, geladeira, banheiro. Um grupo de 80 famílias de Brasília, chamado Gaviões do Planalto, adotou o hábito de embarcar em motorhomes ; as casas motorizadas ; e percorrer várias regiões do país e locais próximos, como a Argentina e outros países da América do Sul. Para garantir que essas viagens transcorram de maneira harmoniosa e divertida para todos, os integrantes do grupo, criado há cinco anos, se organizaram em torno de uma única regra: o respeito mútuo.
Vários carros costumam pegar a estrada juntos. Na próxima semana, alguns vão retornar da mais recente empreitada dos amigos: a ida ao Peru. Os Gaviões do Planalto sempre levam uma bandeira do Brasil para os passeios ao exterior e procuram divulgar as belezas do Centro-Oeste por onde passam. ;Queremos levar informação àqueles que se propõem entrar em contato com a natureza do nosso país e com a de países vizinhos;, explicou o coordenador do grupo, Cláudio Vinício Costa Ferreira, 42 anos, funcionário público e morador da Asa Norte.
Além disso, eles divulgam por meio da internet encontros, trocando informações sobre as condições das estradas e dos campings. ;A gente tenta incluir o roteiro Centro-Oeste, em especial Goiás e o Distrito Federal, divulgando suas belezas desconhecidas, que podem ser apreciadas preferencialmente entre os meses de maio e setembro, justamente quando a chuva e o frio castigam o restante do país;, ressaltou Cláudio.
A ideia é fazer passeios familiares. Há pessoas de todas as idades entre os participantes. Cláudio, por exemplo, comprou o motorhome para ver a família, composta por mulher e dois filhos, cada vez mais integrada. Eles já conheceram quase todas as regiões do Brasil no carro, que tem dois quartos, sala, cozinha, banheiro e varanda.
O veículo tem 30 metros quadrados e é maior do que algumas quitinetes. ;Podemos carregar a TV a cabo, a cama do jeito que gostamos, ar-condicionado. Há conforto, mas não temos luxo. O conceito do grupo é que todo mundo seja igual, que no camping todos se sintam à vontade. O campismo quebra barreiras sociais;, resume o coordenador. Um carro como esses custa entre R$ R$ 30 mil e R$ 120 mil.
Criação
O grupo possui 33 veículos, entre motorhomes (casas motorizadas), trailers (rebocados) e campers (que podem ser carregados em cima da carroceria). Um dos campers foi montado pelo próprio dono, o geólogo Wilson Pereira, 65 anos, na garagem de casa. A estrutura é feita de metal por fora e de madeira por dentro. É ideal para ser carregada na traseira de picapes.
Apesar de parecer pequeno quando visto de longe, um camper conta com todos os dispositivos de uma residência comum. ;Construí há 26 anos, sozinho, com materiais que comprei. Disponibilizei o projeto para quem quiser construir um igual, no site www.picapesgm.com.br. É só clicar em dicas e depois no ícone Construa você mesmo;, ensinou.
Um dos integrantes mais ativos do Gaviões do Planalto é Neri Bottin, 64 anos, aposentado e morador do Park Way. Ao lado da mulher, Sílvia Lázara, ele vive na estrada. Juntos, eles estiveram, recentemente na Argentina, onde ficaram 90 dias. ;Rodamos 14 mil km com o motorhome e 6 mil km de jipe. Nesse tipo de viagem, fica-se em campings. O turista conhece o povo do outro país mais de perto. Vai ao mercado, faz amigos, vive a vida daquele lugar realmente;, relatou. Neri faz propaganda do Centro-Oeste. Já trouxe amigos de várias nacionalidades, como franceses e argentinos, que encontrou em viagens pelo mundo, para conhecer o DF e Goiás.
Luta
Nem tudo é perfeito. Segundo os campistas, Brasília não oferece um espaço adequado para a prática dessa atividade. ;Quando vamos a outros países, temos áreas de camping onde ficar. Aqui em Brasília, ofereço o quintal da minha casa, porque desativaram o camping;, atenta Neri. O grupo se organiza atualmente para cobrar do governo local a reativação do espaço que funcionava próximo ao Autódromo de Brasília, na Asa Norte, ou a construção de um novo camping.
A existência de um local apropriado para receber viajantes desse estilo faz parte do projeto de Lucio Costa. Construído em 1980, o camping de Brasília era tido como o maior do Brasil, com área de 177 hectares. Oferecia estrutura com banheiros, lavanderia e galpão, além das barracas e trailers. Desativado há quatro anos, não há previsão de que volte a funcionar. ;O camping de Brasília sofre uma grande ameaça de desaparecer, pois teve grande parte da destinação de sua área alterada, em virtude da especulação imobiliária e da construção do novo Setor Noroeste;, lamentou Cláudio.
Os Gaviões do Planalto preocupam-se com a chegada de grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014, quando muitos turistas serão atraídos à capital ;Não há vagas de hotel suficientes para todos. Além disso, há quem prefira o camping por estilo ou por economia. Brasília não pode ficar de fora dessa atividade, que movimenta tanto o turismo no mundo inteiro;, alerta o coordenador.
Conheça
; Para fazer parte do grupo ou obter mais informações, acesse: www.gavioesdoplanalto.com.br. Para contato, clique no ícone Fale conosco.