Montes Claros (MG) ; Os promotores do Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (NCAP), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), refizeram os passos dos agentes da 8; Delegacia de Polícia em três municípios mineiros. Alguns dos detalhes apontam para irregularidades cometidas durante a apuração paralela tocada pelos investigadores da unidade do Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA). Uma das supostas falhas foi confirmada pela polícia de Montalvânia (MG), que não sabia da prisão de um dos acusados do triplo homicídio ocorrido na 113 Sul.
O Correio levantou que dois promotores do NCAP circularam pelo interior de Minas Gerais no início de dezembro, pouco mais de 15 dias após a detenção de Leonardo Campos Alves, 44 anos. Estiveram em Montalvânia, Montes Claros e Manga (leia Onde fica) e ouviram delegados, policiais militares e testemunhas para avaliar possíveis erros na atuação dos policiais da 8; DP. Entre eles, existe a denúncia de que agiram para esconder a existência de uma mandante nas mortes dos advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Villela, 69, além da empregada da família, Francisca Nascimento da Silva, 58.
Sob as ordens da delegada Deborah Menezes, então titular da delegacia do SIA, a equipe de agentes da Polícia Civil do DF ignorou o trabalho da Corvida, responsável oficialmente pela apuração do crime, e surpreendeu Leonardo em 15 de novembro do ano passado. A prisão ocorreu em Montalvânia, município distante 640km da capital do pais. Os investigadores, no entanto, não comunicaram a polícia local sobre a detenção e ainda ouviram o acusado no quartel da Polícia Militar de Manga (MG) ; a cidade fica a 64km dali.
O comandante da PM de Manga, identificado como capitão Evilásio, não foi localizado pelo Correio. Mas o delegado de Montalvânia, Renato Nunes Henriques, confirmou a informação. ;Estranhei o fato, tendo em vista que eles (os policiais de Brasília) deveriam ter me comunicado (sobre a detenção) para que eu encaminhasse ofício ao juiz informando a prisão, como é o trâmite previsto no Código Penal;, afirmou. Apesar de não estar na cidade em 15 de novembro, Henriques acrescentou que, com a comunicação oficial à polícia local, o detido poderia ser autorizado pela Justiça local a ser transferido a Brasília.
O Correio também apurou que Leonardo teria dormido em um carro da polícia na madrugada de 16 de novembro, mesmo dia em que acabou levado para Montes Claros (MG) ; o dado é de conhecimento dos promotores do NCAP. Até então, nenhum dos principais envolvidos na investigação do triplo homicídio ocorrido em 28 de agosto de 2009 sabia da apuração paralela da 8; DP. Assim, avisado pela imprensa, o então diretor-geral da Polícia Civil do DF, Pedro Cardoso, viajou a Montes Claros a bordo de um bimotor. Estava acompanhado da delegada Deborah Menezes.
O delegado Henriques acrescentou que os agentes da 8; DP ouviram Paulo Cardoso Santana, 23 anos, por três vezes ; o segundo acusado pelo triplo homicídio estava no presídio de Montalvânia por causa de um latrocínio. Por telefone, o titular da unidade da Polícia Civil da cidade, informado da presença dos investigadores, orientou os agentes locais a acompanharem os esclarecimentos. Segundo ele, os policiais brasilienses cumpriram a exigência. Leonardo e Paulo confessaram envolvimento no triplo assassinato. Mais tarde, a polícia prendeu outro comparsa, Francisco Mairlon Aguiar, 22.
Mandante
Outro ponto aprofundado pelos promotores candangos em Minas Gerais passa pelo depoimento de uma testemunha que apontava Adriana Villela como a mandante do crime. Trata-se de um agricultor de 30 anos, que contou a história com exclusividade ao Correio Braziliense em 19 de novembro do ano passado. Ele afirmou ter sido procurado por Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio dos Villelas, em fevereiro de 2009 para ;fazer um serviço; na capital federal a ;mando de uma mulher;. Recusou a proposta. E revelou a informação para os agentes da 8; DP, que, segundo ele, a ignoraram.
O delegado Renato Henriques ouviu dessa testemunha o mesmo relato. Segundo ele, o agricultor contou mais tarde na delegacia de Montalvânia sobre a possível mandante e a reação dos agentes da 8; DP, que teriam desqualificado a informação. A versão do delegado confere com esclarecimento prestado oficialmente pelo agricultor à Corvida. No depoimento prestado no DF, ele diz: ;Falei com ele (policial): Estou no risco (sic) de o mandante vir aqui e fazer alguma coisa comigo e com a minha família. Aí o policial falou: ;Não tem mandante. Não existe mandante. O Leonardo já confessou (o crime);;.
O advogado de Adriana Villela, Rodrigo Alencastro, minimizou os depoimentos prestados pelo trabalhador rural, além de desqualificá-lo. ;É uma pessoa que já foi presa por porte ilegal de arma, teve outros problemas na região de Minas Gerais;, afirmou (leia Três perguntas para).
Investigação
O Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público analisa investigações e avalia denúncias de casos de omissão ou retardamento injustificado de apurações. Os promotores também colhem informações acerca das atividades da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Quando necessário, os promotores que compõem o núcleo instauram inquérito civil público para apurar casos de improbidade administrativa.