A autorização da Justiça, na última quinta-feira (20/01), para a continuidade dos serviços no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) por mais 90 dias pela Real Sociedade Espanhola Beneficência não foi suficiente para evitar o caos no atendimento à população. Em meio à demora na fila do pronto-socorro, os pacientes desistiram e resolveram procurar o Hospital Regional do Gama (HRG). Resultado: ontem, o HRSM estava praticamente vazio, enquanto no HRG os pacientes faziam fila ainda na recepção e aguardavam em pé o chamado do único médico de plantão durante o período da manhã. Em meio às dificuldades, os funcionários do HRSM também ameaçam entrar em greve na próxima semana.
Diabética e hipertensa, a dona de casa Valdenira Moreira dos Santos, 50 anos, é vítima da confusão criada em torno do HRSM. Ontem, ela saiu de Santa Maria por volta das 9h em busca de tratamento no Gama. Mal conseguia caminhar por causa das pernas e pés inchados. Na semana passada, Valdenira esteve no HRSM três vezes, mas em todas elas voltou para casa sem ser examinada . ;Eu vou lá e dou com a cara na porta e chego aqui (HRG) e não tem médico. O remédio que eu tomo também não tem no posto de saúde. Não sei mais o que eu faço.;
A dona de casa Leonice Bispo Lisboa, 50 anos, também saiu de Santa Maria em busca de atendimento para a filha Fernanda, 23, no HRG. A jovem sentia-se fraca, após ter passado mal na madrugada anterior. Ela deu entrada no hospital por volta das 10h e às 18h ainda não havia sido atendida. ; É uma pouca vergonha o que estão fazendo com a gente;, revoltou-se.
No Hospital de Santa Maria, a frentista Daniela Correia, 18 anos, estava inconformada. Desde o último sábado, ela tenta se consultar por causa de dor no estômago. Chegou por volta das 18h e foi embora às 22h. No dia seguinte, voltou ao hospital às 10h e saiu 12 horas depois, novamente, sem ter sido atendida. Ontem, ela chegou por volta das 9h e às 10h30 ainda aguardava ser chamada. ;É muito descaso. Nunca tem médico para atender a gente em nenhum hospital;, reclamou.
Paralisação
Quase uma semana após o término do contrato de dois anos com a Real Sociedade, além do caos generalizado na saúde, o governo agora também tem de lidar com a insatisfação dos funcionários em trabalhar nas condições atuais. Funcionários da organização social ameaçam paralisar os serviços caso o GDF não faça o pagamento das rescisões dos que ficaram. Os cerca de 1,5 mil enfermeiros, técnicos em enfermagem e funcionários do apoio administrativo que assinaram rescisão e fizeram teste demissional antes do dia 21 ; quando terminou o contrato do GDF com a Real Sociedade ; não aceitam permanecer vinculados à entidade pelos próximos 90 dias e querem o pagamento dos direitos ainda este mês.
Em uma tentativa de resolver a questão, uma comissão de representantes se reuniu ontem pela manhã com o secretário de Saúde do DF, Rafael Barbosa. Eles se disseram desestimulados e pediram que o GDF contrate temporariamente os funcionários com salários melhores, equiparados aos dos servidores públicos. ;Eles exercem a mesma função que nós para trabalhar menos e ganhar até três vezes mais. Não tem como nós trabalharmos nesse regime;, desabafou Camilo de Leles, recepcionista- líder pela Real Sociedade.
A Secretaria de Saúde informou que não existe previsão em lei para absorver os funcionários da Real Sociedade, mas garantiu que as rescisões contratuais de quem não quiser ficar no trabalho serão pagas nas próximas duas semanas.
Segundo a assessoria da Secretaria de Saúde, o problema da falta de médicos, que é generalizado, vai começar a ser minimizado somente após o segundo semestre, com a entrega de mais quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), operação que deve desafogar o atendimento nos hospitais. A SES-DF, explica sua assessoria, pretende contratar mais médicos e oferecer melhores condições aos profissionais da rede. Até lá, no entanto, a situação continua problemática.