Depois de uma semana de transtornos para os pacientes, o sábado também foi tumultuado no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). Faltavam médicos, seguranças e até funcionários da área de limpeza. Doentes e acompanhantes indignados reclamavam da demora e do descaso. Foi o primeiro dia de funcionamento da unidade após autorização da Justiça para que a Real Sociedade Espanhola Beneficência, mantenedora do local, continue a prestação de serviços por mais 90 dias. O contrato de dois anos com a organização social venceu no dia 21 de janeiro. A manutenção do acordo foi decidida após uma série de reuniões de representantes da Secretaria de Saúde com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e com a equipe jurídica do governo.
Apesar da decisão judicial, o atendimento continua precário. ;Já tem quatro horas que estou esperando, mas ninguém é chamado. Está tudo parado, estou quase desistindo;, reclamou o cobrador Ronaldo Gomes de Oliveira, 24 anos, que deixou de ir ao trabalho ontem por sentir fortes dores de cabeça. ;Está insuportável. Vira e mexe, passo mal. Já fiz até uma tomografia no Gama, mas até agora não descobri o que é;, completou. Oliveira havia chegado pouco antes das 9h no hospital de Santa Maria e estava com o filho de 11 meses nos braços. A reportagem do Correio permaneceu na unidade até as 13h e o homem ainda não tinha sido recebido por um médico.
Procurada, a direção do HRSM confirmou que pacientes foram encaminhados ao Hospital Regional do Gama (HRG) ; o mais próximo do local. Revoltada com a notícia de que não havia pediatras para atender a filha, a técnica em enfermagem Suelite dos Santos, 27 anos, resolveu procurar o chefe de equipe do hospital. Acompanhada por um grupo de insatisfeitos, a mulher solicitou esclarecimento.
;Eu fui com o meu filho mais velho ao Hospital do Gama e eles o medicaram. A minha filha estava com os mesmos sintomas, mas não conseguiu atendimento. Foi então que me falaram para vir aqui mas, quando cheguei, disseram para eu fazer o caminho inverso. Não faz sentido;, questionava Suelite. ;Não vou sair daqui enquanto o meu problema não estiver resolvido. A população não sabe correr atrás dos seus direitos;, acrescentou. A filha da técnica em enfermagem, de apenas seis meses, estava vomitando e tinha febre, mas não chegou a ser atendida. Após muito bate-boca entre os pacientes e a direção do hospital, uma ambulância foi providenciada para levar as duas de volta à unidade do Gama. Desde que o GDF realizou a intervenção no HRSM, faltam pediatras na unidade.
Próximos passos
O GDF terá que apresentar um plano de retomada do Hospital de Santa Maria, para a gradativa substituição dos profissionais e para que haja a consequente contratação emergencial de servidores. A previsão é de que isso aconteça nos próximos dias. Nesse meio tempo, parte dos funcionários da Real Sociedade continua sem trabalhar. Eles já ameaçavam, desde a última quinta-feira, cruzar os braços. O motivo são as reclamações acerca das condições previstas no atual contrato. Por esse instrumento, a Real fica obrigada a manter os serviços considerados imprescindíveis, com direito aos repasses necessários de recursos, nos moldes do antigo acordo, firmado em janeiro de 2009. Há nova ameaça de paralisação total dos serviços amanhã.
A cabeleireira Francisca Pereira Nascimento, 53 anos, que sofre de rinite alérgica, procurou o HRSM na noite da última sexta-feira. Por não conseguir consulta, acabou voltando para casa. Ontem pela manhã, a mulher decidiu tentar de novo, mas recebeu outra negativa. ;Eles deixam a gente fazer a ficha. Acontece que não chegam a nos atender. Disseram a mesma coisa ontem (sexta-feira). Você pode aguardar pelo encaminhamento ou ir embora;, explicou.
Incidente
A área de emergência do hospital estava toda suja ontem. Uma pessoa passou mal e acabou vomitando no piso. Por falta de funcionários da área de limpeza, os pacientes tiveram que enfrentar o mau cheiro por horas, enquanto aguardavam atendimento.