Jornal Correio Braziliense

Cidades

Documento prevê proibição da venda de bebida alcoólica e fim dos CAs na UnB

Documento elaborado pela decana de assuntos Comunitários prevê desde fixação de horário para eventos e proibição da venda de bebidas alcoólicas a retirada dos CAs do Corredor da Morte

A Reitora da Universidade de Brasília (UnB) criou normas para coibir os abusos nas festas realizadas por estudantes no câmpus da instituição. Entre as regras, há a proibição da venda de bebidas alcoólicas, a fixação de horário para começo e término dos encontros e a remoção dos centros acadêmicos (CA) do subsolo da Ala Central do Instituto Central de Ciências (ICC), o Minhocão. O local ficou conhecido como Corredor da Morte justamente por causa das farras, que, segundo denúncias, são embaladas por drogas.

As normas para confraternizações no câmpus foram elaboradas pela decana de Assuntos Comunitários da UnB, Rachel Nunes. Para entrar em vigor, no entanto, o documento precisa ser aprovado pelo Conselho Universitário, formado por professores, funcionários e alunos da instituição, além de administradores da universidade.

Segundo o prefeito do câmpus, Paulo César Marques , o texto elaborado não estaria relacionado com o incidente do último dia 13, quando alunos foram flagrados pelo cinegrafista de uma emissora fumando maconha e vendendo bebidas alcoólicas no CA de Geofísica, no Corredor da Morte. Marques explicou que o documento seria uma atualização das normas existentes. ;O problema hoje é que se o CA vende bebidas, podemos penalizar apenas o aluno. É preciso uma punição institucional;, argumentou.

Por outro lado, o texto também garantiria a instalação adequada dos centros acadêmicos. De acordo com Marques, a escolha dos locais é de responsabilidade da administração da universidade. Seria, ainda, uma maneira de evitar que festas e happy hours atrapalhassem o horário de aula. O texto, no entanto, ainda não está fechado. ;São responsabilidade para ambos os lados. O texto vai para a consulta pública, após aprovação do conselho universitário. Ficará no portal da universidade e receberá sugestão de toda a comunidade do câmpus;, explicou.

No caso dos CAs que ocupam as salas abandonadas do Corredor da Morte, eles seriam transferidos para salas próximas dos cursos que representam. Os excessos cometidos por estudantes no câmpus mobilizam as discussões da UnB há uma semana. Os professores da instituição exigem o controle do consumo de bebidas alcoólicas e drogas no Minhocão. Representantes da direção da Associação dos Docentes (ADUnB) apresentaram ontem uma carta de reivindicação à Reitoria. O grupo cobrou dos diretores da instituição mecanismos para coibir a prática de atividades ilícitas no câmpus. O documento redigido pela decana de Assuntos Comunitários é uma resposta aos docentes.

Preocupação
Estudantes temem que não haja diálogo por parte da administração da universidade. Proibições não serão bem-vindas, segundo o coordenador de integração estudantil do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Bruno Borges. Ele reconhece que faltam normas claras para o uso do espaço público na universidade, mas acredita que a integração e os espaços de convivência são importantes. ;Somos favoráveis a discutir regras, mas não podemos criminalizar o CA por um fato isolado. Não são locais conduzidos de qualquer forma. Qualquer limitação deve ser conversada e todos os lados devem ceder;, ponderou.

Um dos representantes do CA de geofísica, Paulo Henrique Praça de França, 21 anos, disse que a venda de bebidas alcoólicas foi uma forma encontrada pelos estudantes para comprar equipamentos para o centro acadêmico. Ainda segundo ele, é proibido o uso de drogas no espaço e os estudantes sabem da norma, mas ;não há como impedir que alunos usem um espaço que é deles;. ;Quando o dinheiro arrecadado não é revertido para compra de equipamentos para o centro, vai para razões sociais. Não dá para simplesmente acabar com as confraternizações;, protestou.

Parte dos universitários duvida de mudanças, mesmo se for aprovado o texto elaborado pela decana de Assuntos Comunitários. O estudantes de administração Josimar Soares Filho, 24 anos, é um dos descrentes. Segundo ele, a polêmica enfrentada na UnB é recorrente em todas as faculdades do DF e parece ;exagerada;. ;Mesmo sem comercialização, vai haver consumo de bebidas alcoólicas. Mas a maioria dos alunos está estudando, indo para a aula normalmente;, destacou. Já Danyelle Dias, 17, estudante de ciências sociais, concorda com algumas limitações. ;Limitar horários, por exemplo, seria legal. Mas duvido que haverá algum tipo de fiscalização. Vai ficar só no documento;, afirmou.

Ponto isolado
Centros acadêmicos, como os de geologia e geofísica, foram transferidos pela prefeitura da UnB para o Corredor da Morte há menos de um ano, sob alegação de que falta alternativa para alojar os estudantes.

POVO FALA

O que você acha sobre haver regras para festa no câmpus?

;A limitação é certa. A universidade não é lugar para venda de bebidas alcoólicas, por exemplo. Acho até que o consumo é de responsabilidade de cada um, mas não a venda.;

Bárbara Araújo, 18 anos, moradora de Sobradinho, estudante de direito

;É uma medida necessária. O ambiente de estudo não pode virar um ambiente de festa. Muitos são obrigados a conviver passivamente com o abuso de outros.;

Lucas Marques, 20 anos, morador de Taguatinga, estudante de ciências sociais

;Sou contra. Acho que a situação na UnB não está tão caótica. A universidade não se tornou um espaço de libertinagem. Estudos não excluem as festas.;

Nathalia Alves, 21 anos, moradora de Taguatinga, estudante de administração

;É um exagero. Seria sensato se as festas atrapalhassem as aulas, por exemplo, mas não atrapalham. Acho que devia haver mais diálogo na questão.;