Jornal Correio Braziliense

Cidades

Carne bovina força aumento dos preços em bares e restaurantes da cidade

Essa pressão colocou Brasília em terceiro lugar no ranking das cidades em que as refeições mais encareceram

Os preços dos cardápios ficaram mais caros com a virada do ano. Os brasilienses começaram 2011 tendo que desembolsar até 20% a mais para almoçar ou jantar nos restaurantes da cidade. Empresários do setor aproveitaram o momento para atualizar as tabelas. A explicação é que a alta dos alimentos ; principalmente da carne ; forçou os reajustes. O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar-DF), Clayton Aguiar, explica que os aumentos variam de acordo com cada estabelecimento. Segundo ele, as maiores variações foram observadas em redes que oferecem carnes nobres. ;Mas, de maneira geral, acabamos absorvendo parte do impacto para não afastar os clientes;, disse.

A progressão do custo de almoçar fora de casa em Brasília foi percebida em dezembro. As refeições ficaram 2,41% mais caras no último mês de 2010, de acordo com o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual colocou a capital federal em terceiro lugar no ranking das metrópoles onde o preço das refeições em restaurantes ficou mais salgado. O aumento médio no país foi de 1,98% (veja quadro).

O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do DF (Abrasel-DF), Jaime Recena, aponta a carne bovina como principal responsável pelas mudanças nos preços dos cardápios. ;O filé aumentou mais de 100% e ainda assim não repassamos todo esse acréscimo. O empresário está protegendo a população dos aumentos que vem sofrendo;, sustenta.

A alta nas despesas com alimentação preocupa os consumidores, que buscam reduzir o gasto optando por restaurantes de preço fixo, sem limite de quantidade, ou que vendam comida a quilo. Com o preço da refeição mais salgado, muitas pessoas são obrigadas a mudar de hábito e buscar valores que se encaixem no orçamento. O bancário Roberto Monteiro, 50 anos, almoça fora todos os dias e percebeu o aumento em alguns lugares. ;Tenho pago em média R$ 60 em pratos à la carte. No ano passado, gastava cerca de R$ 50;, compara.

O comerciante escocês Glenn Macdonald, dono da Cornhills Cervejaria, na Asa Sul, ainda não aumentou o preço dos pratos, mas logo os clientes terão que desembolsar mais para frequentar o restaurante, com serviço de bufê. ;Vamos ter que aumentar. Estamos pensando em cobrar por quilo, porque o preço da carne subiu muito. Óbvio que gostamos de dar valor próprio e criar faixa de mercado, mas com a alta dos alimentos não dá para fazer isso, vendendo a preço fixo comida popular;, justifica.

Segundo o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Braz, os empresários do setor de bares e restaurantes trabalham com uma margem de lucro que varia de acordo com os insumos usados na preparação dos pratos ofertados. ;Alguns produtos aumentam em determinado período e depois tendem a cair. Já outros, quando sobem, especialmente os industrializados, como feijão, óleo, soja e açúcar, demoram mais a baixar, forçando o empresário a rever as tabelas;, explica.

Ainda de acordo com Braz, existem outras variáveis que justificam o reajuste, como o crescimento da demanda, que pode ser explicada pelo aquecimento da economia e pela redução da taxa de desemprego. Por último, ele aponta o aumento do salário mínimo ; que está em R$ 540 atualmente ;, usado como base para o pagamento de boa parte dos trabalhadores dos setores de alimentação.

Vilão
O preço da carne começou a subir ainda no primeiro semestre de 2010 e chegou ao auge em novembro. No DF, o corte do filé mignon passou de R$ 19,90 para R$ 34,90, variação de 75%. O aumento da demanda internacional e a forte seca que prejudicou as pastagens reduziram a oferta e, com isso, o valor subiu. Em dezembro, no entanto, o produto bovino recuou de 3,28%, segundo último levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O valor médio de 6kg do produto saiu de R$ 93,30, em novembro, para R$ 90,24, em dezembro.

Professor de finanças da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli acredita que, depois dos sucessivos saltos nos preços dos alimentos, a tendência é de estabilização. ;Os produtos já encareceram muito. À medida que houver uma conotação desses preços, não só no mercado internacional, mas em relação às safras, eles se estabilizarão;, prevê. O economista explica que o consumidor pode driblar as altas enquanto isso não acontece. ;O brasileiro é muito rígido em relação aos cardápios e não se dá conta de que existem outro produtos substitutos. Se está muito caro, não compre. Troque o produto por outro similar mais barato;, sugeriu.

Colaborou Diego Amorim

2010
Ao longo do ano passado, o aumento de determinados alimentos deixou a cesta básica do brasileiro ainda mais cara. No DF não foi diferente. Os grandes vilões foram o feijão (22,82%), a carne (21,98%) e o açúcar (22,82%).

Inflação
O índice é medido mensalmente pelo IBGE. Ele foi criado com o objetivo de oferecer a variação dos preços dos produtos para o consumidor. A coleta dos dados, em geral, é feita, do dia 1; ao 30 do mês analisado. A pesquisa é realizada em estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços, domicílios (para verificar valores de aluguel) e concessionárias de serviços públicos. O IPCA é considerado o índice oficial de inflação do país.

Pesquisa
Reflexo do corre-corre nos grandes centros urbanos, comer fora de casa é algo comum para 51% da população brasileira. Isso é o que revela pesquisa realizada pela GfK, a quarta maior empresa de pesquisa de mercado do país e do mundo.

De acordo com o levantamento, as pessoas que comem fora de casa nos fins de semana e nos dias úteis representam 12% da população. Outros 24% da população se alimentam fora apenas no fim de semana e 16% durante a semana.

Variações

Confira os percentuais de aumento no preço das refeições fora de casa nas principais regiões metropolitanas em dezembro de 2010:

1; Fortaleza(CE) 3,18%

2; Curitiba(PR) 3,02%

3; Brasília (DF) 2,41%

4; Salvador (BA) 2,24%

5; Rio de Janeiro (RJ) 2,15%

6; São Paulo (SP) 2,12%

7; Recife (PE) 1,70%

8; Porto Alegre (RS) 1,65%

9; Belém (PA) 1,28%

10; Goiânia (GO) 0,49%

Média Nacional: 1,98%

Fonte: IPCA/BGE