Não existem registros formais, nem documentos. Mas os subsolos do Minhocão fazem parte da história da Universidade de Brasília (UnB). Basta descer as escadas da área central do edifício e o visitante mais desavisado se depara com um mundo diferente, ao estilo revolucionário dos estudantes. Entra em um corredor apertadinho, de cerca de 100m de comprimento, que dá acesso às salas de onde emergem discussões fervorosas dos mais variados assuntos. De banalidades da vida a ideias brilhantes de melhorias para os alunos.
O branco das paredes deu espaço a colagens e pinturas coloridas, feitas pela própria comunidade. As portas permitem a entrada em oito centros acadêmicos da UnB. Mas a escuridão e o passado sombrio garantiram ao local o apelido de Corredor da Morte. Faz poucos anos que os universitários passaram a chamá-lo dessa forma. ;É um lugar de convivência importante que conseguimos em um processo de articulação. Lá ocorrem várias reuniões decisivas;, define a coordenadora-geral do Diretório Central do Estudantes (DCE), Mel Gallo.
A presença dos centros acadêmicos, no entanto, atrapalha o andamento de algumas atividades educacionais. No mesmo corredor em que se instalaram os redutos de alunos de oito cursos diferentes ficam duas salas de serviços técnicos e um laboratório de informática usado para aulas de desenho industrial. Bem ao lado da algazarra típica de qualquer democracia estudantil. É uma briga feia, em especial nos dias em que os debates ideológicos são embalados pela música nas alturas. Os professores que preparem as cordas vocais para conseguirem se fazer ouvir.
No subsolo da UnB há uma pista de serviço para carga e descarga que passa ao lado do Corredor da Morte. O barulho aumenta com o ronco do motor dos caminhões que, de vez em quando, rodam por ali. O prefeito do câmpus, Paulo César Marques, reconhece o problema e explica que o espaço abrigava aulas de biologia. Como o curso começou a funcionar em outro prédio, alguns universitários aproveitaram as salas desocupadas para montar os centros acadêmicos. ;Eles terão de desocupá-las. Mas a proposta das novas localizações está adiantada;, tranquiliza Paulo César.
Reforma
A fumaça que sai dos canos de descarga dos veículos intoxica os alunos. O estudante do 3; semestre de desenho industrial Pedro Torres, 21 anos, conta que a qualidade do ar se agrava com outros problemas. ;Em épocas mais quentes, as salas ficam abafadas e cheias de mosquitos;, exemplifica. Mesmo assim, ele discorda da desativação do Corredor da Morte. ;O laboratório do curso deveria funcionar em outro lugar, com condições melhores. Mas os centros acadêmicos não precisam ser removidos.;
O local vai entrar em reforma geral nos próximos meses. O prefeito do câmpus explica que técnicos farão a manutenção das instalações hidráulicas e elétricas, além de outras mudanças estruturais. ;A maior questão a se resolver é a insalubridade. Ali é uma rua de serviço com tráfego pequeno. Mas um caminhão que precisa descarregar materiais acaba produzindo monóxido de carbono;, lembra Paulo César Marques.
A única informação ainda indefinida é o que vai funcionar no Corredor da Morte, que deve perder a alcunha tão curiosa e lúgubre com a saída dos centros acadêmicos. ;O provável é que as salas se transformem em unidades administrativas, mas não descartamos a possibilidade de que ocorram também atividades de fins educacionais;, explica Paulo César. O prefeito do câmpus, porém, garante que a fumaça, os mosquitos e o calor intenso estão com os dias contados. ;Os ambientes terão mecanismos de climatização, como equipamentos de ar-condicionado;, adianta.
;O subsolo do Minhocão sofre vários problemas. Muitas salas estão mofadas e, com a sujeira, já vi até rato. A escuridão, principalmente à noite, dá a sensação de insegurança. A universidade tem feito algumas reformas no câmpus, mas o desleixo continua no subsolo.;
Rafaela Dantas, 20 anos, aluna de ciências sociais, moradora de Taguatinga
Festas e bebidas
Em junho do ano passado, o reitor José Geraldo de Sousa Júnior convocou chefes de institutos e faculdades da UnB para debater excessos cometidos pelos alunos. Os diretores alegaram que os alunos estariam promovendo festas com som alto nos centros acadêmicos e consumindo álcool e drogas em festas dentro da universidade. De acordo com as reclamações, a maioria das badernas ocorria no Corredor da Morte.