Pelo menos sete clientes denunciaram a empresa de turismo Vip Tour Viagens e Eventos à 4; Delegacia de Polícia (Guará) por estelionato. Eles compraram pacotes de viagens, com transporte aéreo, locação de veículos para transfers e diárias de hotel, para diferentes destinos no país. No balcão de embarque do Aeroporto Juscelino Kubitschek, as pessoas descobriram que nada havia sido pago. A empresa reservou as passagens, mas não efetuou a compra. O número de vítimas pode ser bem maior. Um religioso fechou negócio para mais de 20 pessoas com o estabelecimento e ninguém conseguiu embarcar.
Segundo o delegado adjunto da 4; DP, Joas Rosa de Souza, a Polícia Civil ainda investiga a empresa, mas todos os indícios apontam para o golpe. A delegacia deve instaurar inquérito nos próximos dias. Joas disse que as histórias relatadas pelas vítimas são muito parecidas. ;Só na hora de embarcar é que se davam conta de que não tinham passagem ou hotel garantidos. Isso caracteriza crime de estelionato. É pouco provável que se trate, por exemplo, de um desacordo comercial;, explicou.
O delegado alertou que o consumidor deve sempre procurar o Procon para saber se está lidando com um estabelecimento idôneo. De acordo com Joas, a polícia quer saber ainda se o autor do golpe era proprietário ou um funcionário da Vip Tour Viagens. A pessoa apontada pelas vítimas como responsável pela transação seria Jackson Barras. Procurado, o funcionário da empresa não atendeu o telefone. A empresa estava com as portas fechadas na tarde de ontem. ;Nós estamos apurando. Se ficar configurado o crime de estelionato, a pena prevista é de um a cinco anos de reclusão;, disse.
Prejuízo
Para o funcionário público Carlos Anjos, 64 anos, que pagou um pacote de viagem para São Paulo pela empresa aérea Gol, com diária em hotel e ônibus para Aparecida para a mulher e a filha, restou o prejuízo e um forte ;sentimento de frustração;. ;Minha filha tem 11 anos. Seria a primeira viagem dela. Estávamos no aeroporto. Ela estava com a mãe, estavam prontas, e na hora não puderam viajar;, lamentou. Carlos desembolsou quatro cheques de R$ 370, num valor total de R$ 1.480. A empresa conseguiu descontar R$ 740. Ele sustou o restante.
De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), Geraldo Tardin, esse tipo de crime é comum em Brasília nessa época do ano. Ele explicou que, geralmente, as vítimas são atraídas por preços muito abaixo do mercado. Segundo Tardin, no entanto, existe uma série de procedimentos para se prevenir do golpe (veja quadro). ;O fato é que ninguém faz milagre em alta temporada. É preciso desconfiar de anúncios em classificados. A vítima tem que registrar queixa na delegacia e entrar com uma ação de perdas e danos contra a empresa para reaver o dinheiro;, alertou.
O diretor-geral do Procon, Oswaldo Morais, explicou que quando o consumidor é lesado dessa forma, deve procurar o órgão com cópia da Carteira de Identidade, CPF e um comprovante da relação de consumo. ;Entramos de imediato em contato com a empresa. Se não houver êxito, ela é notificada e tratamos o assunto de forma oficial. Quando não há uma solução, aplicamos multa, que varia de R$ 212 a R$ 3,192 milhões. Ainda existe a possibilidade de interdição total do estabelecimento. Caso a empresa simplesmente desapareça, o consumidor deve procurar a polícia e a Junta Comercial do Distrito Federal. Eles podem responsabilizar os donos na esfera judicial, em vez da pessoa jurídica;, explicou.
Evite ser enganado
; Verificar se a empresa é registrada na Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav).
; Contratar pacote de viagem somente com empresas (pessoas jurídicas).
; Solicitar à empresa uma lista de pacotes com destinos cumpridos e consultar clientes.
; Procurar reclamações contra o estabelecimento no Procon-DF.
; Verificar no Tribunal de Justiça do DF e Territórios, por meio do CNPJ da empresa, se existem ações contra o estabelecimento.
; Comparar os preços dos pacotes oferecidos com o valor de mercado.
MEMÓRIA
Viagem frustrada
Em dezembro de 2008, cerca de 300 clientes foram enganados pelas empresas Mix Turismo e Impacto Turismo. As queixas envolviam a venda de reservas em hotéis e pousadas, além de passagens aéreas falsas. O caso da Mix Turismo foi o primeiro a vir à tona, depois que pelo menos 55 pessoas foram prejudicadas. Grande parte das viagens canceladas era para o exterior. Pelo menos 20 vítimas se deram conta do golpe quando estavam nos Estados Unidos. Famílias inteiras foram obrigadas a arcar com as despesas e voltar para o Brasil. Em 29 de dezembro, o segundo escândalo é divulgado. Um grupo de 254 brasilienses se deu conta que foi vítima da Impacto Turismo. A empresa vendeu um pacote para o réveillon em Arraial d;Ajuda, sul da Bahia. Na cidade, os turistas descobriram que a empresa não havia feito as reservas nas pousadas e nem sequer comprado os abadás para os shows de axé, apesar de a despesa ter sido incluída nos contratos.