Para frustração dos brasilienses, 2011 entrou silencioso e sem brilho na Esplanada dos Ministérios. Embora o Governo do Distrito Federal tenha gastado quase R$ 7 milhões com as festividades de fim de ano, a esperada queima de fogos de artifício foi suspensa a menos de duas horas da chegada de 2011. Nota divulgada pela Secretaria de Cultura do DF informou à imprensa que o show pirotécnico não ocorreria. A população, a mais interessada no espetáculo, foi esquecida. As quase 70 mil pessoas que estavam na Esplanada dos Ministérios à espera do foguetório, debaixo de chuva, desistiram depois da contagem regressiva. Ao fundo, um brilho longínquo. Eram os fogos disparados do prédio da matriz da Caixa Econômica Federal (CEF) ; única visão que pôde ser admirada.
A melancólica despedida do governo-tampão de Rogério Rosso, em um dos piores anos da história política da capital da República, não foi poupada de críticas. ;Eles gastam milhões com esses shows que ninguém quer ver e do que mais importa para a população simplesmente abrem mão?;, reclamou o zelador Sebastião de Carvalho Macedo, 39 anos, que levou o filho Mateus Henrique Lopes Macedo, 15, até a Esplanada unicamente para ver a queima de fogos. ;Para piorar as coisas, nem avisam a gente. Muitas pessoas pegaram chuva esperando os fogos que não iam ter. Eu fui uma delas;, completou.
De acordo com a Secretaria de Cultura, o cancelamento do show pirotécnico ocorreu pela ausência de licitação para a compra dos fogos de artifício, o que impossibilitou a solicitação do serviço. O secretário de Cultura, Carlos Alberto de Oliveira, disse que na última sexta-feira foram estudadas diversas saídas para a realização do show, mas nenhuma foi encontrada. Ele lamentou a ausência dos fogos e afirmou que tal medida foi tomada a fim de zelar pela legalidade de todas as ações relativas às festividades de fim de ano na capital do país. Oliveira pediu ainda a compreensão de todos os presentes. A reportagem do Correio tentou falar com o agora ex-governador Rogério Rosso (PMDB) sobre a interrupção da tradição, mas a assessoria de imprensa informou que ele não comentaria o assunto.
;É um absurdo essa situação. Eles chamam as pessoas para virem aqui e não avisam sobre as mudanças?;, indignou-se o gerente comercial Ronaldo Alves de Souza, 33 anos. Ele a mulher e os filhos aguardaram até o último momento de 2010 com os olhos voltados para o céu. ;Já é tão automático. A gente realmente esperava ver a queima de fogos. Acredito que por se tratar do dia da posse de Dilma como presidente deveria ser diferente. Estamos realmente revoltados. Esse foi o pior ano na Esplanada dos Ministérios;, acrescentou a autônoma Patrícia de França Pereira, 33 anos, mulher de Ronaldo.
Na hora da virada, a contagem regressiva ficou por conta da bateria da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc). Algumas pessoas chegaram a levar fogos de artifício, que puderam ser vistos esparsamente brilhando no céu. Mas a chuva que caia na ocasião acabou contribuindo também para que muita gente fosse para casa cedo. Dez minutos depois da meia-noite, a Esplanada dos Ministérios começava a esvaziar.
A família da secretária Gláucia Silva, 37 anos, foi uma das que deixou o local nos primeiros minutos do ontem. Além de ter ficado decepcionada por não ter visto o foguetório, ela correu do mau tempo para evitar que a filha de dois anos pegasse um resfriado. Ela e o marido saíram de Goiânia para prestigiar a festa na Esplanada.
Aparato
Mais de 370 policiais militares trabalharam no evento de celebração do réveillon na Esplanada dos Ministérios, amparados por motos e carros da corporação. Até a 1h, nenhuma ocorrência de grande vulto havia sido registrada pelos profissionais. Em contrapartida, apenas 23 bombeiros trabalharam na ocasião, com seis viaturas. O aspirante Paulo Thiago Barreto de Lima, que coordenava a ação, fez críticas a falta de efetivo e também à ausência de posto médico no lugar. ;Tive que contar com a colaboração de militares de outras unidades, como do Cruzeiro e Asa Sul, os deslocando para cá. Se acontecesse alguma coisa muito grave, certamente precisaríamos de reforço;, justificou. Até as 12h40, os profissionais do Corpo de Bombeiros tinham atendido apenas cinco chamados na Esplanada, entre eles mal súbito e queda.
Sob investigação
Os shows na Esplanada dos Ministérios começaram em 24 de dezembro. O Governo do DF destinou R$ 3,6 milhões para o pagamentos de cachês dos artistas contratados e outros R$ 3,2 milhões para a estrutura do evento. Eventuais exageros nos contratos assinados pelo governo são objeto de investigação pela 6; Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público (Prodep), do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). Serão apurados também os casos de dispensa de licitação e de consultas de atas para a realização das festas natalinas.
Menos R$ 995 milhões no orçamento
O novo governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, assumiu o cargo ontem e, entre as muitas dificuldades financeiras deixadas pelo antecessor, encontrará um orçamento contingenciado em quase R$ 1 bilhão. No fim da tarde de sexta-feira, na despedida do GDF, o ex-governador Rogério Rosso sancionou a Lei Orçamentária Anual com o veto de 273 emendas, que totalizam R$ 995 milhões.
Os vetos, segundo a assessoria de Rosso, ocorreram por questões técnicas, que impossibilitariam a execução das despesas neste ano. Entre os vetos, está um vício de iniciativa que teria como objetivo reservar verbas para conceder reajustes a alguns servidores, como os policiais militares e concursados da área de saúde. ;O Legislativo não pode criar obrigações financeiras para o Executivo;, explicou o secretário-adjunto de Planejamento, Caio Abbatti.
Todos os vetos teriam sido aplicados em conjunto com a equipe de transição do governador Agnelo Queiroz. A gestão petista estaria, portanto, de acordo com as mudanças na lei orçamentária. ;Todos os vetos foram feitos de acordo com análise técnica em conjunto com a equipe de transição. O grupo de Agnelo inclusive sugeriu o veto de emendas que haviam sido colocadas no projetos de lei pelo grupo do próprio petista;, afirmou Rosso.
O Correio tentou contato com a equipe de Agnelo para confirmar o posicionamento, mas não obteve retorno. A quantia vetada passa a fazer parte da reserva de contigenciamento do orçamento do DF. Agora, para que o recurso seja liberado, são necessários projetos de lei específicos. O orçamento do DF para 2011 prevê 17,9 bilhões do próprio GDF e outros 8,7 bilhões do fundo constitucional.