Os mais de 1,3 mil animais que moram no Jardim Zoológico de Brasília ganharam ontem uma nova maternidade para garantir o bem-estar dos filhotes que precisam de cuidados especiais. A unidade pediátrica de terapia intensiva está pronta para receber pequenos mamíferos e aves rejeitados, debilitados ou órfãos após o nascimento. Além dos bichos do parque, a estrutura também deve servir de lar temporário para filhotes apreendidos em tentativas de contrabando e biopirataria ; somente este ano, o Zoológico cuidou de mais de 30 ovos de aves exóticas que tinham como destino a Europa.
A nova estrutura conta com sala de incubação de ovos, ambulatório, cozinha adaptada e salas de monitoramento para filhotes de aves e mamíferos, climatizadas e equipadas com gaiolas e unidades de tratamento artificial. Em janeiro será entregue um solário, onde os animais poderão se exercitar ao ar livre. Na maternidade ainda há uma sala para o plantonista que tiver de passar a noite no Zoológico cuidando dos bichos. Antes, biólogos e veterinários tinham de levar os animais para casa, com autorização do Ibama.
A bióloga Paula Jotta, uma das profissionais que já hospedaram animais em casa, garante que a mudança é muito bem-vinda para veterinários e filhotes. "O bicho sente muita falta de carinho, afinal não está com a mãe", afirmou a bióloga. Paula ressalta, porém, que a maternidade não será obrigatória para todos os recém-nascidos. "Há muita observação antes de interferir. Só entramos com o cuidado artificial se a mãe rejeitar o filhote ou se ele não estiver saudável", explica. A maternidade tem capacidade para receber 80 animais, mas ainda conta com somente um morador, um pequeno tamanduá mirim, que já está em fase de desmame.
Além dos cuidados médicos e alimentação, os pacientes da unidade pediátrica de terapia intensiva também irão contar com carinho e atenção dos funcionários do zoológico. A maternidade está preparada para receber veterinários e biólogos por longos períodos de tempo, e ainda tem artefatos para confortar o filhote em recuperação, como animais de pelúcia que simulam a respiração e batimentos cardíacos para fazer companhia aos bichos. "Um mamífero que perdeu a mãe pode crescer com problemas emocionais porque não se sente seguro, esse é o comportamento estereotipado", esclarece o diretor do Jardim Zoológico, Raul Gonzalez. O tratamento garante que os filhotes sobrevivam e cresçam como animais saudáveis e socialmente adaptados.
Ano de novidades
A inauguração foi acompanhada pela vice-governadora do DF, Ivelise Longhi, e pelo embaixador do Egito no Brasil, Ahmed Darwish. O representante do país africano aproveitou para conhecer a casa que irá receber o casal de camelos que prometeu dar como presente para o Zoológico de Brasília no início do próximo ano. "Podemos ver que improvisam sempre com novas ideias, e levam a ciência a um novo nível, o que é muito interessante para o futuro das espécies. Sobre os camelos, não tenho dúvida de que serão felizes aqui", avaliou Darwish. O embaixador também mostrou-se empolgado com os tamanduás-bandeira que serão enviados ao Egito, em troca dos animais africanos. Hoje, há apenas um camelo no Jardim Zoológico de Brasília, resultado de uma apreensão por maus tratos em um circo.
A unidade pediátrica foi mais uma das diversas modificações que o parque tem recebido nos últimos meses. Este ano, o Zoológico inaugurou a Casa do Futuro, que é o primeiro banco de germoplasma do Brasil, equipado para tratamentos de células tronco, banco de sêmen e clonagem. O zoo também ganhou diversos recintos para araras, macacos e hipopótamos, além de um novo estacionamento, corredores de segurança e da reforma de toda a Galeria África, do micário e dos abrigos de felinos e canídeos.
Somente para a obra da maternidade, foram necessários R$ 60 mil e três meses de trabalho para ampliar o antigo depósito em uma estrutura de cerca de 100 metros quadrados complemente equipada. "Esse recurso veio do Fundo de Desenvolvimento Urbano, que é próprio para essa atividade", esclarece a vice-governadora Ivelise Longhi. Conhecida como madrinha do Jardim Zoológico, Ivelise afirma que, com o apoio do próximo governo, o parque deve continuar a receber investimentos. "O Zoológico recebe hoje mais de um milhão de visitantes por ano. O que queremos é justamente isso, que Brasília seja uma cidade de turismo, com grandes atrações", afirmou a vice-governadora.