Jornal Correio Braziliense

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Creches funcionam graças a voluntários no Riacho Fundo e São Sebastião



Ainda pequena, a baiana Maria José Silva Almeida, 59 anos, conheceu o significado da palavra generosidade. Na fazenda de cacau onde morava com a família, em Itabuna (BA), assistia a mãe, dona Laura Beatriz, acolher viajantes em busca de água, comida, um lugar para dormir. A menina cresceu com a vontade de fazer o bem. Virou mulher e mudou-se para Brasília. Na terra idealizada por JK, fundou uma creche e deu-lhe um nome sugestivo: Os quatro pequeninos. Sem apoio do governo e sem cobrar mensalidades, a instituição, localizada no Riacho Fundo II, atende 47 crianças de 2 a 6 anos em período integral.


Na creche, as crianças encontram um refúgio para a miséria. A maioria não tem o que comer em casa. ;São filhos de catadores de lixo, de pessoas com deficiência, de presidiários, pessoas que nada têm além da vida;, resume Maria José. ;Aqui elas almoçam, brincam, ouvem histórias.; Mas o sonho da guerreira baiana não é tão colorido como ela deseja. ;Vivemos de doações. Tem dia que tem, outro não.;


Manter a creche em funcionamento é uma luta diária. Não só de Maria José, mas de toda a sua família. Os empregados fixos da instituição são uma das suas três filhas e o marido, o vigilante aposentado João Carvalho Almeida. ;Nós batemos ponto todos os dias. Meu esposo é o primeiro a chegar;, relata Maria. O resto do trabalho fica por conta de voluntários. Professores, cozinheiros, auxiliares de limpeza, todos ajudam de acordo com a disponibilidade. ;Nós não temos condições de pagar salários;, lamenta.


Graças ao trabalho de voluntários ; em especial os que fazem doações, como o Correio Braziliense Solidário ;, é possível comprar comida para as crianças e pagar as contas, que não são poucas. A casa onde funciona Os quatro pequeninos, na QN 15 do Riacho Fundo II, é alugada. ;São R$ 600 por mês. Além disso, tem as despesas com água, luz e telefone. Cada hora é um que aparece para ajudar. Deus não deixa a gente ficar só;, persevera a fundadora da instituição.

Voluntariado
São gestos como o da funcionária pública Tainá Mendes Nunes, 29 anos, que mantêm vivo o sonho de Maria José. Em casa, a jovem assistiu na televisão à dificuldade de Maria José em cuidar dos meninos. Falta tudo, desde comida a produtos de limpeza. ;Depois de ver a reportagem, conversei com os meus colegas de trabalho e arrecadei dinheiro para fazer umas compras;, conta. ;É muito bom poder ajudar, não tem palavras para descrever. Se pudesse, ajudava sempre.;


A instituição também precisa de melhorias estruturais para oferecer mais conforto para as crianças. A casa conta com apenas uma sala de televisão, usada também como refeitório; dois quartos apertados para a hora do descanso, com colchonetes finos; dois banheiros, uma cozinha e um parquinho, cujos brinquedos estão enferrujados.


Durante o ano inteiro, Maria José enfrenta dificuldades. As coisas ficam um pouco mais fáceis apenas em dezembro. ;As pessoas lembram-se de fazer doações nessa época. Parece que as crianças comem só no Natal. Mas teve um aniversário de Jesus que marcou muito, em 2008: tive que mandar os meninos para casa porque não tinha comida para fazer uma festa. E o pior é saber que em casa eles também não vão ter ceia.;

Clima familiar
O nome da instituição é uma homenagem de Maria José aos quatro netos: Bruno, João Victor, Alexandre Júnior e Laura Beatriz. Esta última ganhou o nome da bisavó, a mãe de Maria José.

Participe

; Qualquer doação é bem-vinda, de comida a material de limpeza. Contato: QN 15 B, Conjunto 1, Casa 21, Riacho Fundo II. Telefone: 3434-7034.

Onde todo apoio é muito bem-recebido

;Se o Terceiro Setor não ajudar, não haverá solução para nossas crianças.; Assim se manifesta o presidente da Creche Bem me Quer, César Benvenuto Palvarini. Localizada em São Sebastião, a instituição atende crianças de 2 a 5 anos de famílias carentes da cidade. Enquanto as mães saem para trabalhar, os assistidos participam de atividades físicas e pedagógicas. ;Se eles não estivessem aqui, poderiam estar nas ruas. Esses meninos são alvo fácil para o mundo das drogas;, destaca Palvarini. A creche recebe recursos do governo local, mas o atendimento pleno só é possível graças às doações e à dedicação de sua mantenedora, a Obras de Assistência à Infância e à Sociedade (Oasis).


Na segunda semana deste mês, as crianças que completaram 6 anos ganharam uma festa de formatura. Elas deixam a instituição semialfabetizadas. O evento contou com a presença ilustre do Papai Noel, que distribuiu presentes a 80 meninos e meninas. Todos os brinquedos vieram de doações. Vestido de anjinho, o pequeno Riquelme Pereira do Vale, 3 anos, não escondia a alegria de ganhar um caminhão azul. ;Vou brincar com meu carrão;, disse, abraçado ao embrulho maior do que ele.
Um dos dois filhos da faxineira Aparecida Carvalho, 23 anos, deixa a instituição este ano. ;É muito bom ter um lugar seguro para deixá-los. Assim, consigo sair para o trabalho tranquila, sabendo que eles estão em boas mãos;, afirma ela. Antes de conseguir a vaga na creche, Aparecida pagava uma babá para ficar com os meninos. ;Na creche, eles aprendem muitas coisas. O mais novo tinha dificuldades na fala, mas superou.; Grávida de oito meses, ela já sabe onde procurar auxílio quando o terceiro filho nascer. Porém, vai se deparar com uma fila de espera enorme. ;Falam em cerca de mil pessoas em busca de vaga aqui na creche;, comenta César Palvarini. As crianças chegam à instituição por meio dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras).

Falta teto


Entre as principais necessidades da instituição está a construção de um refeitório. Atualmente, elas almoçam em espaço aberto e ficam vulneráveis às mudanças do tempo. ;Quando chove ou venta muito, fica complicado;, explica Palvarine. Outra urgência é a reparação do muro que cerca a instituição. As chuvas fortes deste mês derrubaram parte da edificação. ;Qualquer doação ajuda, mas de imediato estamos precisando de materiais de construção;, avisa a tesoureira da Creche Bem me Quer, Nelma Palvarini. ;Mas tudo que vier será bem-aproveitado;, lembra.


Os convênios com as secretarias de Educação e de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda cobrem, segundo César Palvarini, 90% dos gastos da instituição. ;Os outros 10% são recursos da mantenedora da instituição, a Oasis.; Melhorias estruturais são possíveis por conta das parcerias, como a do Correio Braziliense Solidário, que, este ano, doou à creche móveis e equipamentos. (M.S.)

Colabore também

Creche Bem me Quer
Telefone: 3335-3107.

Para ajuda em dinheiro
Banco do Brasil, agência 2881-9,
conta-corrente 60987-0.