O Hotelzinho São Vicente de Paula, em Planaltina, abrigava mais 50 crianças em um espaço abandonado onde poderia haver somente 30. A casa precisou mudar de endereço e hoje atende 85 meninos e meninas. Contra a vontade de alguns moradores da Avenida XV de Novembro, a creche se estabeleceu em uma casa de 142 anos, que faz parte do Patrimônio Histórico de Planaltina. O próximo desafio é regularizar a casa, para que seja possível obter alguma contribuição fixa do
governo.
Como a creche ainda não conseguiu um convênio por meio da Secretaria de Educação, todas as despesas são pagas com doações. Dos 66 infantários de Planaltina, apenas um conta com apoio do governo. Nos últimos três anos, a instituição tem lutado para manter as portas abertas e pagar o salário dos funcionários. Ana Patrícia de Oliveira, presidente da creche, passa os dias buscando alimentos, material e dinheiro doados pelos padrinhos do comércio local. São vários parceiros para cada necessidade: café da manhã, material de limpeza, material escolar e outros itens vêm de diversos comerciantes. A instituição ainda conta com a coleta da missa das três paróquias de Planaltina, mas o dinheiro arrecadado ainda não é suficiente.
Contas
A presidente da creche conta que o maior desafio é pagar as contas na época de fim de ano. Sem ter como pagar o 13; salário dos 12 funcionários, a direção não pode sequer pensar em promover festas de fim de ano. Segundo Ana Patrícia, as contas de janeiro e fevereiro se tornam mais um problema, pois as doações de fim do ano não são suficientes para arcar com as despesas da época. Graças à ajuda do Correio Braziliense Solidário, foi possível reformar a estrutura da casa, que ainda mantém as antigas portas feitas de pau-brasil. Ana Patrícia deixou o emprego de assistente social para se dedicar integralmente ao São Vicente de Paula. ;O fundamento nessa creche é amar acima de tudo;, resume a presidente.
A creche também promove visitas de assistentes sociais às casas das crianças para orientar os pais a cuidar corretamente dos filhos e a manter o sustento do lar. Como as vagas são escassas, os profissionais ainda verificam se a situação dos pequenos requer de fato atendimento gratuito. A preferência é pelas mães que trabalham fora e criam mais de três filhos. Comprovada a carência, as famílias recebem cestas básicas, roupas e até mesmo atendimento médico. ;Não adianta ter uma criança bem cuidada e sem piso. Assim você vê as famílias progredirem;, avalia Ana Patrícia.
No começo, um barracão de igreja
; Mariana Sacramento
Em Ceilândia, o Centro Comunitário da Criança (CCC) surgiu da necessidade de um grupo de mães que não tinham com quem deixar os filhos para trabalhar. Elas se revezavam entre os cuidados dos pequenos e os compromissos profissionais. Naquela época, no início dos anos 1980, a instituição funcionava com 20 crianças, no barracão da Igreja São Marcos e São Lucas. Hoje, conta com quatro unidades ; todas em Ceilândia ; e atende
1,2 mil meninos e meninas. ;Acho que eu não teria uma infância mais feliz e saudável. Aqui na creche, fiz muitos amigos e aprendi a ser gente;, afirma a presidente do CCC, Hellen Louise Moreira de Paula, 27 anos.
A mãe de Hellen, a professora Luzia Moreira de Paula, 55 anos, é a principal responsável pela criação do CCC. Ela sentiu na pele a dificuldade de conciliar as atividades como docente e os cuidados com os seus quatro filhos. ;Se hoje é complicado, imagina naquele tempo;, compara. Atualmente, é Hellen que cuida do trabalho iniciado pela mãe. ;Quando ;a jiripoca está piando;, a gente recorre ao método usado no começo: convocamos as mães para ajudar. Quem sabe fazer comida vai para cozinha, quem é professora dá aula e por aí vai.;
Parte das despesas da instituição vem do dinheiro proveniente de convênios selados com as secretarias de Educação e de Desenvolvimento Social, Transferência e Renda, ambas do GDF. A verba pública não se estende a todas as crianças assistidas. ;O convênio alcança apenas 600 crianças, sendo a outra metade acolhida graças a doações e a parcerias como a do Correio Braziliense Solidário;, informa Hellen.
A creche também promove festas e bazares para reforçar o caixa. ;Aqui, precisamos de tudo. O que vier será bem-vindo. O que a gente quer é que antes da doação venha o amor. Se uma tampinha de garrafa for doada com amor, ela é capaz de fazer milagres;, acredita a diretora.
Alimentação
Para driblar a falta de recursos, a direção da creche evita desperdícios. Na cozinha, tudo é reaproveitado. Sementes, cascas, caules e folhas das frutas e hortaliças viram doce, suco, bolo. Além de econômica, a medida é nutritiva. ;As crianças aprendem logo cedo a se alimentar dessa maneira e cobram em casa comidas mais saudáveis;, comenta Hellen. Parte das verduras é cultivada na horta da instituição, também explorada pela crianças como fonte de conhecimento.
A assistência do CCC não se limita às crianças. Para as mães ociosas, a casa oferece oficinas de tecelagem, tapeçaria, alimentação alternativa e corte e costura. ;É uma possibilidade de elas aprenderem uma profissão e ao mesmo tempo estarem perto dos filhos. A ideia é fortalecer o vínculo familiar;, explica a diretora. ;Se não houvesse essa oportunidade, eu não teria como trabalhar. Ao mesmo tempo em que garanto a minha renda, meu filho está em boas mãos;, afirma Elaine Batalha, 40 anos, mãe de Juan, 4 anos.
Mesmo sendo voltadas às famílias dos assistidos, as oficinas também são abertas à comunidade. ;Estou desempregada e vi no curso a oportunidade de arrumar um trabalho;, disse Valdiana Nascimento, 38 anos, participante da oficina de corte e costura.
Para colaborar
; São bem-vindos ao Hotelzinho São Vicente de Paula os padrinhos que quiserem contribuir com qualquer quantia em dinheiro mensalmente, ou mesmo com materiais que possam ser aproveitados pelas crianças. Somente este ano, a creche precisa arrecadar R$ 3 mil para pagar o 13; salário dos funcionários. Contato: 3389-9666.
Como contribuir
; Qualquer doação é importante e será bem aproveitada, mas as 1,2 mil crianças do CCC precisam especialmente de material didático. Produtos de limpeza, roupa, alimentos, lâmpadas, torneiras e voluntários para prestação de serviços gerais estão entre as maiores necessidades. Telefone: 3585-9093