O fim do ano se aproxima e se renovam as esperanças de viver em um mundo cada vez melhor. Nesta época, os shoppings ficam lotados e muita gente se esquece de que a construção de um futuro próspero está intimamente relacionada ao consumo responsável, ou seja, à adoção de práticas que envolvam desde redução de gastos e planejamento de compras até a escolha de empresas comprometidas com a sociedade e o meio ambiente, além do estímulo à reciclagem e de hábitos alimentares mais saudáveis, com a preocupação sobre a origem dos produtos.
Nesse panorama, as boas intenções dos consumidores brasileiros ainda não se consolidaram em comportamentos. Embora o grupo dos consumidores conscientes tenha crescido em 500 mil pessoas nos últimos quatros anos, de 2006 a 2010, a parcela da população com um nível de compreensão mais elevado sobre a importância de atitudes responsáveis de consumo permaneceu em 5%. Os dados são do levantamento inédito O consumidor brasileiro e a sustentabilidade: atitudes e comportamentos frente o consumo consciente, percepções e expectativas sobre a responsabilidade social empresarial, realizado pelos institutos Akatu e Ethos.
A pesquisa ouviu 800 mulheres e homens, a partir de 16 anos, de diferentes classes sociais, em Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE), Belém (PA), Goiânia (GO), Manaus (AM) e Distrito Federal. De acordo com 13 comportamentos de consumo que indicam menor ou maior grau de consciência em assuntos relacionados à economia, planejamento de gastos e recursos, reciclagem e compras sustentáveis, os entrevistados foram classificados em quatro grupos: indiferentes, iniciantes, engajados e conscientes (faça o teste abaixo e descubra que tipo de consumidor você é).
;Esses 13 hábitos de consumo estão relacionados a mais de 100 outros comportamentos. O consumidor consciente é aquele que adota práticas cujos benefícios são coletivos e ocorrem a longo prazo. Ele tem compreensão de que não há consumo que não tenha impacto sobre a sociedade e o meio ambiente. Então, tentará maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos, ainda que com ações individuais;, explica o presidente do Instituto Akatu, Hélio Mattar.
Enquanto o grupo dos consumidores conscientes permanece em 5%, a parcela dos compradores indiferentes aumentou de 25% para 37% nos últimos quatro anos. Já os segmentos de iniciantes e de engajados reduziram em 7 e 5 pontos percentuais, correspondendo aos 12 pontos percentuais de crescimento dos indiferentes. Hélio Mattar atribui isso ao crescimento da economia brasileira. ;Com a redução do desemprego, das taxas de juros e a melhoria de crédito, mais pessoas passaram a consumir. Alguns hábitos do consumo consciente, como redução de gastos e planejamento de compras, deixam de existir. Isso porque eles não eram feitos de forma consciente, mas sim pela necessidade imediata;, explica Hélio Mattar.
A servidora Neila Oliveira Costa, 53 anos, está entre os 5% dos consumidores conscientes. ;Evito usar embalagem plástica e recolho o lixo de forma seletiva;, conta. ;Outra atitude é evitar o desperdício. Compro somente o necessário e faço doações do que não preciso mais. Também tenho o hábito de consumir produtos reciclados;, acrescenta. E, na hora das compras, Neila dá preferência para empresas que têm programas de sustentabilidade. A moradora do Sudoeste Renata Melo, 47 anos, também adota uma postura responsável. ;Procuro ser uma consumidora consciente. Há alguns anos, troquei as sacolas plásticas pelas ecológicas e também dou preferência para produtos orgânicos.;
De acordo com a pesquisa, esses comportamentos que pressupõem maior nível de consciência, ligados ao segmento de compras sustentáveis, têm todos menos de 30% de consumidores que o praticam, assim como a separação do lixo para reciclagem. Outro desafio é traduzir o termo sustentabilidade, que é considerado abstrato: cerca de 56% dos consumidores nunca ouviram falar nele. Outros 19% ainda o definiram de forma errada. O termo significa promover desenvolvimento de forma a satisfazer a geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprirem as suas próprias necessidades.
A pesquisa observou um interesse baixo a respeito da responsabilidade social das empresas. Apenas 16% afirmam buscar informações sobre o assunto. Mas os consumidores premiam empresas responsáveis e punem as menos comprometidas. Eles repudiam a propaganda enganosa e o tema que mais conta pontos positivos são as relações de trabalho: 80% apontam o desenvolvimento de alguma ação ligada à dimensão ;direito das relações de trabalho; como importante para que uma empresa seja considerada socialmente responsável. Para a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Adriana Charoux, o desafio é grande porque ainda há uma distância enorme entre a consciência sobre os problemas socioambientais que afetam a vida do planeta e a mudança de hábito.