O poder de transformar o sofrimento em aprendizado deixou sementes em Samambaia. Na QR 419, a Associação Nossa Senhora Mãe dos Homens, um creche filantrópica, cuida de 200 crianças, 80 delas em período integral. A instituição foi fundada por uma professora da rede pública, que conheceu de perto o que o descaso com a formação do ser humano pode causar.
Um aluno adolescente envolveu-se com o tráfico e outros crimes. A educadora convenceu o menino a deixar a violência e seguir o caminho do bem. Pouco depois de se enquadrar na nova vida, entretanto, o jovem foi assassinado por ex-colegas do tráfico. A professora decidiu criar um projeto de assistência que valorizasse o melhor em cada pessoa, oferecendo educação e lazer na infância. Ela acreditava que preparar os jovens para serem cidadãos do futuro daria resultado. Começou ajudando 15 crianças, depois de ganhar do governo o direito de usar um prédio público para a atividade.
Os pais do garoto morto, porém, não gostaram da ideia. Suspeitaram das boas intenções da professora. Por isso, a fundadora teve de retirar do projeto o nome do adolescente, que batizava o centro assistencial. E, por ter sofrido retaliações, não mais vinculou o próprio nome à instituição, com a qual colabora ainda hoje, mas sem presidi-la. A associação é uma das beneficiadas pelo Correio Braziliense Solidário, programa de assistência a creches comunitárias, mantido pelo jornal.
Este ano, os Diários Associados ajudaram a professora a trocar todo o telhado da instituição. A equipe colaborou também com doação de colchões, lençóis e brinquedos. Mas ainda há todo um caminho pela frente: falta muito para oferecer conforto às crianças matriculadas ali. A creche tem convênio com a Secretaria de Educação e com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest).
Assistência
O repasse de verba pública ; que muitas vezes atrasa ; garante o pagamento dos 35 funcionários. Mas é preciso comprar comida, pagar contas de água, luz, telefone, fazer reformas; A lista das necessidades parece não ter fim. Por isso, qualquer ajuda é sempre bem-vinda. As crianças assistidas ali têm entre 1 e 10 anos de idade. Até os 4, elas ficam separadas em um prédio. Chegam às 7h e vão embora somente às 18h. Fazem cinco refeições e tomam banho no local.
Dessa idade em diante, convivem em outro espaço, somente durante meio período, no contraturno dos estudos regulares. Mas também ganham almoço e lanche. Professoras ajudam os estudantes com o dever de casa. Ministram também oficinas de leitura e redação, para os maiores. Há somente um voluntário entre aqueles que trabalham na associação.
O perfil dos assistidos é parecido: são crianças em situação de vulnerabilidade social. Ou seja: estão constantemente sob a ameaça de envolvimento com drogas, muitas vezes estão expostos à violência doméstica ou vivem na pobreza. Os pais precisam trabalhar e não têm com quem deixar os filhos. Se não recebessem apoio da creche, os meninos e meninas hoje saudáveis e bem-alimentados provavelmente viveriam outra realidade.
Recentemente, os mesmos fundadores da associação criaram uma extensão do projeto, um Centro Educativo Formativo, no Núcleo Bandeirante. Com uma diferença: ali serão atendidas pessoas com mais de 14 anos, com o objetivo de formação profissional e de alcançar sucesso no vestibular. De acordo com a diretora pedagógica da creche, Cynthia Araújo, manter cada uma das crianças na instituição custa, em média, R$ 300. ;É um custo alto, que só podemos bancar com a ajuda de parceiros e doações;, explicou a diretora.
SOLIDARIEDADE É O FUNDAMENTO MAIOR
Ainda em Samambaia, na QS 109, um outro exemplo de dedicação à comunidade faz a diferença. A Creche Semente de Luz (Seluz), mantida por um centro espírita, atende 90 meninos e meninas entre 1 ano e 6 meses e 4 anos. Gente muito pequena, que já aprendeu, por exemplo, a importância da organização e da disciplina.
Quando chegam à instituição, muitas vezes, as crianças não têm noção de que é preciso seguir horários. Ali aprendem a se organizar. ;Os pais ficam impressionados. Eles chegam em casa querendo ensinar. Dizem: ;Agora é hora do almoço. Não pode falar de boca cheia;. A gente se orgulha de formá-los para o bem;, relatou a diretora pedagógica da Seluz, Maria Valderez de Lima.
Na creche, o pedagógico e o social sempre andaram juntos. ;Começamos com apenas seis crianças. O lema é educar, cuidar e brincar;, explicou a coordenadora administrativa da Seluz, Antônia da Conceição de Oliveira. A maior parte das crianças sabe que estar na Seluz é a chance de ter um pouco de conforto e garantia de alimento todos os dias. ;Para alguns, o nosso último lanche é a última refeição do dia;, relatou Maria Valderez.
Manter o projeto custa dinheiro: é preciso remunerar 28 funcionários. Entre eles há professores, pedagogos, psicólogos e outros profissionais dedicados à educação e ao acompanhamento. A Sedest repassa mensalmente, por criança, R$ 168. A Secretaria de Educação, por sua vez, contribui com R$ 278.
Mas isso ainda não é suficiente. O governo não paga reformas e material permanente (como a mobília, por exemplo). Esse ano, o Correio Braziliense Solidário ajudou na expansão da creche. Com o novo espaço, mais crianças de várias idades poderão contar com o auxílio da Seluz.
COMO COLABORAR
Seluz: 3359-7888 e seluz@seluz.org.br
Associação Nossa Senhora Mãe dos Homens: 3359-5522.