Transição é época repleta de articulações. Governo eleito e a necessidade de montar a estrutura administrativa faz políticos se lançarem a campo para negociar espaços e conquistar cargos. No Distrito Federal, esse exercício começou oficialmente na semana seguinte ao resultado das eleições, em 31 de outubro, que apontou Agnelo Queiroz (PT) como futuro governador. A um mês da posse no Palácio do Buriti, as negociações para a composição do secretariado estão a todo o vapor, mas os nomes ainda não foram definidos. Para os mais impacientes, o novo chefe do Executivo está conversando muito e tomando poucas decisões.
Uma das razões para a demora está na formação do governo federal. Agnelo espera as indicações de Dilma Rousseff (PT) para a Esplanada dos Ministérios. O objetivo é tentar fazer dobradinhas entre os membros dos partidos, ou seja, nomear um secretário da mesma legenda do ministro da área para facilitar as conversas entre as duas esferas. De toda sorte, Agnelo prometeu anunciar, até o dia 20, todo o governo, de uma vez só. Segundo ele, não haverá ficha suja no comando das pastas, mas esse conceito não deverá ser muito rígido. Infrações consideradas menos graves, como multa por falta de cumprimento de prazo em gestões passadas, poderão ser perdoadas.
Enquanto não bate o martelo, o petista vai para o corpo a corpo. No feriado prolongado, Agnelo reuniu-se com líderes das siglas aliadas. Para ajudá-lo nas conversas, estão escalados os senadores eleitos Cristovam Buarque (PDT), Rodrigo Rollemberg (PSB) e o presidente do PT-DF, Roberto Policarpo. Os três foram incumbidos de percorrer as cidades para conversar com os representantes de grupos, partidos e movimentos a fim de apresentar nomes ao próximo chefe do Executivo. Aliás, agradar o grande número de legendas que ajudou a eleger o petista é uma das tarefas mais difíceis.
Nos bastidores, a disputa entre os grupos políticos está forte. Vários nomes foram ventilados e a especulação é grande. A deputada distrital Arlete Sampaio (PT) parece ser um dos raros consensos, até agora. Ela é cotada para assumir a pasta da área que conduz na fase da transição: Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest). ;Já falaram que eu poderia ir para a Saúde também, mas nada está decidido. É preciso conversar melhor sobre essas coisas e saber das condições;, afirma Arlete.
O secretário de Saúde nos primeiros três meses será o próprio governador, conforme prometido na campanha, mas o nome do braço direito e provável sucessor é do médico Rafael Barbosa. Amigo de Agnelo, ele também é responsável por coordenar os trabalhos do grupo que faz os levantamentos da área e definirá os primeiros passos para restaurar o serviço público. Entretanto, alguns acreditam que Barbosa não assumirá a pasta e se manterá sempre próximo ao colega.
Disputas
Uma das pastas mais concorridas é a da Educação. Um dos nomes cotados é de Antônio Lisboa, ex-presidente do Sindicato dos Professores (Sinpro), mas também são apontados Erastos Fortes, ex-diretor da Faculdade de Educação da UnB, e Marcelo Aguiar, ex-secretário do órgão. Aguiar é a opção articulada por Cristovam, que tem na área a principal bandeira. Outro aliado do senador também figura entre os prováveis membros do primeiro escalão. José Humberto foi presidente da Novacap na gestão do ex-governador e pode assumir a Secretaria de Obras.
A área é a preferida dos peemedebistas, mas é avaliado um possível desgaste caso a pasta seja entregue ao grupo do vice-governador eleito, Tadeu Filippelli (PMDB). Diante disso, o vice e o deputado federal da legenda Luiz Pitiman poderão indicar os presidentes de órgãos ligados às obras, como o Departamento de Estradas de Rodagem e a Novacap. De todo modo, a cúpula que coordena a formação do novo governo pretende não entregar nenhuma secretaria ou órgão de ;porteira fechada; a fim de acomodar todos os interesses. A estrutura do Executivo será remodelada.
O Legislativo também será influenciado pelas movimentações. Da Câmara Legislativa deverão sair, pelo menos, quatro secretários. Alírio Neto (PPS) e Chico Leite (PT) são lembrados para a Secretaria de Justiça, mas Leite pode acabar cuidando dos Transportes ; pasta de interesse do PT. Por sua vez, Joe Valle (PSB) é o mais cotado para assumir a Agricultura.
Na Câmara dos Deputados, um dos três petistas eleitos pelo DF deverá sair para dar lugar a Policarpo. Havia uma expectativa que Geraldo Magela fosse para um ministério na cota da tendência que faz parte, mas a vaga será ocupada por Maria do Rosário (RS). Agora, estudam-se novos arranjos, como de Paulo Tadeu na Secretaria de Esportes ou de Érika Kokay na de Direitos Humanos.
Seis grupos
A equipe de transição do governo Agnelo foi dividida em seis grandes grupos, compostos por subgrupos de diversas áreas. Cada um dos 13 partidos aliados tem até três representantes em cada setor. Os coordenadores dos grupos são: Arlete Sampaio (Social), José Valter Wasques (Gestão), Cláudio Avelar (Segurança), Chico Machado (Desenvolvimento Econômico), Vanderly da Costa (Fiscal, Tributário e Orçamento) e José Humberto (Infraestrutura). Eles são responsáveis por buscar os dados da atual gestão, fazer a avaliação das informações e propor um plano de trabalho para as áreas.
Alguns dos cotados
Nomes trabalhados pelos partidos e grupos políticos para ocupar o primeiro escalão do governo Agnelo
; Desenvolvimento Social ; Arlete Sampaio (PT)
; Educação ; Marcelo Aguiar, Antônio Lisboa, Erastos Fortes e Nadja Veloso
; Saúde ; Rafael Barbosa
; Trabalho ; Pasta de interesse do PDT, Jacques Pena (PT)
; Esportes ; Paulo Tadeu (PT)
; Turismo ; Marcelo Dourado e Geraldo Bentes (nomes ligados ao PSB)
; Agricultura ; Joe Valle (PSB)
; Desenvolvimento Econômico ; Gastão Ramos (PSB)
; Ciência e Tecnologia ; de interesse do PSB
; Justiça ; Chico Leite (PT), Alírio Neto (PPS)
; Transportes ; Chico Leite (PT)
; Obras ; de interesse do PMDB, José Humberto
; Habitação ; Jacques Pena (PT)
; Desenvolvimento Urbano ; interesse do grupo de Geraldo Magela (PT)
; Cultura ; Geraldo Magela (PT)
; Direitos Humanos ; Érika Kokay (PT)
; DER ; interesse do PMDB
; Novacap ; interesse do PMDB