Três meses depois de ir à Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra) apresentar propostas e pedir votos, Agnelo Queiroz (PT) voltou ontem à entidade, como governador eleito, para reforçar o compromisso com o setor. Em discurso dirigido a lideranças empresariais, o petista disse concordar com todas as reivindicações feitas a ele e se comprometeu em contribuir para que as atividades industriais ganhem força nos próximos quatro anos. Ele prometeu diálogo constante com os representantes de sindicatos e com a direção da Fibra.
Agnelo chegou com uma hora de atraso ao café da manhã, marcado para as 9h. Foi recebido no último andar da sede da entidade, no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), com muitos apertos de mão e tapas nas costas. Antes de sentar-se, cumprimentou um por um em quase todas as mesas espalhadas pelo local. Acompanhado do deputado federal eleito pela coligação petista Luiz Pitiman (PMDB) ; segundo vice-presidente da Fibra ;, o chefe do Executivo local a partir de 1; de janeiro ouviu durante 20 minutos os principais pedidos do setor.
Na lista, nenhuma novidade em relação ao que tinha escutado em 24 de agosto, quando abriu o ciclo de debates realizado pela Fibra com os principais candidatos ao Buriti. O programa apresentado a Agnelo consta na Carta da Indústria do DF, elaborada com a ajuda dos presidentes dos 10 sindicatos associados à federação. ;A partir de 2004, a indústria despertou, mas podemos avançar muito mais;, insistiu o presidente da Fibra, Antônio Rocha. Entre as propostas para impulsionar o setor, destacam-se a implantação do Parque Tecnológico Cidade Digital e a consolidação de polos industriais.
A indústria brasiliense responde, atualmente, por cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) local. A meta é alcançar, em 2015, 14,1%. ;Para isso, precisamos atrair empresas âncoras e impedir que as nossas deixem o DF;, comentou o superintendente do Serviço Social da Indústria do DF (Sesi-DF), Adonias Santiago, que conduziu a apresentação das propostas a Agnelo. Ele ressaltou a importância da construção de malhas ferroviárias ligando o DF ao restante do país e da criação de um programa de governo com regime de tributação especial para a indústria.
Durante o encontro, que durou quase duas horas, Agnelo também ouviu o que outras unidades da Federação têm feito pelo setor, principalmente nas áreas de infraestrutura e tributação. ;É a vez de o Distrito Federal fazer o dever de casa;, afirmou o governador eleito, no início de seu discurso. Ele anunciou que vai trabalhar em conjunto com a Fibra para atender às reivindicações dos empresários. ;Assino embaixo de tudo o que me foi apresentado. Vamos marchar juntos;, completou, antes de reforçar que usou as propostas da entidade em seu programa de governo.
Gargalo
Agnelo se solidarizou com os empresários quanto à falta de mão de obra especializada, um dos gargalos do desenvolvimento industrial. Ele pontuou promessas de campanha, como a construção de escolas técnicas em todas as regiões administrativas e a propagação de cursos de formação voltados principalmente para jovens de baixa renda. ;Quero priorizar a formação humana;, disse o petista. Segundo ele, com a ajuda dos empresários, será possível atingir a meta de elevar a participação no PIB para 14,1% antes de 2015. ;Faço uma intimação para que trabalhemos juntos;.
Depois do encontro, os empresários se mostravam esperançosos com o próximo governo. O presidente do Sindicato da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Elson Ribeiro e Povoa, convidou Agnelo para conhecer as propostas específicas do segmento e aproveitou para dizer que está apreensivo com a continuidade de obras públicas ; de pequeno e grande porte ; que já estão sendo tocadas. ;Sabemos que estamos perdendo muitos recursos;, comentou Povoa. O governador eleito aceitou o convite para conversar com a direção do Sinduscon.
O presidente do Sindicato das Indústrias da Informação do DF (Sinfor-DF), Jeovani Ferreira Salomão, encheu Agnelo de elogios, antes de pedir a ele que faça sair do papel a Cidade Digital. O petista assumirá o governo com a primeira obra do polo tecnológico em andamento. Salomão destacou que o projeto será fundamental para a expansão da indústria de softwares e de tecnologia da informação. A Cidade Digital, a ser construída próxima à Granja do Torto, teve registro em cartório em outubro de 2009. Quando concretizada, abrigará cerca de 2 mil empresas e criará mais de 80 mil empregos.
Recém-empossado no cargo de presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário do DF (Sindiveste-DF), Paulo Eduardo Montenegro não perdeu a oportunidade de chamar a atenção do governador eleito. Pediu a palavra e exaltou o segmento, que exporta peças para fora do DF e do país. As cerca de 800 fábricas de vestuário, responsáveis por cerca de 10 mil empregos, devem movimentar até o fim deste ano algo em torno de R$ 500 milhões. ;Precisamos de um cuidado especial;, disse Montenegro. Agnelo prometeu cumprir todos os pedidos. ;Vamos cobrar;, avisou Antônio Rocha.
Investimentos
Na edição de 2010 da Carta da Indústria do DF, principal documento do setor, os empresários defendem que passou da hora de os governos local e federal reconhecerem a necessidade de investimento no parque industrial da capital do país e do Entorno. O texto, concluído em agosto, sugere ações concretas para impulsionar a indústria na região, com medidas de regulação, infraestrutura e incentivos fiscais e financeiros. A carta dá continuidade ao Plano Estratégico de Desenvolvimento Industrial do DF, divulgado pela Fibra em 2006.
COMÉRCIO PEDE A LEGALIZAÇÃO DO DF
; Não foram apenas os representantes dsa indústrias que fizeram pedidos ao governador eleito do DF, Agnelo Queiroz (PT). O comércio varejista também já apresentou uma lista de reivindicações. O presidente da Federação do Comércio de Bens, Turismo e Serviços do DF, Adelmir Santana, conversou informalmente com Agnelo sobre a situação de 11,5 mil estabelecimentos que estão impossibilitados de obter alvará desde a derrubada das leis distritais que permitiam a concessão das licenças precárias ou provisórias. Santana falou com o governador eleito após decisão do ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF), que negou liminar pedida GDF. ;Creio que não é mais o caso de recorrer à Justiça. Temos que legalizar o DF;, declarou. Santana propõe uma alteração na Lei Orgânica do DFl para flexibilizar a ocupação e uso do solo. ;Agnelo prometeu ajudar o setor;, garantiu o empresário.