Montalvânia (MG) - ;Ele é um homem que tinha medo até de matar barata dentro de casa;, afirma a moradora de Montalvânia Dalila de Fátima da Mota. A pessoa a quem Dalila se refere é o seu ex-marido, o ex-porteiro Leonardo Campos Alves, de 44 anos, que confessou um crimes mais brutais já ocorridos na capital federal: as mortes do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da empregada Francisca Nascimento da Silva, 58. Eles foram mortos com 73 facadas. O triplo assassinato ocorreu no apartamento do casal, em 28 de agosto de 2009. Leonardo trabalhou como porteiro do bloco onde ocorreram as mortes. O ex-porteiro agiu na companhia de um comparsa, Paulo Cardoso Santana, que também confessou envolvimento no crime.
;O Leonardo não tinha coragem de matar uma mosca. Toda vez que entrava algum inseto dentro de casa, ele chamava outra pessoa;, afirma Dalila, ao revelar sua surpresa quando soube que o ex-marido foi um dos principais responsáveis pelo crime ocorrido na 113 Sul. Entre os moradores de Montalvânia ; cidade de 16 mil habitantes, a 700 quilômetros de Belo Horizonte, no extremo Norte de Minas Gerais (divisa com a Bahia) ;, o sentimento é de total surpresa com a descoberta da participação de Leonardo em um crime tão brutal, pois, até então, ele era considerado um homem tranquilo, sem desavenças com ninguém. ;Se eu não assistisse à confissão dele pela televisão, eu não iria acreditar nunca que ele fez uma barbaridade dessa;, afirma a ex-mulher de Leonardo.
Ela disse que o ex-porteiro, com quem viveu durante oito anos e teve dois filhos, sempre demonstrou ser uma pessoa calma. ;No bar dele, por exemplo, o Leonardo sempre dava conselhos aos meninos para não usarem drogas;. Dalila guarda álbuns de fotografias que mostram o ex-marido como um homem dedicado à família, carinhoso com os filhos e sempre presente em eventos como batizados e missas.
Três casamentos
Nascido do Maranhão, Leonardo mudou-se para Distrito Federal aos 14 anos, levado pelos dois irmãos mais velhos, Ribamar e Joedi. Logo depois que chegou a Brasília, começou a trabalhar num frigorífico. Na mesma época, quando morava em Taguatinga, conheceu Marileide da Conceição Freire, a Lela, natural de Montalvânia, que viria a ser sua primeira mulher, com quem viveu durante cerca de 12 anos e teve dois filhos: Dantas e Frank ; os dois estão presos, o primeiro na Papuda e outro em Montalvânia, por envolvimento em assaltos e com o tráfico de drogas.
;Ele sempre foi um homem trabalhador, legal e muito educado;, afirma Divina Rodrigues Neves, ex-sogra de Leonardo. Divina conta que morava em Taguatinga e recorda quando o ex-genro chegou ao DF. Ela disse que depois que retornou a Montalvânia (sua terra natal), por várias vezes hospedou Leonardo em sua casa e nunca percebeu nada de estranho. ;Ele não bebe nem fuma.;
O clima de tristeza e decepção também tomou conta dos vizinhos de Leonardo na cidade do interior mineiro. Nos últimos dois meses, ele morou numa casa alugada. O imóvel pertence ao chapa de caminhão Teodoro Moura Lima, que mora na residência ao lado. ;Duvidei na hora que me falaram que o Leonardo matou o ex-ministro em Brasília. Levei um susto quando o vi o caso pela televisão.; Ele disse que alugou a casa para o ex-porteiro por R$ 100 mensais e que o pagamento foi feito em dia.
Tentativa de suicídio
Embora vizinhos e outras pessoas que conheceram Leonardo Campos Alves em Montalvânia garantam que o ex-porteiro é uma pessoa tranquila, no passado, no pouco tempo que morou na cidade, ele teria ateado fogo na casa de familiares e tentado suicídio. O fato aconteceu logo após o triplo assassinato no apartamento da família Villela, mas foi relacionado ao fim da relação de Leonardo com a mulher. Conforme informações apuradas em Montalvânia, quando ainda morava em Brasília, Leonardo já não estava mais se dando bem com sua terceira companheira, Damares (que é irmã da segunda ex-mulher, Dalila).
Assim que o casal chegou a Montalvânia, Damares iniciou o curso supletivo. Rompeu em definitivo com Leonardo e começou um relacionamento com um colega de curso. Inconformado com o rompimento, Leonado teria tentado se matar. ;Ele chegou aqui e disse que estava com vontade de se suicidar. Dei a ele conselho para não fazer isso não;, recorda Messias Santana Mota, ex-sogro de Leonardo. Messias disse que, pouco depois, o ex-genro ateou fogo na casa e continuou dentro da residência. Os vizinhos perceberam e conseguiram salvá-lo. Leonardo não sofreu queimaduras, mas inalou muita fumaça e ficou quatro dias internado no hospital da cidade.
O ex-sogro disse que a suposta tentativa de suicídio foi a única ocasião em que viu o Leonardo transtornado. ;Ele sempre foi uma pessoa muito tranquila. Todos aqui ficaram abalados com o crime que ele cometeu em Brasília;, afirmou Messias. (LR)
Aumento patrimonial
Leonardo Campos Alves já foi casado por três vezes e todas as suas ex-mulheres são de Montalvânia. Por isso, ao longo dos mais 25 anos que morou em Brasília, ele sempre manteve contato com a cidade do norte de Minas. Em abril de 2009, depois de perder o emprego no prédio da 113 Sul, ele mudou-se para Montalvânia em definitivo. Ainda no segundo semestre do ano passado, o ex-porteiro começou ostentar melhoria financeira, embora não estivesse trabalhando.
Ele montou um bar e uma pequena loja no centro da cidadezinha, passando também a fazer viagens constantes para comprar mercadorias, principalmente em Montes Claros, onde, em depoimento prestado à polícia na última terça-feira, confessou ter vendido as joias e grande parte dos dólares que foram levados do apartamento dos Villela.
Para justificar o crescimento patrimonial, Leonardo afirmou que o dinheiro era resultado da indenização trabalhista que havia recebido do condomínio do prédio onde trabalhava. Contou que recebeu um valor maior porque ajuizou uma ação por ter sofrido um problema nas vistas, provocado pelo sistema de vídeo do prédio, e ganhou a pendência.
Com a justificativa, o verdadeiro motivo do enriquecimento do ex-porteiro não despertou questionamentos por parte dos moradores de Montalvânia. Mas a nova condição não passou despercebida pela polícia. Foi aberta uma investigação na delegacia local para investigar a origem dos rendimentos, sendo averiguada a suspeita do envolvimento dele com o tráfico de drogas.
;Um fato que motivou a investigação é que o Leonardo sempre foi um homem sinistro, misterioso;, relata o delegado de Montalvânia, Renato Nunes Henriques, acrescentando que, por mais de uma vez, o ex-porteiro foi chamado a prestar depoimento, mas nada foi descoberto contra ele até a sua prisão pelo envolvimento no crime no DF.
Embora Leonardo tenha demonstrado crescimento patrimonial, nos últimos oito meses, ele atrasou o pagamento da pensão alimentícia à ex-mulher Dalila. ;Não sei se ele fez isso intencionalmente. Mas a verdade é que ele alegou estar sem poder pagar a pensão.; Com a prisão de Leonardo, ela passou a cuidar da loja de bijuterias que ele mantinha no centro de Montalvânia, como uma maneira de garantir renda para cuidar dos filhos. ;Foi a polícia que autorizou isso;, relata. Ela disse que também foi autorizada a continuar com o bar que pertencia ao ex-marido, mas que preferiu fechar o estabelecimento. (LR)