Jornal Correio Braziliense

Cidades

Clima das reuniões promovidas na casa de Déborah Guerner era tenso

A residência da promotora de Justiça Déborah Guerner e do empresário Jorge Guerner, na QI 23 do Lago Sul, era ponto de encontro de diversas autoridades e empresários brasilienses. As câmeras de vídeos instaladas na casa e empregadas do casal flagraram visitas de mais de uma dezena de pessoas estranhas ao círculo familiar e pessoal dos proprietários. Os visitantes promoviam reuniões com os Guerner em horários e dias diversos, muitas delas em clima de tensão. O ex-procurador-geral de Justiça Leonardo Bandarra costumava frequentar o local por volta da meia-noite e era recebido na sala da propriedade, onde mantinha conversas ao pé do ouvido com a colega.

O casal e Bandarra são acusados de fazer parte de um suposto esquema de corrupção no governo de José Roberto Arruda (sem partido). Eles foram denunciados pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa de receberem R$ 1,6 milhão em troca de informações sigilosas do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), além de interferirem em procedimentos internos do órgão, em casos como o da coleta de lixo. Durval manteve uma relação próxima com o grupo e estabeleceu codinomes para tratar da suposta distribuição de propina. A residência do casal era chamada de ;Igreja;, Deborah era a ;Missionária; e o ex-secretário, o ;Pastor;.

Entre os fiéis frequentadores, foram identificados os ex-governadores Arruda e Joaquim Roriz (PSC), o ex-secretário de Obras Márcio Machado (PSDB), os empresários Marcelo Carvalho, José Carlos Sotério e os irmãos Roberto e Renato Cortopassi, além dos servidores públicos Cláudia Marques e Wagner Macau. As visitas estão registradas em depoimentos e em gravações em áudio e vídeo, além de terem sido confirmadas pelas empregadas do casal.

Os irmãos Cortopassi eram os visitantes mais assíduos. Eles são donos da WRJ Engenharia e, de acordo com investigações do Centro de Inteligência do MPDFT, seriam sócios de Jorge Guerner na Solurb International LLP. A WRJ contraiu uma dívida de R$ 5 milhões com o Banco Regional de Brasília. Segundo Durval, a promotora teria entregue a um dos donos da empresa o vídeo em que Arruda aparece recebendo dinheiro com o intuito de pressionar o ex-governador para abater o débito. A empresa também teria sido favorecida em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), em 2006, para construir o aterro sanitário do DF ; o que não prosperou.

Rotina

Algumas visitas seguiam uma rotina. Enquanto o ex-procurador-geral de Justiça chegava no fim da noite, Durval preferia aparecer mais cedo, entre as 19h e as 22h. Figura carimbada na residência, Cláudia Marques é amiga de Deborah há mais de 10 anos e, de acordo com o MP, participou do suposto esquema de corrupção. Ela, os Guerner e Bandarra foram denunciados pelo Ministério Público Federal por formação de quadrilha e concussão.

As pessoas citadas negam qualquer tipo de envolvimento irregular com o casal Guerner. Macau era secretário da promotora e diz que apenas levava os processos do gabinete para a residência dela. Por sua vez, o presidente do PSDB diz que não tinha contato com Deborah e só conhecia o marido. ;Não frequentava a casa deles;, afirma Machado. O advogado de Bandarra, Cezar Bittencourt, diz que a relação dos promotores era informal e não tratava de irregularidades. ;Não existe prova dele negociando qualquer coisa espúria. A única coisa que existe é o depoimento de um desonesto e corrupto;, critica.

Revelações
Os vídeos apreendidos na residência mostram Bandarra chegando de moto ao local e retirando o capacete apenas no interior da residência. Em outra imagem, gravada em 29 de novembro de 2009, dois dias após a Operação Caixa de Pandora, Jorge Guerner fala com a mulher sobre como esconder dinheiro em um cofre camuflado a fim de despistar possível investigação. Dois mandados de busca foram cumpridos na residência, com a apreensão dos vídeos, de documentos e de dinheiro escondidos no jardim do terreno.