Um homem tranquilo, reservado e simples. Assim Leonardo Alves, 44 anos, é descrito por amigos e conhecidos. A equipe do Correio foi até Pedregal, no Novo Gama (GO), onde ele morou com familiares durante 10 anos. Na mesma cidade reside um outro porteiro do Bloco C, com quem Leonardo trocava a escala de trabalho. ;Eu nunca fui de frequentar a casa dele, nem ele a minha. Só o conhecia do trabalho. Pra mim, ele era gente fina, só isso;, comentou o funcionário, que pediu para não ter o nome publicado. ;Apesar de eu estar de plantão no dia do assassinato, hora alguma vi o Leonardo, muito menos o deixei entrar. O sistema de câmeras não funcionava na época e há três entradas. Pela frente, ele não entrou;, completou o homem.
Moradores do Pedregal disseram que ex-porteiro do Bloco C mudou de endereço por três vezes ; todos alugados. A reportagem visitou os três locais. Em um deles, funciona atualmente um supermercado. Funcionários disseram que há cerca de seis meses Léo, como era conhecido, teria ido ao estabelecimento. ;Ele esteve aqui duas vezes seguidas, mas não me lembro o que ele comprou. Foi após o crime, mas sei que ele estava normal, da mesma forma que sempre foi: tranquilo. Não dava para desconfiar de nada. Ele era uma pessoa boa, tinha vários familiares na região: cunhado, irmão, mulher. Acontece que nenhum deles mora mais por aqui;, disse um dos funcionários do supermercado.
Na 113 Sul, o crime é o assunto da vez. O quiosque Via Lanches estava cheio no começo da tarde de ontem. Pelo menos 20 pessoas conversavam e se espremiam para assistir à TV, colocada em local estratégico, por ocasião especial. Parecia até dia de jogo de futebol, mas tratava-se de uma entrevista. Amigos e conhecidos do ex-porteiro do Edifício Leme Leonardo Campos Alves não queriam perder nenhum detalhe das declarações dele sobre o crime que chocou a capital do país.
Perplexidade
Todos os espectadores se mostraram perplexos com a confissão do antigo colega. Leonardo contava, com detalhes, como executou as três vítimas (o casal Villela e a empregada) em 28 de agosto de 2009. Alguns chegaram a levantar das cadeiras, gritar, dizendo que ele falava mentiras. Outros ponderavam ao comentar que o ex-porteiro era um dos únicos a ter acesso privilegiado ao prédio, às chaves e aos apartamentos do Bloco C. ;Realmente, ele conhecia a rotina do casal. Ambos eram muito metódicos. Não teria sido difícil entrar dizendo ser o Leonardo que todos conheciam;, sugeriu um homem, que preferiu não se identificar. ;Ele era uma pessoa tão tranquila, amigo. Se ele não estivesse do outro lado, estaria aqui tomando café com a gente, como sempre fazia;, completou outro.
Ainda de acordo com conhecidos de Leonardo, o ex-porteiro casou-se mais de uma vez e, com uma das mulheres, tem uma filha ; uma menina com necessidades especiais, de quem falava rotineiramente. ;Ele dizia que ela era muito doente e que gastava muito dinheiro com medicamentos. Se foi pela filha, ele tem lá suas justificativas;, opinou um outro conhecido do ex-porteiro. Atualmente, Leonardo era separado, morava em Montalvânia (MG), a 640 quilômetros de Brasília. Lá, foi preso na última segunda-feira.
O porteiro do Bloco D da 113 Sul Benício Silva, 41 anos, relevou ter acreditado nas novas revelações sobre o caso somente após ter lido os jornais. ;Ele era uma pessoa aparentemente honesta, tranquila, ;na dele;. Desde que trabalho aqui, há 10 anos, nunca ouvi nada contra o Leonardo. Nem da briga dele com o Marcos eu sabia;, comentou. Ele se refere a Marcos Santana, um dos atuais porteiros do Bloco C, com quem Leonardo brigou cerca de seis meses antes do triplo homicídio. A Polícia Civil confirmou ao Correio o registro do desentendimento na 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), mas não quis dar mais detalhes sobre o caso. Especula-se que Leonardo teria puxado uma faca para Santana.
Indicação
De acordo com um antigo empregado do Edifício Leme, os funcionários do local, incluindo porteiros e zeladores, costumam ser contratados mediante indicação de condôminos. Ele acredita que esse tenha sido o caso de Leonardo, que permaneceu como funcionário do local durante 15 anos no Bloco C. ;Eu conhecia o Leonardo de vista. Ele sempre ficava num quiosque aqui na frente. Era conversador, brincalhão. Desde que aconteceu o crime, nunca parei para pensar que poderia ter sido ele;, afirmou Antônio Paulino, 38 anos, porteiro do Bloco G da mesma quadra.
Apenas um dos funcionários do Bloco H, que preferiu não se identificar, descreveu Leonardo Alves como uma pessoa rude. ;Eu só fui duas vezes naquele bloco para pegar jornal. Em uma das vezes, ele foi grosso comigo e disse que não era para ninguém mais meter a mão ali;, descreveu.
Colaborou Leilane Menezes
Demissão
Leonardo Campos Alves, 44 anos, foi porteiro do Edifício Leme, Bloco C, na 113 Sul, por 15 anos. Foi mandado embora após registros de reclamações por parte dos condôminos, que alegavam que o homem já não se dispunha a realizar o serviço pelo qual era pago. O episódio envolvendo a demissão de Leonardo aconteceu, segundo moradores, entre um ano e meio e dois anos atrás. Após assembleia, membros do condomínio votaram, por unanimidade, pela saída do porteiro.
Opinião do internauta
Leitores comentam reportagem do Correio sobre o triplo assassinato na 113 Sul: