Jornal Correio Braziliense

Cidades

Ex-porteiro apresenta versão diferente daquelas que polícia divulgou antes

Entre os pontos que precisam ser esclarecidos estão a localização das facas usadas na execução e a sequência das mortes

O ex-porteiro Leonardo Campos Alves, 44 anos, ficou por quase uma hora cercado de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos no prédio da direção-geral da Polícia Civil do Distrito Federal. Sentado em um dos bancos do auditório, o homem confessou a autoria do triplo homicídio da 113 Sul, mas muitos pontos não coincidem com informações divulgadas anteriormente pela polícia, como a dinâmica dos assassinatos, a localização da arma do crime e os vestígios deixados no apartamento 601/602 do Bloco C da SQS 113 (leia arte).

O depoimento se choca principalmente com o trabalho dos peritos no local das mortes. Para os especialistas, o lugar teria passado por uma limpeza feita por alguém com conhecimento científico. Mas, segundo Leonardo, não houve preocupação em apagar os traços deixados no imóvel. ;Deixamos até as facas (usadas no crime) lá, com o sangue;, afirmou. Ele disse ainda que deixou as facas usadas na execução no próprio apartamento, embora os investigadores nunca tenham encontrado as armas.

Leonardo Alves também contou uma sequência diferente das mortes no apartamento. Segundo os peritos ; em laudo apresentado há um ano pelo Instituto de Criminalística (IC) ;, primeiro morreu a empregada Francisca Nascimento da Silva, 58 anos; depois, a advogada Maria Carvalho Villela, 69; e, por último, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), José Guilherme Villela, 73. Mas o ex-porteiro disse ter matado primeiro José Guilherme e, por último, Francisca. E mais: ele garantiu ter assassinado sozinho o ex-ministro, com apenas uma facada. No entanto, os peritos encontraram 38 perfurações no corpo dele e garantem ter sido o único golpeado por duas pessoas.

Outra informação de Leonardo que chama a atenção é a facilidade para ele e o comparsa entrarem no imóvel dos Villela. Todos os familiares, amigos e vizinhos disseram, em depoimento, que a família não abria a porta facilmente a estranhos e Maria Carvalho, em especial, tinha enorme preocupação com segurança. Os laudos periciais apontaram que todas as portas do apartamento estavam trancadas quando policiais encontraram os corpos, três dias após os crime. O réu confesso afirmou ter deixado o imóvel aberto.

Cautela
Diante das contradições da confissão com as perícias, o diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Pedro Cardoso, demonstrou cautela: ;Ocorreram vários equívocos nesse caso. Portanto, temos um caminho a trilhar, convergindo todas as informações levantadas até agora pela 8; DP e pela Corvida (Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida);, explicou.

As lacunas também fizeram com que o diretor da corporação evitasse citar o nome de Adriana Villela ; a arquiteta acabou indiciada pela Corvida por participação nos assassinatos e o processo contra ela já chegou à Justiça. O ex-porteiro negou o envolvimento de uma terceira pessoa no crime. Mas Pedro Cardoso não descarta a participação de mais gente no triplo homicídio. ;Tenho a convicção de que poderemos ter um quadro fidedigno do crime a partir do depoimento do Paulo (Cardoso, comparsa de Leonardo e preso em Minas Gerais;, disse o diretor da PCDF.

Entrevista - Leonardo Campos Alves
;Não voltamos ao apartamento depois;


Você levou a arma do crime?
Pegamos as facas de cozinha deles mesmos. E deixamos tudo lá.

Quem esfaqueou José Guilherme?
Eu. Fui o primeiro a esfaquear todos.

E Maria Villela?
Ela chegou depois. Entrou e não viu nem eu nem o José Guilherme caído. Ela deu dinheiro para a gente. No total, ela deu R$ 500, mais US$ 27 mil e as joias. Em princípio, ela queria dar só os R$ 500, mas o Paulo a esfaqueou e ela viu que a coisa era séria.

E por que mataram a Francisca?
Na hora de ir embora a gente encontrou a Francisca. Matamos ela também porque ficamos com medo de sermos reconhecidos.

Vocês trancaram a porta antes de ir embora?
Não, nós deixamos a porta aberta.

Vocês limparam o local do crime?
Não, não. A gente não usou luva, não usou nada. A gente também não tocou em nada. Tudo o que pegamos foi dado pela dona Maria. Só entramos na cozinha e no closet e em mais nada. Sabíamos que poderia ter mais dinheiro pela casa, mas só passamos por esses dois locais.

Vocês fizeram tudo sozinhos ou a mando de alguém?
Dá minha parte foi só a gente mesmo. Se alguém voltou lá depois, daí eu não sei, mas não limpamos nada e também não voltamos ao apartamento depois. Fizemos tudo na sexta-feira (28 de agosto de 2009).