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Íntegra da entrevista coletiva do réu confesso do assassinato dos Villela

Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do Bloco C da 113 Sul, e réu confesso do assassinato do casal Villela, há mais de um ano, foi cercado por um batalhão de jornalistas, na tarde desta quarta-feira (17/11), e contou sua história no prédio da Direção da polícia brasiliense, ao lado do Parque da Cidade.

Confira a íntegra da entrevista

Vocês se preocuparam em se disfarçar para cometer o crime?


Não pensamos tanto nisso aí não. Fomos vestidos normais. Era até a roupa nossa mesmo de viagem.

Depois não fechamos a porta. "Saimo" na porta da cozinha e "saimo" pela porta da lixeira. Como eu vinha carregando a sacola, eu empurrei a porta com a ponta do dedo, "descemo" as escadas e corremos até o Eixo. As duas (Maria e Francisca) viram a gente, mas não reconheceram. Depois, pegamos ônibus na parada da Catedral da Universal, fomos indo para a Rodoviária. E depois fomos para a rodoferroviária. Lá, compramos passagem para ir embora.

O que o senhor pensou na primeira noite depois do crime?

Tive pesadelo, não dormia, pensamentos. Fiquei pensando no que tinha acabado de fazer. Trabalhei a vida inteira, nunca me envolvi com nada nem peguei nada de ninguém.

Pensou em se entregar?

Se entregar passa pela cabeça da gente. Sempre trabalhei. Essa é uma imagem que nunca quis passar para os meus filhos. Agora não tenho mais como eu voltar atrás; toda vida eles me viram trabalhando. Não me entreguei por medo e vergonha deles.

Sua filha sabia?

Não.

Ela disse que sabia ao delegado, no depoimento?

Não sei. Nunca comentei com eles nem com ninguém.

Com o dinheiro o senhor comprou presente para os filhos?

Não. Nada.

Tenho dois filhos presos, um em Minas e outro em Brasília. O daqui eu não sei. O de Brasília foi motivo de droga. Uma prima dele foi lá com o marido e disse que tinha comprado dele. E ele não bebe, não fuma e não usa droga. Deve estar saindo agora, o de lá de Brasília. Nunca falei com ninguém sobre o crime.

Meu primeiro emprego foi em uma empresa chama Multi, quase 9 anos, já faliu. Fui da limpeza até chegar no cargo de encarregado.

E os seus primeiros depoimentos?

O primeiro foi pra ela (Marta) e pra uma outra pessoa que não sei identificar. Sempre na mesma delegacia.

Quem me entregou? Não sei.

Seu filho comentou?

Não sei. Eu tenho pouco contato com ele lá. Tem mais de 2 anos que não vejo.

O senhor, em algum momento, pensou que nunca seria pego?

Não, porque não há nenhum crime perfeito. Nada, ninguém fica impune.

Se o senhor é honesto, porque esse cirme?

Eu me faço a mesma pergunta. Se você abrir minha carteira de trabalho, vai ver duas ou três firmas. Trabalhei anos nos mesmos lugares, 11 e 15 anos. Passei por problemas familiares. E também o modo.. o que me gerou essa coisa com doutor Vilela não foi por nada. Talvez até pela sequência dele ter me destratado. Se uma pessoa te pede emprego;você conhece uma pessoa há tantos anos e pede trabalho; está pedindo trabalho. Ele foi grosseiro. Porque não me descartou de uma maneira mais; por me conhecer há tantos anos;com tanto desprezo.. Porque não falou: vou ver seu caso, vou ver se arrumo alguma coisa. Eu parei ele na rua por acaso. Eu tava indo da Rodoviária para Asa Sul. O que ele falou? A princípio não me reconheceu. Chamei ele de Seu Zé e ele me olhou. Fui entrando no assunto de emprego, se podia intervir a meu favor. Aí ele foi para o Setor Comercial Sul.

Qual frase te magoou tanto?

Ele disse que se fosse arrumar emprego pra tanta pessoa teria que montar uma agência. Eu fiquei com vergonha de ser humilhado. De lá ele virou as costas, me ignorou. A minha intenção era chegar em Brasília e fazer o que eu conhecia bem, sair de condomínio em condomínio pedindo emprego.

Por presenciar essas brigas da Adriana, da neta com avós. Você pensou que a polícia podia suspeitar deles e não chegar a você?

Nunca passou pela minha cabeça. No caso, seria "premedição", caso montado.

Você disse que a filha chegou a ser a assassina nos seus depoimentos?

Nunca. Não cheguei a comentar nada.

Mas você acha que ela pode ter limpado a cena, como você falou antes?

Ela sempre foi uma filha gananciosa dele. Já chegou a montar um apartamento e eu presenciei ela quebrando um apartamento todo que a mãe tinha acabado de montar, porque não gostou de uma pintura. Lá no Bloco E.

Você sabia que ele tinha essa quantidade de jóia, dinheiro?

Não, não. Sabia que era uma pessoa que trabalhava, lá do prédio como muitos outros que tinham condições. Até a princípio mesmo, antes de qualquer coisa, eu já tomei conta do apartamento dele, de outros moradores, nunca mexi em nada de ninguém.

Quantas vezes o senhor entrou lá?

Duas ou três vezes, nesses anos todos que trabalhei. Uma pra ajudar um pedreiro, há quase 10 anos, que tinha que levar uma pia de mármore muito pesada, e outra vez porque eles não deixavam entregador entrar lá. Nunca permitiram, nem os próprios funcionários;

; Entrevista com Pedro Cardoso, diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal

O crime da 113 Sul está solucionado?

O crime não está completamente esclarecido. Precisamos esclarecer e exaurir. Embora ele nege a participação de uma terceira pessoa. A condição dessa terceira pessoa precisamos esclarecer. É cedo, embora tenhamos uma pessoa que faz a narrativa hamônica com o local do crime, encontramos uma das jóias no local. O local que ele disse, da venda dos dólares, em Montes Claros, localizamos e interrogamos a pessoa. A pessoa que ele mencionou como compradora das jóias foi localizada. A narrativa do depoimento dele de que a pessoa tinha pedido uma das jóias em especial para dar à esposa foi corroborada. A pessoa na delegacia confessou ao ser interrogada e a jóia foi apreendida. Estava na casa da pessoa que comprou, do receptador em Montes Claros. Informalmente, já informaram ter visto fotos dela (Maria) usando essa jóia. Mas vamos confirmar. Demos um largo passo rumo à elucidação, mas precisamos estabelecer de forma criteriosa a conduta de cada um no local do crime, a participação efetiva, o proveito que teve o produto do crime, a motivação sem nenhuma dúvida, todos os participes e autores do crime para que finalmente possamos falar: o crime está elucidado, a conduta de cada um foi essa e se deu dessa forma para botar um ponto final nesse crime.

O senhor descarta a participação de Adriana Villela?

Nesse momento eu não afasto a possibilidade da participação de uma terceira pessoa. Não tenho condições de firmar juízo de valor de quem é essa pessoa. Tenho convicção que nos próximos dias com a convergência das investigações que temos agora realizadas em Minas e na Corvida obteremos uma avaliação mais fidedigna do que ocorreu, para que, afinal, possamos dizer: o crime está solucionado.

O inquérito fica na Corvida ou vai para a 8;DP?

O inquérito permanece na Corvida a participação dessa linha é só para robustecer o que tínhamos. Não poderíamos, naquele momento, desestimular os policiais que ali trabalhavam. Esse crime já tem um tempo, há uma cobrança da mídia, da sociedade e nosso dever como instituição do Estado é dar respostas.

A polícia cometeu muitos erros?

Assumi essa gestão tomando uma decisão, afastanto uma delegada. A partir do momento que entrei na direção da polícia civil, por experiência pessoal, começamos a entender algumas coisas desse crime. Não tive participação direta na investigação, no entanto, ocorreram alguns equívocos. Em alguns momentos não fomos técnicos, mas acredito que vamos tomar o rumo natural das investigações, com autores relacioandos a crimes, provas materiais, testemunhos; os testemunhos que vocês presenciaram é harmônico com o conjunto da cena do crime. Ele aponta as pessoas que venderam o produto do crime. Temos um caminho a trilhar. E acredito que em convergência com o que tem na cordvida e na 8; DP;

Qual foi o erro da investigação? Foi na primeira fase?

Eu não teria condições de dizer onde foi o erro. Percebi que houve falhas técnicas. Estou me referindo ao chamamento de uma vidente;

Quando o senhor fala que a Polícia Civil não foi técnica está se referindo à prisão da Adriana?


Não. Estou me referindo ao chamamento de uma vidente, ao excesso de entrevistas. Você tem que falar quando você está produzindo, evoluindo. Tivemos momentos onde o crime foi mais falado que investigado.

A Corvida direcionou a investigação?


Com essa prisão teremos reconstituições, testemunhas, integração entre as provas mateirias, periciais, testemunhos. Agora surgem novos elementos, você tem a narrativa de quem estava na cena do crime. Partimos para uma nova fase. Com o somatório desse trabalho e o que foi produzido pela Corvida chegaremos à solução.

O laudo sobre a presença da Adriana no local;

Está sendo feito um estudo acerca das digitais. Não tenho como falar sobre isso. Vai haver uma série de ações concatenandas entre cordvia e 8; DP para juntar provas periciais e testemunhos para fazermos a elucidação, individualizar condutas, participação, proveito do crime e toda relação entre pessoas, local do crime, rota da fuga, prisão. Para que tenhamos um quadro uno e esclarecedor. Para que a sociedade entenda que crime está esclarecido, para o sujeito que entende de direito ao morador da mais distante periferia.

Porque ele (o acusado preso) está negando que limpou a cena, por exemplo?

Em algumas coisas, precisa haver convergância de testemunhas e provas periciais. Quando ele menciona que com uma faca obrigava a moradora, a dona Maria, a abrir as gavetas ele não tocava. É razoável que não tenhamos impressões, nesse momento. Então vamos fazer o que? Uma integração entre testemunhos de quem estava no local e provas periciais. Para a partir dai partirmos ao fatos.

Quem limpou a cena?

Não tenho como afiançar se houve efetivamente essa limpeza ou houve uma ausência de elementos de convicção na cena que pudessem demonstrar a participação de pessoas. Não tenho elementos para fazer juízo de valor. Mas tenho a convicção de que de uma leitura apurada, corrobarada com os testemunhos e o que será apurado nos próximos dias, teremos um quadro fidedigno.

Sobre os laudos com a idade das digitais;.

As provas periciais e testemunhais serão coligidas para ver se há adequação, harmonia e interação entre elas. A cena é composta por atos que modificaram na ação do autor. O testemunho de quem estava no local é relevante. Não estamos traçando perfil. Estamos dizendo de pessoas que estiveram no local.

Houve informação de que um filho dele teria comentado ao ver uma matéria na TV. A partir dali começou a investigação. Há um mês e pouco. Estamos falando de um crime de um ano. Os policiais começaram a investigar, ver convergência nas informações obtidas naquele momento e o que temos hoje. Ao cristalizar e apontar para a possibilidade dessa pessoa detida em Montalvânia foi solicitada a prisão dele ao judiciário. Foi decretada, cumprida, tivemos todas providências no local. Ele foi acompanhado por um conselheiro da OAB MG. Para nossa surpresa, naquela cidade tem uma prima do Dr Guilherme, Sueli Vilela. Conversamos com ela um pouco. Estamos no caminho de buscar soluções. Não tenho muitas respostas por não ter tratado diretamento do crime. Tenho a informar que em qualquer local de cirme testemunhas e provas devem se alinhar.

Essa história das chaves?

Ele contou como entrou. A porta estava aberta e ele adentrou. Não posso falar de certeza. Posso falar que estamos investigando com seriedade e tentando fazer a prática mundial de investigação: buscar testemunhas, harmonias com provas periciais. Para que, ao final, com apreensão dos bens relacioandos ao local do crime, possamos falar em ;

Ele prestou dois depoimentos antes de ser preso agora. Houve alguma coisa que dava a entender que a PC podia tê-lo investigado como suspeito?

O que nós temos é um depoimento. A partir desse depoimento cabe uma análise futura. O que fazer a partir dali. Alguns dados precisam ser esclarecidos. Com relação a uma terceira pessoa, será ouvido para saber se as informações dos policiais que ainda estão em Montalvânia batem.