Jornal Correio Braziliense

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Desdobramento do crime da 113 Sul causa surpresa na Polícia Civil

Nem mesmo o diretor da PCDF e o MP sabiam da prisão do ex-porteiro em Minas. Ação revela disputa na corporação

As novidades em torno do triplo homicídio ocorrido na 113 Sul deixaram em evidência uma disputa de poder na Polícia Civil do Distrito Federal. A prisão em Minas Gerais de um ex-porteiro do Bloco C, local onde ocorreram as mortes, revelou uma investigação paralela na corporação. O caso segue oficialmente por conta da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), mas só ontem a direção soube da participação de outra delegacia no caso.

O mal-estar acabou provocado porque nenhum dos principais órgãos envolvidos na elucidação do triplo homicídio sabia da ida de uma equipe da 8; Delegacia de Polícia (SIA) a Minas Gerais. O diretor geral da Polícia Civil do DF, Pedro Cardoso, só descobriu ontem pela manhã que agentes da unidade chefiada pela delegada Deborah Menezes tinham viajado a Montalvânia (MG) para prender Leonardo Campos Alves.

Ao ser informado da operação, Cardoso viajou a bordo de um bimotor em direção ao estado vizinho ao Distrito Federal ; estava acompanhado da delegada Deborah. Nesse momento, quase não tinha informações sobre a investigação. ;Vamos aguardar. Estou me dirigindo para Montes Claros (MG). Ainda não tenho nada de concreto para passar para vocês;, disse.

Enquanto isso, a revelação também surpreendia o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O promotor Maurício Miranda, do Tribunal do Júri de Brasília, disse ao Correio que não foi consultado por Deborah sobre a operação montada para prender o ex-porteiro. ;A prisão é ilegal;, ressaltou.

Segundo um servidor do cartório do Tribunal do Júri de Brasília, o juiz Sandoval Gomes de Oliveira deferiu apenas um mandado de prisão até o início da noite de ontem: o do ex-porteiro Leonardo Alves. O mesmo funcionário acrescentou que um delegado da 8; DP entregou pessoalmente o embasamento da solicitação ao magistrado. Ou seja: o policial não havia seguido o trâmite normal, que seria passar pelo MPDFT. A decisão deixou Miranda contrariado. ;É no mínimo estranho isso;, avaliou.

A delegada Deborah Menezes atendeu à noite a um telefonema do Correio ainda em Minas Gerais. A titular da 8; DP explicou que não interferiu no trabalho da delegada Mabel de Faria. Disse ainda que a prisão do suposto envolvido seria um complemento da investigação realizada pela Corvida. Mesmo assim, teceu comentários sobre as conclusões da unidade especializada em investigação de homicídios. Ela descartou a participação de Adriana Villela no crime. ;Não temos nada que a envolva no triplo homicídio;, defendeu.

Sobre a falta de comunicação com o MPDFT, a delegada da 8; DP explicou que, por se tratar de uma segunda-feira de feriado, o MP estava de recesso e o promotor Maurício Miranda não havia atendido ao telefone. ;Tentamos estabelecer contato, mas ele não atendeu;, argumentou Deborah.

Versões distintas
A interferência da 8; DP no caso é mais um capítulo da complicada relação entre alguns grupos de delegados da Polícia Civil do Distrito Federal. Só a investigação do crime da 113 Sul mudou pelo menos duas vezes de rumo. Começou com a 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul, e passou por uma mal-sucedida força-tarefa até alcançar a Corvida. À frente do inquérito, a delegada Mabel de Faria preferiu não fazer comentários sobre a intervenção da 8; DP. Ela disse que torce para que o trabalho de Deborah esteja correto. ;Vamos confrontar as informações com a nossa apuração aqui. Se bater, ótimo.;

A delegada Martha Vargas conversou ontem com o Correio por meio de mensagens de texto enviadas pelo celular. Disse que nada tem a ver com a prisão do ex-porteiro. Mas não deixou de comentar o caso. ;A Guiomar (Barbosa, outra empregada dos Villela) lembrou disso (de ter visto o ex-porteiro no local do crime) na fase da Mabel. Todas as prisões que a Mabel fez estavam erradas e, por isso, o caso está com a Deborah;, alegou. Questionada se a história tinha virado uma briga pessoal, a delegada Martha respondeu: ;Eu diria que é a verdade contra a mentira;. Martha já trabalhou com Deborah Menezes na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) na década de 1990.

O advogado Eduardo Toledo, conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF) nomeado para acompanhar o caso, admitiu desconhecer a participação da 8; DP na investigação. ;A OAB tomou conhecimento pela imprensa e aguarda com cautela as informações oficiais para saber se haverá a necessidade de novas deliberações;, anunciou.

Troca de unidade
A 1; DP ficou à frente do caso por três meses. A pedido do Ministério Público do DF, porém, a Justiça brasiliense determinou em novembro a mudança de unidade policial responsável pela investigação. A força-tarefa composta por policiais da Corvida, da Divisão de Repressão a Roubos (DRR) e da própria 1; DP (Asa Sul) assumiu o inquérito, mas por apenas um mês. Acabou implodida por problemas de comunicação e de convivência.

Exoneração
Martha, ex-chefe da 1; DP, acabou afastada das investigações em 29 de abril. A decisão ocorreu após um laudo do Instituto de Criminalística apontar que uma chave da casa dos Villela, encontrada em uma casa de Vicentes Pires, era a mesma que estava no local do crime no dia em que os corpos dos advogados e da empregada, Francisca Nascimento da Silva, foram encontrados. O objeto foi usado para incriminar três suspeitos.