Os feirantes do Shopping Popular estão proibidos de abrir os boxes hoje. A determinação é do administrador João de Oliveira Braga, nomeado interventor na última terça-feira. Motivo: após denúncias de repasse ilegal de bancas feitas pelo Correio em 7 de novembro e que resultaram em cinco prisões na manhã do último sábado, por volta de 50 pessoas procuraram diariamente a administração tentando retomar os estandes. ;Teve um homem que chegou do Maranhão dizendo que era dono de um box. Agora, todo mundo quer ser dono. Independentemente da situação, estou encaminhando todos para a delegacia;, adiantou Braga. Um dos detidos durante a operação da Polícia Civil (leia Entenda o caso) foi Caio Alves Donato, presidente da Associação de Vendedores Ambulantes do Shopping Popular (Asshop).
As atividades voltam amanhã. ;Estou finalizando um levantamento de quantas bancas estão abertas. O feriado será um dia para isso, mas posso adiantar que, antes de eu assumir o shopping, só umas 50 estavam em funcionamento. Hoje, há mais de 600;, destacou. Por causa do 15 de novembro, esperava-se um aumento no fluxo de clientes, mas ontem o espaço ficou praticamente vazio. Mesmo insatisfeitos, feirantes ouvidos pelo Correio prometeram acatar a ordem de Braga.
Por enquanto, também estão proibidas reformas ou novas benfeitorias no Shopping Popular. Quem descumprir a determinação terá o material apreendido e corre risco de ser levado para a 3; Delegacia de Polícia (Cruzeiro) para prestar esclarecimentos. Todas as providências sobre a situação da feira só serão tomadas após o Governo do Distrito Federal analisar o caso. Mas tanto o ambulante permissionário que repassou procuração para revender o box quanto aqueles comerciantes que pagaram para se instalar irregularmente no local podem perder o direito de permanecer com a banca.
A Divisão de Crimes Contra a Administração Pública (Decap), que coordenou a operação feita em conjunto com a 3; DP e a Divisão de Operações Especiais (DOE), agora analisa os documentos encontrados na Rádio Shopping, sede da Asshop. Os investigadores querem descobrir quantas bancas foram repassadas ou vendidas de forma ilegal e intimar as partes para depor. ;Na terça-feira (amanhã), as pessoas começarão ser ouvidas e somente depois nós podemos dizer a dimensão desse esquema;, disse o delegado Flamarion Vidal, diretor da Decap.
Até o momento, testemunhas na 3; DP declararam que alguns feirantes passaram o direito de uso para os interessados em ocupar os boxes por valores entre
R$ 4 mil e R$ 5 mil. Entretanto, as 1.784 lojas do shopping não poderiam ser alugadas, emprestadas, doadas ou vendidas. Criado em 2008, o empreendimento tinha a finalidade exclusiva de abrigar camelôs retirados do centro de Brasília, como o Gran Circular e a plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto. Segundo a polícia, os estantes chegavam a ser comercializados por R$ 6 mil a R$ 80 mil (a depender da quantidade requisitada e da localização). Os investigadores apuram ainda ameaças de morte feitas contra feirantes que resistiam em passar a procuração do estande.
De acordo com Braga, algumas lojas foram arrombadas e retomadas à força. O material que era recolhido e armazenado em um banheiro do shopping. ;A informação é que a associação quebrava os cadeados dos boxes com marretas e retirava os produtos;, acusou o interventor.
Entenda o caso
Cinco presos
No último sábado, o presidente da Associação de Vendedores Ambulantes do Shopping Popular (Asshop), Caio Donato, foi preso durante a Operação Fafnir II realizada pela Polícia Civil do DF. Também foram detidos a vice-presidente da Asshop, Marialva Rocha da Silva; a presidente da Associação dos Feirantes, Ambulantes e Comerciantes do DF, Edmárcia de Albuquerque Cardoso; e dois ex-servidores do GDF ; Elizabete Guilherme Raimundo e Francisco das Chagas, o Chaguinha. Ela atuava como coordenadora de Serviços Públicos e ele era seu subordinado. Até a noite de noite, os cinco continuavam presos.
Segundo o diretor da Divisão de Crimes Contra a Administração Pública (Decap), delegado Flamarion Vidal, todos os boxes foram construídos com quatro metros quadrados e cada feirante tinha direito a apenas uma loja. Mas os policiais descobriram que uma pessoa chegava a possuir até 12 bancas. Até concessionária, que vende de jet skis a carrinhos de golfe, funciona no local, conforme o Correio noticiou com exclusividade no último dia 7. Segundo Vidal, para ter direito a boxes, o novo empreendedor tinha de pagar à associação entre R$ 6 mil e R$ 80 mil. Depois disso, segundo os investigadores, Chaguinha e Elizabete providenciavam a publicação da mudança no Diário Oficial do DF.