Em meio à sucessão de crises que o GDF vem enfrentando na área da saúde, o governador Rogério Rosso, no início deste mês, anunciou um plano audacioso: vai começar a reformar 20 centros de saúde em nove cidades, obras previstas para durarem quatro meses. ;O objetivo é entregar a saúde da melhor forma possível, com os trabalhos adiantados, para a nova gestão;, justificou, na semana passada. Um giro por algumas das unidades incluídas na lista é suficiente para constatar que pacientes e funcionários têm de lidar com embargos estruturais que comprometem ainda mais as clássicas dificuldades do sistema público de saúde. O custo para tentar amenizar os inconvenientes está estimado em R$ 20 milhões.
;Aqui trabalhamos com fé;, diz Marinalda Feitosa da Silva, funcionária da administração do CS 07, em Taguatinga. Quando se trabalha em um ambiente no qual o gesso do teto já despencou algumas vezes e a água da chuva já formou cascatas nas luminárias das salas, é preciso ter fé. ;Nas últimas chuvas, entrou tanta água pelo teto que a sala ficou inundada;, lembra. O posto, que atende, em média, mil pessoas por mês, passou por poucas mudanças desde que foi inaugurado, em 1980. ;Foram reformas mais estéticas, como pintura de paredes;, conta Marinalda. Além da usual falta de médicos, os espaços precisam ser ampliados. A farmácia da unidade sequer comporta as remessas de medicamentos.
Quando anunciou a medida, Rosso afirmou que a estrutura seria transferida para módulos ambulatoriais divididos entre recepção, banheiros e três consultórios, nas especialidades de pediatria, ginecologia e clínica médica. ;Alguns serviços, como a vacinação, terão de ser transferidos para outras unidades ou hospitais. A população será devidamente informada;, garante o subsecretário de Atenção Primária à Saúde da Secretaria de Saúde do DF, Berardo Augusto Nuna.
Em Brazlândia, o CS 01 recebe dezenas de mães e filhos para o acompanhamento pós-parto e pediátrico. Com tanta demanda, uma consulta pode demorar um dia inteiro. Anatalia Barbosa Dourado, 27 anos, leva a filha, Eduarda, ao posto desde o nascimento da criança. ;Olha que absurdo: tenho que marcar uma consulta para a emergência. Com criança? Não dá para esperar;, afirma.
O lavrador Francisco Lopes Filho, 31 anos, é usuário constante do centro, que é o mais perto do Incra 7, onde mora com a família. ;Reformar é bom. Mas tem que ter os materiais básicos, o que nem sempre acontece;, reclama.
Desconforto
O arquivista do Centro de Saúde 02 de Ceilândia, Cláudio Eduardo, sabe que a unidade reserva pouco conforto a seus pacientes. ;Os postos foram planejados para outra época e não se modernizaram. Hoje a nossa demanda é muito maior do que o espaço que temos para atender;, diz. Corredores estreitos e janelas pequenas, características de todos os centros do DF, comprometem a circulação de ar. ;Facilita a transmissão de doenças;, avalia.
A dona de casa Marina Pereira de Souza, 35 anos, sofre de hipertensão e vai ao CS 02 a cada três meses para fazer o controle da pressão e renovar a prescrição médica. ;É pequeno, tem sempre um monte de gente em pé. Tem gente que chega aqui passando muito mal e tem que esperar nesses bancos velhos. O pior é que nem sempre tem médico;, critica. Desde a criação, há 29 anos, o posto sofreu poucas benfeitorias. ;Meu filho tem 12 anos e desde que nasceu se consulta aqui. Nunca mudou.;
A seleção das reformas é fruto de pleitos antigos de unidades que, como o CS 02 de Ceilândia, brigam há tempos por condições melhores de atendimento. ;A Coordenação-Geral de Engenharia em Saúde avaliou e concluiu que esses eram os centros em pior estado, por isso, têm prioridade;, explica o subsecretário de Atenção Primária à Saúde, Berardo Augusto Nuna. A tramitação e aprovação das obras estava parada desde o ano passado e coube ao governo decidir o que fazer. ;A proposta é mudar o modelo de atenção à saúde e revitalizar o atendimento básico;, resume.