Roberta Machado
postado em 12/11/2010 08:24
A série de reportagens publicada pelo Correio Braziliense sobre o desaparecimento de seis jovens de Luziânia foi a grande ganhadora da categoria Centro-Oeste na 12; edição do Prêmio Imprensa Embratel. Os nomes dos nove repórteres responsáveis pelas matérias foram revelados na noite de quarta-feira, em cerimônia realizada no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Os jornalistas que tiveram o trabalho reconhecido pelo júri foram Ary Filgueira, Naira Trindade, Daniel Brito, Adriana Bernardes, Renato Alves, Ariadne Sakkis, Diego Amorim, Luiz Calcagno e Marcelo Abreu. O trabalho ainda é um dos finalistas à homenagem mais importante do jornalismo: a série foi selecionada ao Prêmio Esso, na categoria regional Centro-Oeste.A saga pela busca dos seis adolescentes teve início no fim do ano de 2009, quando quatro meninos desapareceram no Parque Estrela Dalva, bairro pobre de Luziânia (GO), em um período de 15 dias. Como nenhuma das vítimas se conhecia, a linha de investigação da polícia não considerava uma ligação entre os sumiços. Porém, conforme o Correio revelou ao longo de 143 dias de apuração, os crimes eram todos de autoria do mesmo homem: o pedreiro Admar de Jesus, também assassino confesso de mais três adolescentes, e que cometeu suicídio na prisão depois de indicar para a polícia os locais onde havia enterrado os corpos.
Durante quatro meses de investigação, a Polícia Civil descartou diversas hipóteses para explicar o desaparecimento misterioso dos seis jovens em Luziânia. Após uma série de protestos dos familiares dos meninos, o assassino foi localizado, revelando que havia também uma sétima vítima: Éric dos Santos. A série de reportagens ainda levantou debates sobre assuntos como a Lei de Execuções Penais, que permitiu a liberdade de Admar de Jesus após ele ter sido condenado por crimes sexuais contra o menor.
Primeiro repórter a acreditar na importância do sofrimento das mães de Luziânia, Ary Filgueira lembra: ;Depois que o Correio acreditou na história, todo mundo resolveu dar atenção para o drama delas. A pressão foi tão grande que as autoridades começaram a dedicar a atenção que o caso dos desaparecimentos merecia;, destacou. Ary revela que o envolvimento constante com o caso marcou a rotina da equipe que acompanhava as investigações. ;O jornalista tem um papel muito importante de ajudar as pessoas;, destaca o repórter, que ainda diz ter construído uma amizade com cada uma das mães que enterraram seus filhos em março. O jornalista dedicou a elas a homenagem recebida pela série, assim como à sua mãe, Alvina Castelo Branco, que faleceu em março, antes do término do caso.
Homenagem
O Prêmio Imprensa Embratel tem o objetivo de reconhecer e estimular a produção de reportagens sobre temas que representem uma efetiva contribuição para a inclusão social e a promoção do desenvolvimento sustentável. Foram 1.023 inscrições de jornalistas, que disputaram um total de R$ 166 mil em prêmios, distribuídos entre 17 categorias. Na categoria regional Centro-Oeste, a série dos desaparecimentos de Luziânia concorreu com 16 reportagens.
Na categoria Jornal e Revista, o jornal concorreu com a série Crack ; A praga que consome o país, dos jornalistas Edson Luiz, Alana Rizzo, Renata Mariz, Samanta Sallum, Guilherme Goulart, Renato Alves e mais uma equipe de repórteres. A editoria de Economia do jornal também foi indicada na categoria Reportagem Econômica, com o trabalho Sua agenda, sr. Presidente, de Vicente Nunes, Ricardo Allan, Vânia Cristino, Letícia Nobre, Liana Verdini, Deco Bancillon, Karla Mendes, Victor Martins e Luciano Pires. A categoria Jornalismo Cultural traz como finalista Calem-se ; Como a censura silenciou a música brasileira, de Leonardo Cavalcanti, Tiago Faria, Carlos Marcelo e Ulisses Campbell.
Linha do tempo
Conheça o caso dos meninos desaparecidos em Luziânia:
16 de janeiro
Foi publicada a primeira reportagem. O Correio contou o drama de quatro mães que ficaram duas semanas sem saber do paradeiro dos filhos. O primeiro dos adolescentes, Diego Alves Rodrigues, havia sumido em 30 de dezembro de 2009. A polícia não via ligação entre os casos.
20 de janeiro
Confirmado o quinto desaparecimento no Parque Estrela Dalva.
22 de janeiro
Empunhando faixas, grupos protestaram contra a violência nas ruas de Luziânia e pediu agilidade à Polícia Civil.
24 de janeiro
A Polícia Civil de Goiás confirmou o sexto desaparecimento.
3 de fevereiro
A CPI do Desaparecimento de Crianças e Adolescentes, da Câmara dos Deputados, reuniu as mães dos seis jovens sumidos e sugeriu intervenção federal. No dia seguinte, familiares fizeram passeata na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, pedindo intervenção da Polícia Federal no caso.
9 de fevereiro
O então ministro da Justiça, Tarso Genro, recebeu as mães dos adolescentes e anunciou a entrada da Polícia Federal no caso. O auxílio só foi concedido 25 dias após a abertura do inquérito que apurou o desaparecimento dos jovens.
24 de março
As mães participaram da audiência pública no Senado Federal e pedem a criação de um Fundo de Amparo às Famílias Vítimas de Desaparecimento.
10 de abril
Preso o pedreiro Admar de Jesus, 40 anos, assassino confesso dos seis meninos desaparecidos de Luziânia. Admar já havia sido preso por crimes sexuais contra menores, mas foi solto uma semana antes de capturar a primeira vítima da série.
11 de abril
Com a ajuda da indicação do assassino, foram encontradas as ossadas de seis dos sete meninos mortos por Admar, em uma área rural de Luziânia. Após um mês da análise dos ossos, a Polícia Federal confirmou que os corpos pertenciam aos desaparecidos.
18 de abril
Admar de Jesus foi encontrado morto em sua cela. Laudo do Instituto Médico Legal confirma suicídio, mas mães das vítimas desconfiam da versão da polícia. Ele teria se matado com uma tira de tecido rasgada do colchão, encontrada m seu pescoço.
11 de maio
Encontrada a ossada do primeiro garoto desaparecido. Somente nove dias depois foi confirmada a identificação do corpo do adolescente Diego Alves, 13 anos, sumido em 30 de dezembro de 2009.