Comerciantes chineses não se sentiram intimidados com a ação da Polícia Civil de combate à pirataria. Um dia após a Operação Hai-Dao, que resultou na detenção de 30 asiáticos acusados de vender produtos falsificados na Feira dos Importados e na apreensão de 40 mil itens ilegais, eles apareceram em massa no centro comercial, na manhã de ontem, dispostos a trabalhar. Muitos recuaram e fecharam as portas depois que agentes da Secretaria de Ordem Pública do DF (Seops) e da Agência de Fiscalização do DF (Agefis) foram ao local para verificar se as 24 bancas usadas pelos integrantes da quadrilha detidos na quarta-feira continuavam lacradas. Apenas um desses quioques estava aberto. Os fiscais determinaram o seu imediato fechamento. ;A operação foi bem-sucedida, constatamos que os feirantes mantiveram os lacres;, analisou o capitão da Seops, Renato Braga, que comandou os trabalhos.
Quando a reportagem do Correio foi ao local, por volta das 15h, muitas das inúmeras bancas comandadas pelos chineses estavam fechadas. Mas a grande maioria permanecia em funcionamento. Os asiáticos circulavam pelos corredores da feira. Havia os apreensivos diante da presença dos fiscais e aqueles que zombavam dos agentes.
Alvo principal das investigações da Polícia Civil e do Ministério da Justiça contra a pirataria, feirantes chineses tomavam os corredores do centro comercial. Incomodada, uma vendedora questionou o trabalho do repórter fotográfico do Correio no momento em que ele registrava uma das bancas interditadas pela Operação Hai-Dao. A mulher, que não quis se identificar, disse que não vendia produtos falsificados, mas ;sem marca;. A barraca de bolsas a R$ 35, preço abaixo do mercado, estava abarrotada de clientes ; a banca era uma das poucas de propriedade de orientais que se manteve aberta durante a operação da Agefis.
Questionada sobre a origem dos artigos, a mulher desconversou. ;Não sei de onde vêm essas bolsas, compro de uma outra pessoa;, respondeu, encerrando o assunto. Atraída pelo movimento da ação da Agefis e da Seops, uma descendente de chineses curiosa se aproximou do grupo. A menina de 10 anos conta que os pais têm duas barracas na Feira. Eles vendem lanternas, laseres e canivetes. Quando é preciso, a filha fica atrás do balão e ajuda nos negócios da família. Ela conta que o pai, de tempos em tempos, viaja para São Paulo para repor as mercadorias.
Investigações da polícia apontam a capital paulista como grande polo de distribuição de produtos contrabandeados para o Distrito Federal. Na operação realizada na quarta-feira foram apreendidos cerca de 30 mil óculos, 7 mil relógios, 120kg de roupas copiadas de marcas famosas e mil bolsas.
Um empresário do ramo de artigos eletrônicos, que preferiu o anonimato, disse ao Correio que o combate à pirataria é bem-visto pelos comerciantes em situação regular. ;É uma competição desleal. Eles (chineses) vendem os produtos com preços bem abaixo do mercado. Para nós, que pagamos impostos, fica complicado. Tem gente que vem aqui comprar para revender;, afirma.
Apreensões
Apesar do foco da operação de ontem ser averiguar o fechamento das 24 barracas interditadas durante a Operação Hai-Dao, homens da Agefis apreenderam mercadorias que estavam sendo vendidas de forma irregular na Feira dos Importados. No estacionamento, ambulantes não passaram despercebidos pelos agentes. Bermudas, cuecas e guarda-chuvas estavam entre os itens recolhidos. ;Essas mercadorias estavam sendo comercializadas em área pública, sem autorização da administração. Além disso, os donos não apresentaram nota fiscal;, explicou Francisco Freire Lima, auditor da Agefis.
Já no interior do centro comercial, os agentes apreenderam CDs e jogos de computador piratas. O material recolhido em uma única banca encheu 16 grandes sacolas. O proprietário da mercadoria calcula um prejuízo de R$ 4 mil. ;Para repor tudo isso preciso trabalhar uns três anos;, lamentou, sem se identificar. Os itens recolhidos foram levados para o depósito da Agefis, localizado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), Trecho 4, Lote 1360. Para recuperar os itens, é preciso ir ao depósito com o comprovante fiscal e pagar um taxa, que varia de acordo com o tipo e a quantidade dos bens.
2,1 mil bancas
A Feira dos Importados foi criada em 1997 para abrigar feirantes que se instalaram nas imediações do Estádio Mané Garrincha. Atualmente conta com 2,1 mil bancas distribuídas em uma área de 70 mil metros quadrados. Os expositores vendem de comida e movéis a computadores de última geração. Mas a grande fama do centro comercial é por conta da venda de produtos piratas. Por isso o local também é conhecido como Feira do Paraguai.