O nome do deputado ou da deputada que vai administrar a Câmara Legislativa nos dois primeiros anos do governo de Agnelo Queiroz (PT) vai sair de uma costura de interesses políticos. A negociação é totalmente vinculada à distribuição dos nacos de poder na estrutura do primeiro escalão do Executivo. Deputados lançaram seus nomes na disputa à Presidência da Casa porque estão, na verdade, de olho em alguma secretaria. Outros querem um espaço na Mesa Diretora. A acomodação depende diretamente da ingerência do novo governador do Distrito Federal.
O presidente vai comandar um orçamento de R$ 350 milhões, nomear 1.148 cargos e promover a terceirização de serviços de vigilância, limpeza, conservação e manutenção do novo prédio da Câmara Legislativa, uma área de interesse direto de pelo menos dois deputados distritais, Eliana Pedrosa (DEM) e Cristiano Araújo (PTB). Mas muitos parlamentares trocariam esse assento por uma secretaria estratégica como a de Obras, a de Desenvolvimento Econômico ou a de Desenvolvimento Social. Até o momento, aparecem como os principais concorrentes à presidência os petistas Cabo Patrício, Chico Leite e Arlete Sampaio. Ex-presidente da Câmara, Alírio Neto (PPS) também é cotado. Ele é o nome preferido do vice-governador eleito, Tadeu Filippelli, para o cargo. Corre por fora pela habilidade de negociação, Benício Tavares (PMDB), que também apoiou Agnelo na campanha.
O problema de Benício é a vinculação com a Operação Caixa de Pandora. Ele é um dos investigados como integrante do suposto esquema de pagamento de mesadas em troca de apoio ao governo Arruda. O peemedebista se livrou da denúncia por exploração sexual de menores na Amazônia, ao ser absolvido em março, por unanimidade, pelo Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF, com o parecer favorável do então procurador-geral de Justiça do DF Leonardo Bandarra. Ele também conseguiu uma liminar do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que lhe garantiu a posse no mandato de distrital ao qual foi eleito neste ano, mesmo com a impugnação com base na Lei da Ficha Limpa.
Para evitar exposições públicas, Benício prefere ajudar a eleger um aliado. O nome da preferência dele é o de Alírio Neto. O embate, no entanto, tem mais um ingrediente. A bancada do PT, que detém cinco dos 24 deputados distritais, não abre mão da Presidência. ;Tem que ser alguém do PT por respeito ao princípio da proporcionalidade. Quem tem a maior bancada é o PT;, afirma o deputado Chico Leite, na disputa pela Presidência. O mais votado para a próxima legislatura avalia que uma decisão sobre esse assunto depende ainda de uma reunião na própria bancada, no partido, e da participação de Agnelo.
Chico Leite tem como propostas medidas impopulares, como a redução do número de cargos comissionados sem vínculo, sem apelo entre os distritais eleitos. ;A sociedade quer uma Câmara mais transparente, que valorize seu servidor e que esteja pronta para cumprir suas missões com a sociedade. Se isso não acontecer agora, daqui a quatro anos estaremos discutindo se a Casa deve ou não existir;, aposta. Apesar do discurso, sua indicação enfrenta resistências internas.
O deputado eleito Chico Vigilante (PT) também defende uma reforma radical na estrutura da Câmara. Ele, inclusive, prepara um estudo para a discussão sobre os cargos comissionados da Casa. Com estilo de dizer o que pensa, sem papas na língua, Vigilante também tem dificuldades para conseguir aliados na disputa pela presidência. ;Não arredo o pé. Serei um incansável defensor de mudanças na Câmara Legislativa;, afirma.
Entre os novos distritais que chegam à Câmara há um sentimento de que o próximo presidente precisa ser alguém que não participou da legislatura atual. Dos 24 deputados eleitos, 14 não estavam na Casa durante a crise provocada pela Operação Caixa de Pandora. Se houver interesses comuns, os novatos poderão eleger alguém do grupo. Nesse sentido, cresce a força de Arlete Sampaio (PT), que já exerceu mandato na Câmara, mas passou os últimos quatro anos for a da Casa.
De olho na disputa, os deputados começam a formar blocos partidários. Um deles deve ser composto pelo PSB, PDT, PRB, PPS. Os distritais Joe Valle, Israel Batista, Evandro Garla, Alírio Neto e Claúdio Abrantes, que respectivamente, representam as legendas na Casa, já se uniram em torno do embate pela Mesa Diretora. Formam, assim, um grupo tão forte quanto a bancada do PT.
Colaborou Luísa Medeiros
Arrecadação
Reeleitos para novo mandato, os deputados Cristiano Araújo e Eliana Pedrosa apresentaram na prestação de contas maior volume de arrecadação e despesas na campanha. Cristiano gastou R$ 901 mil e Eliana, R$ 882,4 mil. As famílias dos dois distritais são proprietárias de empresas prestadoras de serviços ao GDF, nas áreas de vigilância, limpeza e conservação.