Jornal Correio Braziliense

Cidades

Passagens subterrâneas da Asa Norte têm trazido problemas para usuários

Além da sujeira que se agrava com as chuvas, há riscos de assalto no período da noite

As oito passagens subterrâneas que ligam as quadras ímpares e pares da Asa Norte deveriam ser uma opção segura para os pedestres que precisam atravessar o Eixo Rodoviário Norte, mas a realidade é bastante diferente: a travessia entre os eixos W e L é marcada pelo descaso, que pode ser visto nos buracos no chão, pichações, acúmulo de lixo e lâmpadas danificadas. A situação fica ainda mais difícil na época das chuvas, quando os canos de escoamento entopem e favorecem o acúmulo de água, deixando os pedestres com a escolha de enfrentar as poças fundas ou se aventurarem entre os carros que passam a 80 quilômetros por hora na pista.

Há duas semanas, Tânia Emediato, 58 anos, moradora da Asa Norte, espantou-se quando caminhava para o Clube da Vizinhança. A dona de casa percorreu metade da passagem subterrânea que sempre usa no trajeto para a aula de hidroginástica, mas foi obrigada a subir na grama e terminar a travessia sobre a pista ; o acesso à escada estava bloqueado pelo acúmulo de água causado pela chuva que caíra no dia anterior. Segundo Tânia, a saída de escoamento estava entupida por lixo, terra e plantas há alguns dias. ;Estava tudo tampado, está tudo sempre sujo e muito escuro;, criticou.

Após dois dias de ligações para diferentes órgãos, a dona de casa conseguiu transmitir a denúncia para o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), que desobstruiu as bocas de lobo, liberando a saída da água suja acumulada. ;Espero que ao menos assim saibam da reclamação do povo;, disse. Questionado sobre o episódio, Expedito Apolinário, superintendente de Orientação, Controle e Fiscalização do SLU, informou que a limpeza das passagens subterrâneas é realizada à noite, de segunda-feira a sábado. ;O problema é que, se ficamos um dia sem fazer o serviço, dá a impressão de que há semanas ele não é feito;, justificou, lembrando que moradores de rua costumam ocupar os locais.

;A população pode ajudar não jogando lixo, não pichando. Caso encontrem qualquer problema que seja da alçada do SLU, também podem ligar na ouvidoria e nos avisar;, pediu. Segundo Apolinário, ao menos um problema será amenizado em breve: o SLU planeja começar em duas semanas um mutirão para retirar as pichações dos azulejos das passagens subterrâneas.

Perigo
O aspecto de abandono é um convite ao descuido e ao crime, que se multiplica na escuridão das passarelas sem iluminação. Cristiane Fagundes da Costa, 33 anos, caixa, moradora de Samambaia, conta que já foi assaltada quando ia para o trabalho e, desde então, não confia na segurança do local. ;À noite eu nunca atravesso. Prefiro arriscar a vida na rua ou pagar outra passagem.;

Por sorte, no dia do incidente, ela não estava acompanhada da filha Anna Carolina, 7 anos, que sempre caminha com a mãe em direção ao colégio. O cuidado é redobrado quando a criança está presente. ;Eu sempre paro antes e vejo se tem alguém passando. Não desço se estiver vazio.; Segundo Anna Carolina, um dos maiores motivos para a apreensão é a falta de iluminação nas passagens subterrâneas. Ela aponta as lâmpadas danificadas que, em sua opinião, deveriam funcionar mesmo durante o dia. Mas a escuridão é apenas o problema mais aparente das passagens subterrâneas da Asa Norte: ela ainda esconde o piso rachado, a falta de grades de proteção nas bocas de lobo e as paredes danificadas.

Obras
Embora a situação seja urgente, segundo o diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Genésio Tolentino, a revitalização das passagens subterrâneas ainda deve demorar. O diretor explica que o departamento apresentou em 2009 um projeto para a reforma geral das 18 passarelas do Plano Piloto, mas a verba para a obra ainda não foi liberada. Seriam necessários R$ 20 milhões para a realização do projeto, cuja liberação está nas mãos da próxima gestão do DF. ;O próximo governo é que vai decidir. O que eu posso adiantar é que este ano não há recursos para executá-lo;, explica.

Entre as modificações previstas, estão uma nova pintura, a adaptação para a travessia de portadores de necessidades especiais e a instalação de novo piso, sinalização e iluminação mais resistente. O plano também conta com a construção de uma ciclovia ao lado do Eixo Rodoviário, obra que custaria mais R$ 10 milhões, totalizando uma verba de R$ 30 milhões, além da necessidade da autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do DF (Iphan) para a intervenção. O diretor do DER ainda estima que a obra deva levar cerca de oito meses para ser concluída, a contar do início dos trabalhos. Como nenhuma intervenção deve ser feita antes do término da época de chuvas, Gervásio Tolentino alerta: os pedestres provavelmente não poderão desfrutar das novas passagens antes de 2012. ;O provável é que a obra seja executada em dois anos. Mas vai depender justamente do próximo governo.;


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