Buscando a vitória nas eleições, Agnelo Queiroz (PT) fez diversas promessas à população nos últimos quatro meses. Muitas propostas foram ousadas e , agora,vão demandar esforço para serem colocadas em prática. Com a disputa nas urnas superada, o governador eleito precisará se voltar para os compromissos assumidos durante a campanha e enfrentar os problemas do Distrito Federal. No período de transição, que começa esta semana, haverá muitas tratativas para a composição do próximo governo, mas além das disputas políticas, também será definida a linha de condução da nova administração da capital.
Os desafios são muitos, já que Agnelo prometeu revolucionar Brasília. Para começar a tarefa, ele contará com um orçamento total previsto para 2011 de R$ 25,67 bilhões ; mas também com uma dívida de R$ 800 milhões, gerada pelo atual governo. Diante das diferentes mazelas que atingem a cidade, o petista escolheu enfrentar prioritariamente as da saúde. Médico-cirurgião, ele assumiu a responsabilidade e afirmou que será o secretário da pasta nos três meses iniciais da gestão. A proposta é reformular o sistema de saúde pública.
Na série de medidas que pretende tomar quando ocupar o cargo estão a construção de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em cada região administrativa e o investimento no programa Saúde em Casa. A ação deverá ser uma das vitrines do governo, com a perspectiva de contratação de 400 equipes formadas por médicos, enfermeiros e agentes de saúde. O primeiro exercício do governante será administrar a verba destinada para a área. O orçamento previsto para a saúde no próximo ano é de R$ 3,96 bilhões.
O professor José Matias-Pereira, especialista em administração pública da Universidade de Brasília (UnB), diz que as propostas de Agnelo para o setor são aplicáveis. Entretanto, a realização das ações dependerá de parcerias com o governo federal e com os estados vizinhos. Segundo ele, será fundamental a participação da presidente eleita, Dilma Rousseff, nas negociações para recuperar a saúde pública na capital da República e no Entorno. ;Observa-se que vem sendo muito cômodo para os governantes de Goiás e de Minas Gerais, nas últimas décadas, transferir os problemas e as demandas de suas populações para o GDF;, alerta Matias-Pereira.
Por sua vez, o cientista político João Paulo Peixoto acredita que o futuro governador assumiu um compromisso de alto risco ao prometer ser o secretário de Saúde. Para Peixoto, o problema da área é crônico e não há possibilidade de ser resolvido em 90 dias. Uma mudança radical exigirá o envolvimento de diversos atores. ;Não basta só a vontade política do governador. Em alguns casos, por exemplo, será preciso contar com o apoio dos deputados para alterar as leis vigentes;, explica. Uma mudança gradual vale para todas as áreas, como a educação. Agnelo prometeu usar 25% dos impostos na educação básica e na implantação das escolas integrais. ;O Brasil é atrasado nessa área, mas esse grau de investimento não será possível logo no início. Terá de ser incrementado a cada ano;, avalia o cientista político.
Pulso forte
No setor de transporte público, o ex-ministro do Esporte disse que fará mudanças já prometidas por governos anteriores, como a quebra do monopólio empresarial das empresas de ônibus, a redução das tarifas e a integração do sistema. ;Isso vai exigir mais do que boa intenção, uma vez que existem distorções e corrupção instaladas no DF que não irão ceder com facilidade;, avalia Matias-Pereira. Para o especialista em administração pública, será necessário pulso forte do governo, além do envolvimento da população nesse debate.
Agnelo pretende alterar ainda a estrutura de governo. O petista voltou ontem da viagem que fez com a família para descansar da campanha e prometeu anunciar hoje o nome do coordenador da transição. Nas próximas semanas, serão levantados os dados da atual administração para ajudar na formação da base e do plano de gestão. Nos bastidores, os partidos travam uma disputa por espaço. A negociação com as 14 legendas que trabalharam para a vitória é considerada um ponto importante para o sucesso do eleito.
Além de ter de contar com os partidos para formar uma bancada forte na Câmara Legislativa, Agnelo precisará fatiar o poder entre eles. O ex-ministro disse, após a eleição, que deseja formar um secretariado técnico e de ficha limpa, mas isso dependerá, também, da indicação dos líderes partidários. De toda forma, são previstas a criação de, pelo menos, quatro secretarias: da Transparência; da Juventude; das Mulheres; e das Micro e Pequenas Empresas.