Jornal Correio Braziliense

Cidades

Cidades brasileiras ganharão réplica do Catetinho

1; de novembro de 1956. Juscelino Kubitschek inaugura a primeira residência oficial de Brasília, futura capital do país. Nas acomodações simples da casa de madeira, construída às margens da BR-040 (Brasília/Belo Horizonte), o presidente assinou os primeiros documentos para ordenar o início das obras. Do Palácio das Tábuas ; como foi apelidado o local ;, o líder mineiro orientou engenheiros e coordenou trabalhadores na construção de seu sonho. Ao anoitecer, o médico-presidente costumava reunir-se com os operários. O Catetinho virava, então, palco para apresentações do violonista Dilermando Reis, que animava a noite daqueles que, longe da família, se sacrificavam em nome de um sonho. E, antes de o sol nascer, JK estava pronto para recomeçar as visitas às obras.

As finas paredes de madeira do Catetinho guardam muitas histórias. Um rápido passeio pelo museu remete imediatamente ao passado. ;Estar aqui é poder voltar no tempo;, descreveu a chanceler nacional da Soberana Ordem do Mérito do Empreendedor Juscelino Kubitschek, Jupyra Barbosa Ghedini. O privilégio de estar mais perto da rotina diária de um dos presidentes mais queridos do país será exportado para duas cidades brasileiras. Araxá, em Minas Gerais, e Americana, em São Paulo, vão dar início nos próximos meses à construção de obras de réplicas do Catetinho, projetado por Oscar Niemeyer, que saiu do papel com patrocínio de amigos de JK em apenas 10 dias para hospedar o presidente quando Brasília ainda era um canteiro de obras.

O anúncio oficial do projeto será feito na tarde da próxima na terça-feira, no próprio museu. Personalidades políticas e empresários são esperados para o evento. Presidente Soberano Grão Mestre das Ordens Honoríficas, o comendador Regino Barros estará presente no lançamento. A intenção do projeto, defendido pela Associação de Amigos do Catetinho, é disseminar as primeiras lembranças da história de Brasília em várias cidades do país. Para isso, a decoração dos quartos, das salas, da cozinha e do banheiro seguirá os mesmos padrões da construção que acaba de completar 54 anos. ;A princípio, haverá uma tentativa de encontrar móveis iguais;, esclarece a chanceler. Em Americana, o lançamento da pedra fundamental demarcando a área que abrigará o museu está previsto para dezembro. ;Vamos levar as réplicas para cidades que tenham alguma ligação com JK;, pretende.

Primeiro prédio da capital, o Catetinho sempre foi o preferido de Juscelino. Mesmo após uma série de inaugurações de obras, o mineiro se recusava a ficar hospedado no Brasília Palace Hotel, o primeiro da cidade, inaugurado em junho de 1958. JK preferia o Catetinho. O nome é uma referência com a então residência oficial do presidente, o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Em 1959, o Catetinho foi tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e foi transformado em museu. O espaço está aberto à visitação de terça-feira a domingo, das 9h às 17h. Telefone: 3338-8807

Memória
Abrigo de artistas
A primeira visita do presidente JK à região onde seria construída a capital mostrou aos integrantes da pequena comitiva que o acompanhava o tamanho do desafio que teriam pela frente para tornar real o que determinava a Lei n; 2. 874, que tratava da construção de Brasília e criava a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Em 2 de outubro de 1956, o DC-3 da Força Aérea Brasileira pousou em uma pista improvisada, aberta pelo vice-governador de Goiás, Bernardo Sayão, no local em que seria erguida a cidade. Em meio ao cerrado, que mais parecia um deserto, a Fazenda do Gama abrigava os únicos moradores da região.

O primeiro destino do grupo foi a área reservada à construção do Catetinho, localizado a cerca de 500 metros da fazenda. Felizes com a presença do presidente, os donos da propriedade convidaram Juscelino e a comitiva, formada por militares e técnicos do governo, para um café. Menos de 15 dias depois de sancionada a norma que determinava a construção da nova capital no Planalto Central brasileiro, em meio a porcos e galinhas, os homens de ternos alinhados puderam ter uma ideia do trabalho que os esperava.

Antes de voltar ao Rio, o presidente conheceu a nascente d;água que seria destinada a abastecer o Catetinho. A fonte serviria mais tarde de inspiração para a canção Água de beber, clássico da bossa nova composto por Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Em visita ao canteiro de obras da cidade, em 1959, a dupla escreveu letra e música depois de conhecer o pequeno riacho. Hospedados no palácio de madeira a convite do presidente, com a tarefa de compor uma sinfonia para a inauguração de Brasília, Tom e Vinicius, certa noite, após o jantar saíram para dar um volta nas proximidades do Catetinho quando ouviram o barulho da fonte. Perguntaram ao vigia do local de onde vinha o aquele som e o homem respondeu: ;ô camará, isso é água de beber que tem ali, camará;.