Jornal Correio Braziliense

Cidades

Moradores de condomínio em Ceilândia Norte se revoltam com montanha de lixo

Coleta só é feita às margens da principal via e SLU afirma que as ruas estreitas não comportam a passagem aos caminhões

Os moradores do Condomínio Pinheiros, localizado em Ceilândia Norte, estão inconformados com a sujeira que toma conta do parcelamento. Em quase todas as ruas é possível observar sacolas plásticas, restos de comida, objetos quebrados e até animais mortos. Com tanto lixo acumulado, a presença de ratos, urubus, moscas, baratas, entre outros animais, é constante. No lugar moram cerca de 20 mil famílias.

Mesmo com tantos habitantes, a coleta de lixo só é realizada uma vez ao dia e, para piorar, são recolhidas apenas as sacolas colocadas às margens da avenida principal do condomínio. Quem reside mais distante da única pista asfaltada no setor tem de andar mais de 20 minutos para conseguir fazer com que seu lixo seja levado pelos caminhões do Serviço de Limpeza Urbano (SLU).

É o caso do instalador de móveis André dos Santos, 26 anos. Sua casa fica na Chácara 101 e, para conseguir carregar todo o lixo da casa, ele usa a bicicleta e um carrinho de mão. ;O caminhão não passa na porta da minha casa, que fica bem distante da (pista) principal. Espero juntar uma boa quantidade de lixo, trago de carrinho de mão e peço pro meu filho levar o resto de bicicleta. Acho uma falta de respeito com a população não prestar um serviço básico como esse;, reclamou.

O comerciante Mauro Pinheiro dos Santos, 46 anos, também cobra que a coleta seja feita em todas as ruas. Ele tem um mercado que fica em frente ao ponto onde moradores e carroceiros despejam os dejetos. Segundo ele, o mau cheiro e a paisagem do lugar espantam os clientes. ;Quem você acha que vai querer comprar algum produto num lugar onde passa rato toda hora e o fedor é insuportável? O SLU passa só uma vez por semana e , às vezes, ainda falta. Quem paga o preço é a gente;, protestou.

Desrespeito
Na entrada do Condomínio Pinheiros, nem mesmo uma placa do Governo do Distrito Federal (GDF) advertindo o despejo de lixos é respeitada. Bem próximo aos dizeres ;Proibido jogar entulho. Infração grave = R$ 5 mil;, é possível encontrar cadeiras quebradas, pneus de bicicleta, garrafas plásticas, sobras de comida, restos de construções e muitos outros entulhos.

As estudantes Janaína de Lima e Elissandra de Oliveira, 12 e e14 anos, respectivamente, dizem que a coleta deficitária traz a reboque outros problemas que colocam em risco a vida dos moradores.

;Tem dia que a calçada fica tão cheia de lixo que a gente tem que andar no meio da rua. Esses dias, um menino foi atropelado porque não tinha espaço na calçada. Por sorte, ele escapou;, contou Janaína. ;Tem dia que preferimos ir para a escola por entre as ruas que não são asfaltadas, porque o fedor é menor;, complementou Elissandra.

Com tanta sujeira, quem lucra são os carroceiros, que cobram entre R$ 5 e R$ 10 para transportar o lixo da porta do morador até a avenida. ;Dá para tirar uns R$ 40 por dia. As pessoas não querem sair de casa e andar 1 quilômetro para jogar o lixo fora. É aí que nós ganhamos dinheiro;, comemora Laurindo Gomes da Silva, 38 anos.

O superintendente de Orientação e Controle de Limpeza Urbana do SLU, Expedito Apolinário da Silva, reconheceu o problema, mas ressaltou que o SLU só não executa o serviço dentro das quadras porque as ruas são estreitas, o que impede o acesso dos caminhões. ;Não é má vontade ou preguiça. O problema é que os caminhões não passam nas ruas. Se tiver alguma rua em que o motorista consiga manobrar o veículo, quero que os moradores me informem para que esse local seja incluído na rota;, disse Expedito.

Ele também dividiu a culpa pela sujeira no condomínio com os moradores. ;Todo morador sabe a que horas o caminhão passa. Então, não é aconselhável colocar o lixo na rua muito tempo antes, porque cachorros, cavalos e outros animais vão espalhar e sujar a cidade. Não adianta reclamar se a própria comunidade não faz sua parte;, frisou o superintendente do SLU.

Operação limpeza
Na última quinta-feira, o governador Rogério Rosso (PMDB) disse, após a reunião de transição do governo com o secretariado, que vai pedir ao SLU para redobrar os cuidados com a limpeza no período chuvoso. A mesma orientação será dada à Novacap, responsável pela desobstrução de bueiros na cidade. O objetivo, segundo Rosso, é evitar alagamentos, comuns no Distrito Federal quando chove forte.