Jornal Correio Braziliense

Cidades

Depois de dar mulher como morta, Hran admite erro em prontuário

Hospital Regional da Asa Norte admite erro no caso da paciente que, depois de passar por cirurgia, teve registrada no prontuário a informação "alta com óbito"

Um erro de digitação provocou o calvário da piauiense Maria do Amparo Teixeira, 52 anos, na rede pública de saúde do Distrito Federal. O Hospital Regional da Asa Norte (Hran) admitiu ontem falha nos registros da mulher dada como morta em prontuário expedido pela instituição. Em nota divulgada à tarde, a diretoria reconheceu o problema e garantiu que já o corrigiu. ;Após apurar os fatos, constatou o equívoco da alta hospitalar por óbito de Maria Amparo Teixeira;, informou o documento.

A nota esclarece ainda que o engano ocorreu no momento em que um servidor lançou os dados da alta hospitalar da paciente no sistema do Hran. O Correio apurou outro problema: o prontuário da liberação formal de Maria do Amparo após uma intervenção cirúrgica no local foi assinado por uma funcionária sem graduação em medicina. Ou seja: ela não estaria habilitada para oficializar a alta. Nenhum representante da diretoria do hospital nem o servidor envolvido na falha administrativa ou mesmo a funcionária que autorizou a alta quiseram dar entrevistas à reportagem.

Apesar de identificado o problema, o trauma provocado pela burocracia pública vai virar caso de Justiça. A doméstica aposentada processará o governo local por danos morais e materiais. A ação judicial em busca dos direitos de Maria do Amparo será encaminhada por meio da assessoria jurídica da Subsecretaria de Proteção às Vítimas de Violência (Pró-Vítima). ;Esse caso mostrou que é preciso tomar mais cuidado, pois uma falha dessas atrapalha demais a vida das pessoas;, afirmou a diretora executiva do Centro de Apoio Social do órgão assistencial, Maria Derminda da Silva Pereira.

Sem receita
Conforme o Correio publicou ontem com exclusividade, a moradora do Paranoá acabou envolvida em um drama que teve início em 23 de março deste ano. A mãe de três filhos passou por uma cirurgia na vesícula no Hran. O procedimento ocorreu com sucesso. A mulher ficou três dias internada e recebeu a liberação às 10h33 de 26 de março. Ao preencher o prontuário, no entanto, o empregado assinou o documento e escreveu ;alta com óbito;. Foi o suficiente para impedir Maria do Amparo de fazer consultas e exames e conseguir receitas de medicamentos.

A condição de morta diante das autoridades públicas interferiu no bem-estar da aposentada. Ela entrou em depressão ao não conseguir ser reconhecida como uma pessoa viva na rede pública de saúde. Para piorar, Maria do Amparo tem o organismo fragilizado. Precisa de cirurgias para a retirada de cistos no estômago, nos rins e no fígado. Sofre ainda de hérnia de disco. Os tratamentos para tudo isso ficaram emperrados por conta da falha no Hran. O desespero a fez tratar o caso como uma luta por ressurreição. A moradora do Paranoá encontrou ajuda na Pró-Vítima, órgão vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejus).

Ofício
Em setembro, Maria do Amparo conseguiu que uma servidora da Pró-Vítima a acompanhasse ao Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), onde a piauiense tentava atendimento médico. Foi essa funcionária que descobriu o erro no prontuário da paciente. Diante disso, a diretora Maria Derminda encaminhou um ofício para a direção do Hran em 18 de outubro ; em 30 de setembro, registrou ocorrência na 6; Delegacia de Polícia, no Paranoá. Ficou sem resposta até ontem, quando, por telefone, um servidor do Hran admitiu o problema e prometeu resolver a situação.

Para Maria do Amparo, a chance de solução do caso chega como um alívio. ;Estou muito feliz. Já chorei bastante, mas dessa vez de felicidade. Eu nunca quis prejudicar ninguém, mas também não quero ser prejudicada;, disse. Na próxima segunda-feira, a Pró-Vítima designará um servidor do órgão para acompanhar a aposentada em mais uma ida ao HBDF. Eles vão confirmar se a informação de óbito foi mesmo retirada do prontuário da piauiense. Se isso tiver ocorrer, Maria do Amparo estará livre para marcar consultas e cirurgias. Além de ter certeza de que está viva.

Solidariedade
A Subsecretaria de Proteção às Vítimas de Violência (Pró-Vítima) completou um ano de serviços à sociedade brasiliense em abril deste ano. Presta apoio psicológico, jurídico e social a vítimas e familiares de quem sofreu algum tipo de violência. Nesse período, foram contabilizados 955 atendimentos, 731 visitas domiciliares e 224 ações judiciais.

A NOTA NA ÍNTEGRA

Confira os esclarecimentos divulgados ontem à tarde pelo Hran:

;A Regional de Saúde da Asa Norte informa que, em 18 de outubro, foi notificada pela Diretoria Executiva do Centro de Apoio Social (Pró- Vítima) sobre o caso da paciente Maria do Amparo Teixeira e buscou esclarecimento.

Após apurar os fatos, constatou o equívoco da alta hospitalar por óbito de Maria Amparo Teixeira, lançado incorretamente por um servidor. Ciente dos fatos, a Direção Regional de Saúde da Asa Norte (DGSAN) imediatamente retificou o prontuário da paciente com as devidas correções.

Em 29 de outubro de 2010, a DGSAN encaminhou para a Pró-Vítima um ofício com esclarecimentos e informando a regularização.;

OPINIÃO DO INTERNAUTA

Leitores comentaram no site do Correio (www.correiobraziliense.com.br) a reportagem exclusiva sobre a história de Maria do Amparo Teixeira. Leia algumas opiniões:

Maxwilson Duarte
;Desrespeito, isso sim. Se fosse um filho do GDF, o caso já teria sido solucionado.;

Israel Alcântara
;Retrato da ineficiência do serviço público de saúde local.;

Sérgio Gonçalves
;Há coisas que, se a gente contar, ninguém acredita. Sugiro a dona Maria do Amparo contratar um bom advogado e pedir um polpudo ;danos morais; ao GDF.
Só assim erros como esse serão corrigidos mais rapidamente, sem criar mais transtornos ao cidadão de bem.;

André Rocha
;A diferença entre a senhora Maria do Amparo e os milhares de contribuintes que não conseguem atendimento na rede pública de saúde é o fato de os últimos ainda não terem seus atestados de óbito.;

Francisco Rocha
;A reportagem não cita a médica, não comenta se tentou ouvi-la. Não quiseram saber a versão dela para tal absurdo? E a direção do hospital, o que disse do ;novo; prontuário em branco que surgiu nos arquivos? É mesmo um descaso com a vida dos outros.;

Valdir de Castro
;Pois é, os hospitais públicos não atendem corretamente nem os ditos vivos ou fizeram isso para diminuir a fila de espera?;

Marcelo Gonzaga
;Se o sistema operacional utilizado pela Secretaria de Saúde do DF funcionasse, bastaria reverter a informação no prontuário. Não se sabe o que é pior: o servidor publico que marcou errado ou o sistema que não permite corrigir o erro.;

Adalberto Lima
;Mais uma falha de um servidor que deseja ter aumento de salário. Estamos de olho.;

Patrícia Monteiro
;É um absurdo! E por que não divulgam o nome do(a) profissional que cometeu esse erro? Será que corrigir é tão difícil assim? Será que o nome dela deixou de constar também nas contas de água, luz, IPTU, etc.? A situação é lamentável! Espero que ela consiga resolver esse problema o mais brevemente possível.;