Jornal Correio Braziliense

Cidades

Empresas citadas na Caixa de Pandora não doaram para as campanhas deste ano

[FOTO1]Levantamento na prestação de contas à Justiça dos senadores, dos deputados federais e distritais eleitos mostra que as novas caras da política no Distrito Federal fugiram das empresas investigadas pela Operação Caixa de Pandora. Pelo menos é o que consta das declarações formais dos políticos. Generosas em doações nas eleições anteriores, as prestadoras de serviço na área de informática, principal foco do inquérito em curso no Superior Tribunal de Justiça (STJ), ficaram longe das campanhas na capital do país para as Câmaras dos Deputados e Legislativa, e o Senado. Os dados relacionados aos dois concorrentes que disputaram o segundo turno no último domingo ainda não foram divulgados porque eles têm prazo até o próximo dia 30 para apresentar a arrecadação e os gastos no corpo a corpo atrás de votos.

Houve uma fuga de ambos os lados. Empresários citados na Caixa de Pandora temem ver mais uma vez o nome associado ao mundo político e os candidatos evitaram a companhia de quem está sob a lupa do Ministério Público e da Polícia Federal. O dono de uma das empresas investigadas desde a Operação Megabyte ; que também apurou esquema de desvios de recursos dos contratos de informática ; explica que o mercado agora tenta se afastar do contato explícito com autoridades públicas. Essas empresas sempre contribuíram tanto formalmente quanto por meio de caixa dois, com doações não contabilizadas. Em 2006, empresas como Linknet e Adler abasteceram as campanhas, segundo relato do ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa, que colaborou na Operação Caixa de Pandora como denunciante de esquemas de corrupção.

Beneficiados
Um dos principais beneficiados por doações da Linknet em 2006 foi o deputado Roberto Lucena (PR). Dos R$ 449,5 mil que arrecadou há quatro anos. Segundo declaração ao TSE, 90% vieram da empresa de informática do irmão Gilberto Lucena. Ele é um dos empresários que aparece em vídeo gravado por Durval reclamando o valor alto da propina que seria cobrada no governo Arruda para a liberação de pagamentos de serviços prestados, por meio de reconhecimento de dívidas. Nesta eleição, a Linknet não doou nada, segundo a declaração do distrital que não se reelegeu. Ele disse à Justiça que recebeu R$ 80,3 mil, ou seja, menos de 20% do que conseguiu no passado. O principal doador continua a ser o irmão. Gilberto Lucena presenteou-o com R$ 70 mil.

Nas contas dos demais postulantes ao Palácio do Buriti que já entregaram os dados também não há registro de contribuições das empresas sob suspeita da Operação Caixa de Pandora. Toninho do PSol declarou ter recebido R$ 58,5 mil para toda a campanha do primeiro turno, sendo um terço desse montante correspondente a uma doação do marqueteiro Dimas Thomas, responsável pelo programa eleitoral. Segundo a coordenação da campanha de Toninho, o publicitário, que depois mergulhou na campanha de Weslian Roriz (PSC) no segundo turno, não cobrou nada. Por isso, ele aparece como doador de R$ 20 mil. Eduardo Brandão (PV) declarou
R$ 193,8 mil (veja quadro).

Contribuições generosas
[FOTO2]Secretário de Transportes do governo Arruda, o deputado Alberto Fraga (DEM) aparece em quarto lugar no ranking das arrecadações dos candidatos ao Senado. Com uma receita declarada de R$ 444.565,37, ele ficou atrás de Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB), que se elegeram para o mandato de oito anos, e aplicaram, respectivamente, R$ 2.073.312 e R$ 1.312.712,78 na campanha. A ex-governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB) declarou
R$ 1.312.712,78 em doações. Seu maior contribuinte foi o primeiro suplente de sua chapa, o empresário Osório Adriano (DEM). Entre doações pessoais e do grupo Brasal, de propriedade de Adriano, Abadia conseguiu R$ 1 milhão (veja quadro). Segundo prestação de contas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Adriano fez ainda uma doação registrada para a sua própria campanha, no valor de R$ 200 mil.

No meio político, havia uma grande expectativa em torno da eleição de Abadia, pelo desempenho que ela teve na última eleição, quando ficou em segundo lugar na disputa pela reeleição. Tradicionalmente no Distrito Federal, quando estão em jogo duas vagas para o Senado, os candidatos vitoriosos sempre pertenceram a grupos rivais, devido à polarização política nos embates eleitorais. Por isso, o ex-governador Joaquim Roriz apostou tudo na vitória da tucana. Como o aliado, no entanto, Abadia passou grande parte da campanha tendo de se explicar sobre a impugnação de sua candidatura com base na Lei da Ficha Limpa, devido a uma condenação imposta em 2006 pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) por compra de votos. Terminou a disputa em quarto lugar e sem conseguir o registro.

;Fui escanteado;
Fraga, que ficou em terceiro lugar, se ressente. ;Fui escanteado. A coligação de Roriz não me ajudou. Apostou tudo na Abadia;, analisa. O maior colaborador da campanha de Fraga foi a Associação Nacional de Indústria de Armas e Munições que doou R$ 60 mil, correspondentes a 13% de toda a arrecadação declarada pelo deputado federal do DEM. O parlamentar sempre recebeu contribuições de indústrias de armamento. Em 2006, a Companhia Brasileira de Cartuchos doou R$ 112,5 mil. A Taurus deu R$ 170 mil do montante de R$ 430 mil. Fraga foi o líder da campanha contra o desarmamento, em 2005. O deputado lamenta a falta de ajuda de empreiteiros. ;Fui secretário de Transportes e a Mendes Júnior doou para o Cristovam;, critica. A empresa integra o consórcio responsável pela construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), um dos projetos do Programa Brasília Integrada. O pedetista que se reelegeu senador recebeu R$ 50 mil da empreiteira. (AMC)

Fique atento
  • Até as 11h40 de ontem, a Justiça Eleitoral já havia recebido e disponibilizado para consulta 15.792 prestações de contas finais dos candidatos, partidos políticos e comitês financeiros que concorreram no primeiro turno das eleições 2010.
  • O prazo para entrega da prestação de contas terminou ontem e o total de recebimento esperado era de 24.198 prestações. Os candidatos que disputaram o segundo turno podem entregar as contas até o próximo dia 30.
  • A divulgação da prestação de contas de candidatos, partidos políticos e comitês financeiros não é imediata, porque a Justiça Eleitoral precisa computar os dados. Os tribunais regionais, que recebem a prestação de contas de cargos disputados pelos estados, enviam as informações para o Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE), divulgado na página do TSE na internet.
  • Aqueles que concorreram aos cargos de deputado estadual/distrital, deputado federal, senador e governador prestam contas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do seu estado, bem como os candidatos a vice-governador e os respectivos comitês financeiros e diretórios estaduais dos partidos políticos que tiverem feito doações a campanhas. Os candidatos a presidente da República prestam contas ao TSE, assim como os candidatos a vice-presidente e os respectivos comitês financeiros e diretórios nacionais dos partidos.
  • A não prestação de contas impede a obtenção de certidão de quitação eleitoral no curso do mandato ao qual o candidato concorreu.