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Consumo de vinhos cresce no Distrito Federal e dá novo sabor aos negócios

No ranking nacional, o DF é o sétimo maior mercado consumidor do país. O mais recente estudo do Ibravin torna a capital um espaço com potencial de crescimento que chama a atenção de estabelecimentos especializados

O negócio de vinhos é uma fronteira a ser desbravada no comércio do Distrito Federal. Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) catalogam o DF como o sétimo maior mercado consumidor da bebida no país (veja Quadro), com venda de 1,64 litro per capita em 2008. Além disso, a alta renda e o elevado grau de instrução de boa parte da população local são pontos a favor de quem deseja trabalhar com a bebida. Atentas ao potencial do derivado do suco de uva, importadoras, distribuidoras e lojas para degustação e venda têm proliferado na capital federal nos últimos anos. Atualmente, Brasília e região comportam aproximadamente 30 marcas, entre lojas e importadoras que também mantêm pontos de venda para o cliente final. Entre 2009 e 2010, ocorreram quatro inaugurações de marcas, e uma franquia já existente abriu uma unidade.

;O mercado comporta crescimento. O público consumidor é exigente e tem conhecimento razoável do produto;, diz Antônio Duarte, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers em Brasília (ABS). Duarte cita dados levantados pela entidade representativa, segundo os quais os apreciadores de vinhos no DF são em sua maioria homens ; eles equivalem a cerca de 70% dos compradores ;, com renda média de R$ 6,5 mil, faixa etária próxima dos 40 anos. Apesar de Brasília ter entre seus moradores políticos, diplomatas e funcionários com salários elevados, o presidente da ABS local garante que a preferência nas lojas não é por rótulos mais caros. ;As aquisições ficam na faixa de R$ 25 a R$ 50. O cliente não é do tipo que compra a bebida mais dispendiosa descriteriosamente;, informa.

Com o gosto pelo vinho, que está se difundindo entre a população brasiliense, veio também o desejo de aprender sobre ele. Segundo a ABS, em Brasília, cursos oferecidos pela entidade já formaram mais de 3 mil enófilos ; o especialista ;amador;, que aprende a degustar a bebida ; só neste ano. Além disso, a ABS está em negociação com a Upis-Faculdades Integradas para a criação de um curso profissional, mais voltado para quem deseja trabalhar no mercado, que deve ter duração de dois anos. A previsão é de que a primeira turma esteja em sala de aula em janeiro de 2011.

Mercado
Das marcas à frente da venda de vinhos no Distrito Federal, 18 são lojas e 12 são importadoras com pontos de venda espalhados por Brasília e região. A grande maioria ; 24 de um total de 30 ; é legitimamente brasiliense. Uma delas é a Vintage Vinhos, franquia candanga que conquistou espaço em outras unidades da Federação.

Criada há 10 anos, a Vintage inaugurou na semana passada, no Iguatemi Shopping, sua sexta unidade em terras candangas e nona no país. A marca, que também está presente em São Paulo e São Luís (MA), espera faturar este ano cerca de 20% a mais que em 2009. Além de comercializar rótulos, a Vintage Vinhos oferece cursos de enofilia. Segundo a dona da franquia, Carolina Maia, é formada uma média de 2 mil alunos por ano.

Se a franquia comandada por Carolina é tradicional no mercado brasiliense, há quem esteja dando os primeiros passos agora. É o caso de Pedro Henrique de Melo, que há cinco meses acrescentou uma adega à sua charutaria na
QI 3 do Lago Sul, transformando-a de Estação Havana em Adega Havana. ;Sempre mantivemos um espaço para a degustação dos charutos, dos quais o mais conhecido é o Havana cubano. Como fumar charuto está muito ligado à bebida e os dois produtos interessam um tipo semelhante de público, vimos que existia essa liberdade de ter a adega;, relata Pedro.

De acordo com ele, o interesse dos clientes tem sido grande. ;Minha venda triplicou;, comemora. ;Tínhamos a opção só de consumo de doses de uísque, licor. Agora servimos vinho na loja e vendemos na garrafa;, acrescenta ele, que ensina sobre os melhores rótulos para degustar com os charutos. ;Em geral, o vinho que vai bem com eles é o mais encorpado.;

Dono da adega Bodega Austral, que funciona na 713 Norte, Alexandre Reis também trabalha com vinhos há pouco tempo: proprietário de restaurante há quatro anos, ingressou no ramo da bebida fermentada de uva há somente um ano. A fim de oferecer um diferencial aos clientes, decidiu trabalhar unicamente com rótulos de países da América do Sul. Argentina, Chile, Uruguai e Brasil compõem o estoque da loja. Outra decisão tomada por Reis foi oferecer somente vinhos artesanais, fabricados em vinícolas pequenas.

;Quis vender aquele artigo que o cliente não acha em supermercado;, explica o empresário, garantido que o negócio vem dando certo. ;Você sente que o brasiliense das classes A, B e C está começando a tomar vinho e realmente quer aprender. Eles (os consumidores) pedem indicações, perguntam com que comida podem harmonizar. É um mercado que promete;, acredita. Promete tanto que Alexandre Reis já tem engatilhado o projeto de uma nova loja na quadra 112 Norte, com proposta mais ampla do que a da primeira. ;A segunda loja terá vinhos europeus também, com destaque para os espanhóis, os franceses e os italianos;, conta.


UM PRODUTO DO ACASO
A origem do vinho remonta à antiguidade. Do ponto de vista histórico, é impossível precisar como e quando a bebida nasceu, pois índicios apontam que seu surgimento deu-se antes do advento da escrita. Os enólogos dizem que a bebida surgiu por acaso, talvez por um punhado de uvas amassadas esquecidas num recipiente, que sofreram posteriormente os efeitos da fermentação. Mas o cultivo das videiras para a produção do vinho só foi possível quando os povos nômades se tornaram sedentários. Existem referências que indicam a Geórgia como o local onde provavelmente se produziu vinho pela primeira vez, sendo que foram encontradas neste local resquícios de graínhas ; sementes de uva ; datadas entre 7.000 a.C. e 5.000 a.C.


Ranking

Relação dos estados com maior consumo de vinho*

1; - Rio Grande do Sul
3,97 litros per capita
2; - Rio de Janeiro
3,35 litros per capita
3; - Paraná
2,95 litros per capita
4; - Espírito Santo
2,72 litros per capita
5; - São Paulo
2,28 litros per capita
6;- Santa Catarina
1,8 litro per capita
7; - Distrito Federal
1,64 litro per capita
8; - Pernambuco
0,88 litro per capita
9; - Minas Gerais
0,83 litro per capita
10; - Sergipe
0,81 litro per capita

*Números do Instituto Brasileiro de Vinhos (Ibravin), relativos à comercialização em 2008