As obras da Estrada Parque Taguatinga-Guará (EPTG) serão liberadas aos brasilienses no próximo domingo sem muitas comemorações. Fruto de um investimento de R$ 306 milhões do Governo do Distrito Federal, as pistas ; algumas já danificadas com as intensas chuvas ; deveriam estar prontas para receber o volume de 160 mil carros que transitam nelas diariamente. A primeira etapa da Linha Verde, do Brasília Integrada, prevê a construção de cinco viadutos, além de 12,7km de malha viária na EPTG. Atrasado, o acabamento das passarelas, da sinalização, do abrigo e da arborização segue em processo de finalização para as próximas semanas. Quanto à construção de ciclovias, fica para quem vencer o segundo turno das eleições ao GDF.
A revitalização da Linha Verde provocou um caos para os motoristas nos últimos três anos. Desvios mal sinalizados, pouco iluminados e estreitos causaram engarrafamentos nunca antes vividos pelos condutores brasilienses. Além disso, o descaso nas vias fez pelo menos quatro vítimas. Em 3 de junho deste ano, Vanessa Coelho de Souza, 31 anos, teve morte cerebral diagnosticada após cair de carro em um buraco das obras. Dias depois, Lea Viana Costa, 17, morreu atropelada por um ônibus, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), na mesma via. No local, não havia parada. Os irmãos Marcos Vinícius de Sousa, 23, e Marielle Araújo de Sousa, 22, também não sobreviveram após o carro em que se encontravam capotar na EPTG.
Moradores de Taguatinga, Colônia Agrícola Samambaia, Vicente Pires, Park Way, Guará e Águas Claras seguiram meses prejudicados com a demora na reforma. O administrador de imóveis Rinaldo Rosa Nogueira, 43 anos, reclama que já perdeu horas no trânsito causado pelas obras. ;Os engarrafamentos nos trouxeram muitos incômodos;, recordou o morador de Águas Claras.
São 12,7km de extensão, 80 mil m3 de asfalto, sendo 77,2km de asfalto novo e 76,2 km recapeados, segundo a Secretaria de Transportes. As pistas contam ainda com uma faixa exclusiva de concreto, que deveria ser usada para os ônibus do Brasília Integrada. Porém, os coletivos existentes na capital ainda não possuem porta especial para funcionar nos corredores. Uma licitação estava prevista para a compra de 300 ônibus com portas que abririam na lateral esquerda, mas o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) suspendeu o processo até que fossem corrigidas algumas irregularidades. Segundo a Secretaria de Transportes, as alterações devem ser encaminhadas ao TCDF nos próximos dias.
Lamaçal
Dois dos viadutos da primeira etapa da Linha Verde seguem em construção. A Secretaria de Transportes garante concluí-los até domingo. Enquanto isso, as faixas de pedestres e de acesso continuam ativas. Dos três viadutos já liberados para a população, um apresenta falhas na estrutura. O primeiro deles, o Israel Pinheiro ; que dá acesso a Águas Claras ;, teve obras iniciadas em 30 de maio de 2007. À época, a intenção era finalizá-lo em quatro meses. Porém, um ano e dois meses se passaram até que a população pudesse usufruir da infraestrutura. Mas o atraso não foi o único problema. Mesmo possuindo drenagem pluvial, o acesso não suporta o volume de chuva que desce de Vicente Pires.
As águas que caíram na última terça-feira acabaram registradas pelo leitor Adriano Regis Macedo de Morais, 22, morador do Guará, vendedor em comércio nas proximidades do viaduto. Minutos após o temporal, o ponto virou um rio de lama. O comerciante saiu à rua e flagrou uma enxurrada barrenta escorrendo por Vicente Pires e empoçando o viaduto (ver QR code). Nas imagens, a faixa que deveria escoar a água se transforma em uma cascata. Nos arredores do Viaduto Israel Pinheiro, um buraco de 5m na calçada se rompe. Pedaços do passeio são arrastados e obstruídos com os destroços. Os estragos daquela tempestade ainda estão presentes pelas vias.
O borracheiro Carlos Alexandre Zacarias da Silva, 16 anos, assiste às cenas repetidamente a cada tempestade que cai sobre Brasília. ;As chuvas arrastam lixo, pregos e arame, que furam os pneus dos carros. A demanda na borracharia aumenta com os incidentes;, disse, referindo-se ao alagamento. Na última terça-feira, o administrador de imóveis Rinaldo Rosa Nogueira, 43, acabou surpreendido com os estragos. ;A pista marginal que dá acesso a Águas Claras virou um rio. Depois de 30 minutos sem sair do lugar, desisti de esperar naquele aguaceiro e voltei para EPTG. O próprio viaduto inviabiliza o acesso a Águas Claras. Prefiro aumentar 8km meu percurso a passar por esse tormento;, desabafou.
Brasília Integrada
A Linha Verde faz parte do projeto Brasília Integrada, do GDF, que visa à integração no transporte público ; entre metrô e ônibus. A ampliação da EPTG é a primeira de uma sequência de realizações. Na segunda parte da implantação, está prevista a construção de uma ciclovia, que, segundo a Secretaria de Transportes, ficará para o próximo governo.
A equipe
Na reta final das obras, cerca de 400 funcionários trabalham na EPTG. Eles se revezam das 5h às 22h, diariamente. Segundo a Secretaria de Transportes, o número varia de acordo com a etapa da obra. Nos últimos dias, uma força-tarefa está sendo realizada também devido às chuvas. Dados do DER-DF informam que cerca de 150 mil veículos passam pela via todos os dias.