O governador Rogério Rosso determinou, na noite desta terça-feira (19/10), que a Terracap suspenda a venda do lote de 20 mil metros quadrados na Avenida Araucárias, em Águas Claras. O local, inicialmente seria destinado à construção de um hospital, mas foi repassado ao patrimônio da Terracap para, posteriormente, ser licitado ao mercado imobiliário. Com 430 arranha-céus e mais de 100 mil habitantes, a cidade, criada há quase 20 anos, não tem nenhum centro de saúde, hospital ou escola pública.
Um dos últimos grandes terrenos vazios disponíveis na cidade, o lote seria licitado no próximo dia 26 pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), com o preço mínimo de R$ 30 milhões. A comunidade defende que a área seja destinada à construção de hospital ou posto de saúde.
Até 2008, a área pertencia à Secretaria de Saúde do Distrito Federal, que deveria usar o espaço para a construção de um hospital, centro de saúde ou unidade de pronto atendimento. Mas a lei 4.270/2008 repassou o lote ao patrimônio da Terracap, para ele ser posteriormente licitado ao mercado imobiliário. A secretaria alegou que o terreno não tinha as características necessárias para abrigar um empreendimento do setor da saúde, por conta do alto fluxo de pessoas e carros pelo local. A área permanece vazia até hoje, abriga apenas uma barraca de cachorro quente e um ponto de táxi.
Necessidade
O servidor público José Maurício de Souza, 45 anos, mora em Águas Claras há três anos e reclama da falta de equipamentos públicos na cidade. Ele mora com a mãe, que tem 82 anos, é hipertensa e diabética. "Sempre que precisamos de atendimento médico, temos que pegar o carro e ir até Taguatinga ou ao centro de saúde do Cruzeiro. É um absurdo uma cidade com mais de 100 mil pessoas não ter um local de atendimento para a população", reclama José Maurício. "Águas Claras está virando uma selva de pedras, com centenas de prédios, mas sem o Estado estar presente. Se tivéssemos um hospital ou posto de saúde, ele poderia beneficiar também a comunidade do Areal ou do Park Way, que também não têm", acrescenta o servidor público.
Memória
Criada no início da década de 90, Águas Claras foi apresentada aos brasilienses como a solução para o problema habitacional da classe média. Os primeiros prédios foram construídos por meio de cooperativas habitacionais, obedecendo ao potencial de financiamento dos chefes de família. A localização privilegiada, entre o Plano Piloto e Taguatinga, foi vendida como uma vantagem para os futuros moradores.
O metrô também virou diferencial para os imóveis de Águas Claras. As primeiras construtoras anunciavam a proximidade das estações e vendiam os apartamentos usando o apelo de um transporte rápido e econômico. O Parque Ecológico também foi e ainda é uma fonte de valorização para os imóveis. Na primeira década da cidade, os moradores reclamaram muito da falta de infraestrutura, já que o asfalto demorou a chegar. A valorização da área só começou a partir de 1995, quando o governo investiu em urbanização. Hoje, já existem 420 prédios concluídos.