A comida também obedece à moda, aprendem estudantes em cursos de gastronomia. Essa regra básica tem se feito mais do que visível em Brasília nos últimos anos. Acompanhando mercados que ditam tendências, como Rio de Janeiro e São Paulo, a capital federal tem espaço para empresas especializadas em quitutes que são os preferidos do momento. Entre 2007 e 2010, quase duas dezenas de temakerias abriram as portas no Distrito Federal. Dessas, hoje, pouco mais da metade sobrevive. Passada a febre dos cones de alga recheados, que têm origem oriental, agora é a vez das casas de frozen yogurt e das hamburguerias gourmet. Só de 2009 para cá, o mercado brasiliense passou a abrigar cerca de 10 unidades com a primeira especialidade, e cinco com a segunda. Aproveitar a onda de aceitação de um determinado produto pode ser o caminho para um negócio lucrativo. Entretanto, é preciso boa administração e investimento em qualidade para continuar no mercado após o primeiro entusiasmo do público, alertam especialistas.
Rafael e Frederico gostam de temaki: "O cone tem a vantagem de ser rápido e saudável", avalia Rafael
;De um lado é moda, sim. De outro, os bons vão ficar. Podemos tomar as temakerias como exemplo. Algumas foram embora, mas muitas continuam firmes e fortes;, afirma Sérgio Zulato, da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Distrito Federal (Abrasel-DF).
Para ele, a proliferação das casas de temaki e das especializadas em frozen yogurt sinaliza uma empatia da clientela com comida de preparação rápida, mas que nem por isso deixa de ser saudável. ;É uma opção diferente frente aos fast foods com alimentos gordurosos;, destaca Sérgio Zulato. Já os sanduíches gourmet, recheados com hamburguer feito de carnes especiais e até exóticas, incrementados com molhos selecionados, pertencem a um filão diferente. As casas que trabalham no ramo buscam público de maior poder aquisitivo e paladar exigente.
Cuidados
Seja qual for a opção de investimento, Zulato chama a atenção para alguns cuidados por parte de potenciais empresários. Aqueles que optarem por serem franqueados, ensina, devem estar atentos à reputação da marca no mercado e ao seu desempenho em outras localidades. ;A dica é optar por uma franquia consolidada;, diz. Já os que decidirem se aventurar no mercado por conta própria, devem buscar cursos de gerência e se informar ao máximo sobre o segmento que pretendem integrar. Em qualquer um dos casos, dar a devida importância à qualidade do produto é indispensável. ;Brasília tem um mercado muito competitivo e a brincadeira pode sair cara;, alerta o presidente da Abrasel-DF.
Marcos Cerqueira, professor do Departamento de Nutrição e Gastronomia da Universidade Católica de Brasília (UCB), também acredita que o diferencial para que um negócio no ramo da alimentação torne-se mais do que um modismo é a qualidade. ;Outros fatores, como o ponto e o atendimento, também influenciam;, diz.
De acordo com Cerqueira, a especialização da gastronomia é uma tendência mundial. Diante da vida corrida dos dias atuais, a demanda por lanches rápidos é igualmente um movimento do mercado da alimentação. Aliados à onda de adoção de hábitos saudáveis, esses dois fatores desencadearam fenômenos como as temakerias e as lojas de frozen yogurt. ;Alimentação não é um simples serviço, está ligado a arte, afetividade, sentimentos, e segue tendências. No próximo verão terá algo diferente, mas se alguém for bom pode permanecer;, diz.
O casal de servidores públicos Maria Inês Walter, 50 anos, e
Nelson Flores de Albuquerque, 51, conheceu o frozen yogurt no carnaval deste ano, em uma viagem ao Rio de Janeiro. Alguns meses depois, ficou feliz ao constatar que Brasília estava comercializando o alimento. ;É uma delícia, e uma proposta mais leve de lanche;, opina Maria Inês. As preferências dos estudantes Rafael Silva Ferraz Passos, 24 anos, e Frederico Rocha Ribeiro, 23, vão para o temaki. ;Hoje o mundo está exigindo comida rápida. O cone tem a vantagem de ser rápido e saudável;, diz Rafael.
Qualidade faz a diferença
Em dezembro de 2007, o empresário Marcelo Moura deu um tiro no escuro. Formado em advocacia, ele decidiu investir em uma casa de temakis quando os cones estavam começando a abrir espaço no mercado local. Optou por ser um dos franqueados de uma marca original de Brasília, pioneira na venda dos cones no DF e que havia aberto sua primeira loja em maio daquele ano. ;Fiz contatos e achei que era viável, interessante. Como não tinha experiência, achei que a franquia era o melhor caminho. É óbvio que o mercado não absorveria uma quantidade tão expressiva quanto a que houve no início. Acho que houve um processo natural de seleção;, comenta ele, que comanda uma loja no Sudoeste.
Outro proprietário de temakeria, Rafael Madeira, que tem formação em marketing, escolheu o risco de lançar uma marca própria. Sua loja abriu as portas em 2008 e funciona até hoje, no Shopping Píer 21. ;Pertencer a uma franquia dá força, mas optei por ter um controle maior da identidade e da qualidade do meu produto;, diz. Madeira
afirma ter recusado propostas para abrir filiais e criar uma franquia, justamente em nome da manutenção da qualidade. ;A gente tem que se firmar mais antes de dar esse passo;, acredita.
O empresário conta ainda ter inspirado sua loja em uma temakeria que conheceu na Paraíba. ;Eles tinham o diferencial de usar ingredientes brasileiros, e aquilo me atraiu. Deram uma consultoria de seis meses para nós e, hoje, fazemos nosso próprio cardápio;, relata ele, citando queijo coalho e batata-baroa como alguns itens especiais de seus temakis.
Direto dos EUA
Diógenes Fernandes apostou no frozen yogurt, que conhecia de viagens aos Estados Unidos, em novembro do ano passado. Tornou-se representante no Brasil de uma conhecida rede canadense. Escolheu a capital federal para a abertura da primeira loja, que funciona no Brasília Shopping. ;Atualmente, também estamos no Rio, São Paulo e mais 23 cidades;, conta ele. Fernandes orgulha-se do
fato de a marca ter fábrica no Brasil, sediada na capital paulista, e primar pela qualidade. Ele e outros empresários do país batalham para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleça critérios para que um produto seja considerado frozen yogurt. ;Muita gente faz um sorvete com sabor de iogurte à custa de pozinho artificial, adicionando leite e água, tentando vender gato por lebre. Nós realmente temos o iogurte como matéria-prima;, garante.
Amaro de Oliveira Paixão também optou por investir no ramo dos frozens. Ele abriu uma loja no Conjunto Nacional no fim do ano passado e deu tão certo que, na última semana, inaugurou uma filial no Taguatinga Shopping. A abertura de uma terceira unidade no Distrito Federal já é cogitada. ;Abri filial de uma casa carioca, não somos franquia. Essa moda migrou do Rio de Janeiro para cá. No mercado do Rio, marcas pequenas e até grandes desapareceram no mercado. Creio que o mesmo vai acontecer em Brasília. A cidade vai ficar saturada, e quem fizer por merecer vai continuar;.
OS TEMAS
Frozen yogurt
* O que é ; Na tradução ao pé da letra, significa iogurte congelado. É uma sobremesa tipo sorvete, mas que utiliza leites fermentados como principal matéria-prima. É menos calórica do que o sorvete tradicional e tem um sabor azedinho característico. Em geral, é vendida acompanhada de muitas opções de coberturas, que vão de frutas frescas e castanhas e pedacinhos de chocolate a gelatina.
* Preço médio ; R$ 7 a R$ 12. Depende do tamanho do pote: pequeno, grande ou médio
Temaki
* O que é ; A palavra significa enrolado à mão. Serve para descrever um cone de alga desidratada e crocante com recheio de arroz acompanhado de peixe, frutos do mar e tempero ao gosto do cliente. É o sanduíche japonês. Um temaki típico tem por volta de dez centímetros de comprimento.
* Preço médio ; R$ 10
Hamburguer gourmet
* O que é ; O sanduíche de hamburguer, difundido pelos alemães e que encontrou terreno fértil nos Estados Unidos, agora brilha em criações gourmets, recheadas com ingredientes diferenciados como picanha e camarão, e é preparado com técnicas precisas de cozimento.
* Preço médio ; R$ 25 a R$ 35 o sanduíche completo