Jornal Correio Braziliense

Cidades

Mortes causadas por bactéria em hospitais do DF abrem crise no governo

Depois de terem ido parar no noticiário nacional, casos de óbito por contaminação em hospitais do DF arranham imagem da secretária de Saúde, Fabíola Nunes de Aguiar, que teria pedido afastamento


A crise na saúde pública do Distrito Federal, agravada pela morte de 18 pessoas por infecção hospitalar, causa impactos também no comando da pasta. Diante dos problemas recentes, a secretária de Saúde, Fabíola Nunes Aguiar, ameaçou deixar o cargo. Ela se reuniu ontem com o governador Rogério Rosso, com uma carta de demissão em mãos. Mas foi convencida a ficar no posto para evitar complicações políticas ainda maiores.

Na última quinta-feira, Fabíola convocou a imprensa para dar explicações sobre as infecções pela bactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemanase (KPC)(1). De janeiro até agora, 111 pacientes da rede pública e particular já foram infectados e 18 pessoas morreram em decorrência da contaminação. Muitos doentes tiveram de ser transferidos, para evitar que a situação se agravasse. A maior preocupação com relação à bactéria é que ela tem alto poder de disseminação e é muito resistente a antibióticos. A situação da saúde de Brasília foi parar no noticiário nacional.

Ontem à tarde, o governador recebeu Fabíola, que estava decidida a sair do governo. Rogério Rosso argumentou que a medida só atrapalharia a busca por soluções e, por fim, convenceu a secretária a ficar. O governo, a princípio, negou a informação. Mas, depois, Fabíola Nunes confirmou a reunião. Ela disse que o motivo do encontro era a entrega de uma carta para informar o governador sobre seu afastamento temporário, de apenas quatro dias.

Justificou estar com uma gripe forte, mas disse que não pensou em abandonar o GDF. ;Estive com ele (Rosso) rapidamente e informei que eu ficaria afastada por quatro dias, porque estou doente. Registrei também que no meu lugar ficaria o (José Carlos) Quinaglia, nosso subsecretário. Entreguei uma carta, sim, mas foi somente para informar isso. Permaneço na secretaria;, assegurou Fabíola.

Apelos
A secretária classifica a informação como ;boato; e diz que a divulgação pode ter relações com a sua atuação na pasta. ;Isso pode ser coisa de gente lá de Santa Maria;, diz Fabíola, referindo-se ao hospital regional da cidade. Desde que assumiu a gestão, ela trava uma queda de braço com os gestores da unidade, cuja administração foi terceirizada ano passado. A Real Sociedade Espanhola é a responsável pela administração do hospital. O Correio apurou, no entanto, que Fabíola, de fato, tinha a intenção de sair do governo. Mas teria desistido diante dos apelos do governador. Rosso apoia a candidata Weslian Roriz ao GDF, e a saída da secretária aprofundaria a crise em meio ao período eleitoral.

Fabíola Nunes substituiu o ex-secretário Joaquim Barros Neto. Médica sanitarista e ex-diretora da Fiocruz Brasília, ela assumiu o posto em junho deste ano, depois que o antecessor caiu por conta dos problemas recorrentes de falta de remédios e de material hospitalar nas unidades públicas de saúde do DF. À época, o governador Rogério Rosso também anunciou a criação da Secretaria Extraordinária de Infraestrutura e Logística de Saúde, comandada até hoje por Hebert Teixeira Cavalcanti.

Transmissão por contato
A Klesiella pneumoniae carbapenemase é um tipo de bactéria com perfil de resistência que dificulta seu tratamento e pode causar pneumonia e infecções de corrente sanguínea e do trato urinário em pacientes em estado grave, como aqueles que necessitam de UTI. Fora do ambiente hospitalar, a bactéria não representa perigo. A forma de transmissão é basicamente por contato com secreção ou excreção de pacientes infectados ou colonizados. As medidas de higiene do ambiente e o uso do álcool a 70% são fundamentais para a contenção do surto.