As oportunidades de trabalho que surgiram na esteira da campanha política ajudaram a derrubar a taxa de desemprego no Distrito Federal em agosto. O índice medido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) recuou pelo terceiro mês consecutivo e atingiu 13,4%, contra 13,7% em julho. O percentual é o menor para o período desde 1992, início da série histórica. A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) foi divulgada ontem pela Secretaria de Trabalho.
Comércio e administração pública criaram 6 mil vagas no mês passado, enquanto serviços, indústria e outros setores fecharam a mesma quantidade de postos de trabalho. Como a construção civil manteve estável o número de oportunidades, a taxa de ocupação não variou no período. A queda no índice de desemprego ocorreu, no entanto, porque 5 mil pessoas deixaram o grupo da população economicamente ativa, reduzindo a pressão sobre o mercado.
Para analistas da PED, os empregos oferecidos pelos candidatos são os principais responsáveis pelo cenário observado em agosto, que deve se repetir em setembro. Cinco mil pessoas deixaram o grupo de desempregados no mês. Desses, estima-se que de 3 mil a 4 mil conseguiram uma oportunidade para panfletar, segurar bandeiras, vigiar placas ou participar de carreatas, por exemplo. A maioria ganha um salário mínimo ; R$ 510 ; por cada 30 dias de trabalho.
Provisório
Desde o início da campanha, Celmo Júnior, 31 anos, já ajudou quatro concorrentes na disputa deste ano, inclusive de partidos completamente contrários. Ele diz que detesta política, mas aceitou os empregos temporários por questão de sobrevivência. Há três anos, o carioca que se mudou para Brasília em busca de uma vida melhor procura uma chance com carteira assinada. ;Isso aqui não é para sempre, mas pelo menos dá pra pagar meu aluguel;, comenta.
Às 7h, depois de tomar o ônibus em Ceilândia, onde mora com a mulher, Júnior salta no Eixão, na altura da 205 Norte. Fica até as 13h de olho nas placas do candidato para quem trabalha. ;Não posso deixar elas (as placas) caírem nem os adversários rasgarem;, explica. Além de ser vigia de placas, Júnior distribui santinhos de outro postulante, mas deste não ganha nada. ;Ele prometeu me dar alguma coisa se for eleito. Vou ficar esperando;, conta.
Marília Saraiva, 42 anos, moradora de Sobradinho, perdeu o emprego de operadora de telemarketing há quase dois anos e, desde então, está à procura de uma oportunidade. No fim de agosto, começou a ajudar na campanha de um candidato adeputado distrital. Passa o dia panfletando para garantir um salário mínimo. ;Se ele (o candidato) não ganhar, vou ter que voltar a distribuir currículos por aí. Ainda bem que meu marido está fichado;, diz.
Em tese, os empregos criados pela corrida eleitoral duram poucos meses. São, em sua maioria, informais. De qualquer forma, avalia o secretário adjunto de Trabalho do DF, Gustavo Brum, fazem o dinheiro circular e movem a economia local. ;A campanha gerou renda para quem estava desempregado;, reforça. ;As eleições garantiram a estabilidade da taxa de ocupação em agosto;, completa o secretário da pasta, Takane Nascimento.
Diagnóstico
; A taxa de desemprego de 13,4%, em agosto, encosta na menor da história do Distrito Federal, registrada em dezembro de 1994: 13,2%.
; No último ano, o grupo de cidades que mais criou postos de trabalho (30 mil) foi o de baixa renda, que engloba Brazlândia, Ceilândia, Samambaia, Paranoá, São Sebastião, Santa Maria e Recanto das Emas.
; Em 12 meses, de 68 mil empregos gerados pelo setor privado no DF, 60 mil (cerca de 80%) foram com carteira assinada.
; Em julho ; último mês de referência ;, o rendimento médio real dos ocupados aumentou 1,3% em relação ao mês anterior e atingiu R$ 1.926, contra R$ 1,3 mil da média nacional.
; O tempo médio de procura por um trabalho recuou de 58 semanas, em julho de 2009, para 48 semanas no mesmo mês deste ano
; A taxa de desemprego média entre as sete regiões metropolitanas pesquisadas pelo Dieese caiu de 12,4%, em julho, para 11,9% em agosto. Belo Horizonte apresentou o menor índice (7,5%). O maior foi observado em Salvador (16,3%).