Durante a tarde, uma equipe da Divisão de Obras da Administração jogou cascalho e terra nas bocas de lobo para impedir o acesso dos moradores de rua. A medida é paliativa, já que uma tampa de concreto foi providenciada e deve ficar pronta até a próxima semana. No entanto, mesmo depois do serviço executado, alguns viciados, principalmente aqueles mais franzinos, conseguiram entrar nas bocas de lobo pelo pequeno espaço por onde as águas correm. Já em relação ao esqueleto do que seria um ginásio de esportes, o administrador de Ceilândia, Renato Santana, determinou a instalação de uma cerca de 200 metros, que será colocada sobre uma parede de tijolos de 40 centímetros de altura. O trabalho deve ser concluído em 20 dias. Depois, os restos da construção serão vigiados por um segurança 24 horas por dia.
Segundo o administrador, o esqueleto, que existe desde 1986, não pode ser demolido por força de uma ação judicial impetrada pela empreiteira responsável pela obra na época, que foi paralisada devido a problemas apontados na licitação. ;Queríamos demolir, mas não tem como por conta dessa ação. Providenciamos o cercamento de toda a área e a vigilância 24 horas para evitar que viciados e traficantes retornem;, frisou Renato Santana.
Os moradores de Ceilândia Norte comemoraram as iniciativas. Para o servidor público Rodrigo Nunes da Silva, 32 anos, que reside próximo ao Castelo de Grayskull, impedir o acesso dos moradores de rua ao lugar proporcionará mais segurança à comunidade. ;Já passou da hora de alguém tomar uma iniciativa. Ainda não é o ideal, pois o certo seria derrubar isso, mas já que não pode, pelo menos dificultando a entrada dos drogados vai diminuir a violência nas redondezas, pois ocorre que eles hoje roubam os moradores para sustentarem o vício;, disse.
Comerciante da QNN 3, uma mulher que preferiu não se identificar acredita que o tráfico deve migrar para outras quadras. ;Aqui é cheio de traficante porque existem todos esses viciados morando nesses bueiros. São eles os maiores clientes desses traficantes. Como não vão mais poder dormir no bueiro, devem ir para outra quadra e os traficantes vão atrás. Não resolve o problema, mas pelo menos aqui deve ficar um pouco mais tranquilo;, acredita.
Trabalho social
Ontem, enquanto acompanhava o trabalho dos policiais militares do 8; Batalhão (Ceilândia), o carro do Correio foi atingido por uma pedra atirada por um viciado em crack. Os PMs revistaram vários homens e mulheres suspeitos. Uma jovem carregava dois cachimbos usados para fumar crack, mas ela foi liberada, pois não estava com as pedras. Mais tarde, no mesmo local, os PMs apreenderam um quilo do entorpecente. ;Nosso trabalho aqui é enxugar gelo, pois mesmo quando encontramos drogas com eles não adianta prendê-los, já que são considerados viciados e não traficantes. É necessário um amplo trabalho, que envolva vários órgãos, pois isso aqui não se resolve apenas com polícia;, afirmou o cabo Moacir Pereira da Rocha, que participou da operação.
A chefe do Núcleo de Abordagem Social em Espaços Públicos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Trabalho (Sedest), Marcela Alcântara, afirmou que será oferecido às pessoas removidas dos bueiros e do Castelo de Grayskull tratamento contra a dependência química, mas ressalta que não é uma tarefa simples. ;Nosso trabalho é mais fácil quando o morador de rua não tem envolvimento com droga, pois a assistência só depende da gente. Agora quando entra a questão das drogas, é necessário o envolvimento de diversos segmentos, como educação, saúde, segurança e outros. A Sedest é a porta de entrada para que eles consigam deixar o vício, mas não podemos fazer nada sozinhos;, destacou.
Ela ressaltou, ainda, que a assistência é ainda mais difícil quando o dependente químico é menor de idade, pelo fato de não existir no Distrito Federal clínicas públicas especializadas em oferecer tratamento a crianças e a adolescentes. ;Quando é adulto, fica mais fácil, pois existem comunidades terapêuticas para atendê-los. Agora, quando se trata de uma criança ou adolescente, é necessário que a Vara de Infância e Juventude (VIJ) determine que o GDF custeie o tratamento numa clínica particular, isso depois de avaliar o caso;, complementou Marcela Alcântara.
1 - Drogas e criminalidade
A Secretaria de Segurança estima que quase 30% dos crimes registrados no Distrito Federal tenham relação com o tráfico e o uso de drogas. Hoje, a maior preocupação das autoridades de saúde e segurança é a expansão do crack. É cada vez mais comum ver crianças, jovens e adultos fumando pedras em plena luz do dia.
SEJUS CADASTRA ENTIDADES
; A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejus-DF) começa a receber, hoje, solicitações de entidades antidrogas públicas e privadas para fazer o registro de concessão ou renovação no cadastro de agentes antidrogas. Não há data para o término da inscrição. Todas as instituições devem ter o registro para serem reconhecidas publicamente na atividade de atenção às pessoas com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de qualquer droga. Com esse cadastro, as entidades podem receber recursos financeiros do Fundo Antidrogas do Distrito Federal (Funpad-DF). A documentação deve ser entregue na Subsecretaria de Políticas de Combate às Drogas (Subcad), localizada na QNG, Área Especial 1, Lote 22, Bloco III, Sala 2, em Taguatinga Norte. Além disso, é necessário entregar uma carta ao presidente do Conselho de Políticas sobre Drogas do DF (CONEN/DF), com a explicação dos motivos para o registro.
"Nosso trabalho aqui é enxugar gelo, pois mesmo quando encontramos drogas com eles (usuários) não adianta prendê-los, já que são considerados viciados e não traficantes. É necessário um amplo trabalho, que envolva vários órgãos, pois isso aqui não se resolve apenas com polícia"
Moacir Pereira da Rocha, cabo da Polícia Militar
Moacir Pereira da Rocha, cabo da Polícia Militar